Ante o cenário de ampla acomodação monetária global, resta natural dúvida para qual a atuação do Banco Central do Brasil na próxima reunião do COPOM. Note-se aqui que a precificação em relação à reunião de março (i.e. as expectativas do mercado relativa ao próximo movimento, refletidas na precificação dos juros futuros) sofreu grande variação ao longo das últimas duas semanas. Deve-se dizer que a decisão atual não será lastreada nas expectativas de inflação. Ante o iminente cenário de crise em suas diferentes vertentes (saúde, economia, financeira, etc.) não há sentido em manter-se atrelado as expectativas de inflação, visto que elas estão sujeitas a incerteza significativa advinda justamente de nosso parco conhecimento sobre a evolução da crise. Resta evidente também que o impacto inicial da crise será de desaceleração econômica. Isto já pode ser verificado pelos dados divulgados das economias mais afetadas como a China e Europa.

O cenário para o COPOM mudou drasticamente desde a última reunião: o surto do COVID19 altera o ambiente externo e insere uma crise da economia real no Brasil. Ao mesmo tempo, o fiscal ficará comprometido com as (necessárias) medidas de estímulo e amparo que o governo terá de implementar em todas as esferas da união para atenuar os efeitos negativos da crise. O efeito final destes elementos é um aperto das condições financeiras junto a uma deterioração da situação fiscal. Soma-se ainda que o ambiente político está menos propenso ao avanço de reformas que são relevantes para um aumento de nosso produto potencial e redução da razão dívida/PIB.

Esta será a reunião mais difícil e, possivelmente, mais relevante do COPOM nos últimos anos. A casa mantém que a SELIC já está altamente estimulativa no patamar atual, mas que o cenário prescreve necessidade de mais cortes. Ainda assim, o fato de nossa moeda já estar pressionada junto a inerente cautela que Bancos Centrais de países emergentes devem tomar deveria direcionar o BC para atuação cautelosa.

Esperamos que a taxa seja reduzida de forma mais gradual do que tem sido precificado em alguns momentos destas últimas semanas. Ressalta-se que a situação é extremamente fluída, o que é comprovado pelos fortes movimentos nos mercados e os muitos movimentos extraordinários observados desde o começo do março em escala global. Assim, vemos 60% de chance de corte de 0.50% nesta reunião e comunicação mostrando intenção de manter a porta aberta para mais cortes.
Felipe Sichel
Estrategista do banco digital Modalmais
Fonte: https://www.modalmais.com.br/blog

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