Assim como na semana anterior, o fantasma do déficit fiscal segue assombrando os investidores no segmento doméstico, especialmente os estrangeiros que voltaram a retirar recursos, não só da Bovespa como também da renda fixa brasileira. Basta ver que a participação deles no total da dívida voltou a cair no mês de julho para somente 9,04%. Já na Bovespa, as estatísticas indicam saídas em 2020 acima de R$ 84 bilhões, quando em todo o ano de 2019 não passou de R$ 44,5 bilhões.
A semana é crucial para isso, já que está prevista a visita do ministro Paulo Guedes ao Congresso Nacional, sendo que uma boa parte dos senadores ficou ofendida com as declarações do ministro quando da derrubada do veto ao reajuste de salários dos servidores, e com a oposição (claro), achando pouco o auxílio emergêncial que seria de R$ 300, até o final do ano de 2020.
Há inda a entrega do PLOA (Projeto de Lei Orçamentária Anual), cujo governo dará uma coletiva para explicar ainda hoje, e que, em ano eleitoral, pode ser bastante criticada por parlamentares, apesar de aparentemente estar equacionada dentro da base de apoio de Bolsonaro. O temor com o déficit fiscal é concreto e os mercados acabaram sentindo na sessão de hoje, com Bovespa em queda e dólar e juros em altas.
Na Alemanha, a prévia de agosto mostrou deflação de 0,1%, quando o previsto era estabilidade. Já na China, o PBOC adotou novas taxas referenciais para o mercado financeiro e espera que os estrangeiros também sigam. Na Índia, o PIB do segundo trimestre do ano de 2020 registro contração de 23,9%, no pior desempenho dentre as maiores economias. O FMI anunciou que mobilizou US$ 30 bilhões para 75 países.
Nos EUA, também notícias que não ajudaram muito o desempenho dos mercados. O presidente do FED de Atlanta, Bostic, anunciou que na sua visão, a recuperação já está em curso, mas existem sinais de desaceleração. Acrescentou que o foco do FED é a estabilidade da economia. Já o vice-presidente Clarida, disse que limitar rendimento dos treasuries é complicado e que não vê juros negativos.
No mercado internacional, o petróleo que começou o dia com boa alta cedeu e trabalhava para o WTI em NY de 0,67%, com o barril cotado a US$ 42,68. O euro era transacionado em alta para US$ 1,194 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 0,70%. O ouro e a prata tinham altas na Comex de commodities agrícolas com altas na Bolsa de Chicago. O minério de ferro negociado na China ficou estável com a tonelada de US$ 124,47.
No segmento local, a pesquisa semanal Focus do Bacen veio novamente melhor. A inflação de 2020 subindo para 1,77% (anterior em 1,71%), PIB em queda menor de 5,28% (anterior em -5,46%), produção industrial na mesma direção com contração de 7,35% (de -7,68%), dólar subindo para 5,25 no final do ano e saldo comercial com superávit mantido em US$ 55 bilhões.
O Bacen anunciou um déficit primário de julho em R$ 81,07 bilhões, acumulando no ano déficit de R$ 483,8 em julho bilhões e em 12 meses 537,1 bilhões. O déficit nominal do setor público foi de R$ 86,9 bilhões e em 12 meses em R$ 875,3 bilhões, algo como 12,19% do PIB. A dívida bruta subiu para 86,5%, vindo de 85,5%. A Goldman Sachs projeta um déficit total em 13% do PIB.
O governo também começou a divulgar as premissas do PLOA de 2021. PIB com crescimento de 3,20%, Selic média de 2,13%, dólar médio em R$ 5,11, inflação de 3,24% e salário mínimo de R$ 1,067. No mercado, o dólar terminou o dia um pouco mais suave. No mercado acionário, a Bolsa de Frankfurt registrou queda de 0,67% e Paris com -1,11%. Madri e Milão com contração de respectivamente 2,29% e 1,01%. No mercado americano, o Dow Jones com -0,78% e Nasdaq com +0,68%%, novo recorde de pontuação. Na Bovespa, dia de queda de 2,72%% e índice em 99.369 pontos na mínima do dia e grande aceleração de queda no final do pregão. No ano, a Bovespa perde 14%.
Na agenda de amanhã teremos o PIB brasileiro no segundo trimestre, o IPC-S de agosto e o saldo da balança comercial. Nos EUA, os índices de atividade PMI e ISMI de agosto, os investimentos em construção e as vendas de veículos em agosto.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado