Ontem foi o terceiro pregão seguido de queda da Bovespa, fundamentalmente por conta do noticiário político, mas tendo que absorver também a queda das vendas no varejo de dezembro de 6,1%.
A Bovespa terminou o dia com perda de 0,87% e índice em 118.435 pontos, enquanto indicadores do mercado americano cravaram novos recordes de pontuação.
Mas chega de notícias ruins. Ontem a Câmara aprovou o projeto de autonomia do Banco Central e, como previsto, rejeitou todos os destaques, e com isso segue para sanção presidencial. Os efeitos são claramente positivos para a política monetária e controle da inflação e vai na direção de reduzir o tal “custo Brasil”. Se bem existem muitos outros projetos e reformas mais importantes para serem discutido e votados, já que não víamos interferência na atividade do Bacen.
Hoje os mercados da Ásia encerraram o dia em alta, na véspera do feriado prolongado de uma semana na China. Europa começando o dia com comportamento misto, mas com viés negativo e futuros do mercado americano com valorizações nesse início de manhã. Aqui, fechamos muito próximos da zona de suporte em 118 mil pontos do Ibovespa, agregando risco, e deveríamos buscar a faixa de 120.500 pontos para garantir maior consistência. Vamos ter que esperar notícias positivas em dia de agenda fraca.
Nos EUA, o presidente Biden conversa hoje com Xi Jinping da China sobre comércio entre os dois países e pandemia, mas o foco americano segue sendo as discussões sobre pacote fiscal encruado, absolutamente necessário para reforçar a recuperação econômica. Na União Europeia, foi alterada a previsão do PIB de 2021 de +4,2% para +3,8%, sendo que no primeiro trimestre de 2021 devem ter recessão técnica, com contração de 0,9%. A inflação deve subir de 1,1% para 1,4%, mas o PIB de 2022 deve ser mais forte com +3,8%.
Hoje é dia de relatório de petróleo da OPEP, mas a AIE (Agência Internacional de Energia) já divulgou previsão de queda da demanda no primeiro trimestre de 1 milhão de barris/dia (BPD) e estimou demanda no ano de 96,4 milhões (BPD). O discurso de ontem do presidente do FED, Jerome Powell, foi mais suave, dizendo que o tamanho do balanço da instituição será aquele necessário para apoiar a economia, e com isso, derrubou as taxas de juros dos treasuries.
No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY aguarda relatório da OPEP, mas interrompeu sequência de oito sessões seguidas do óleo. Hoje estava operando com queda de 0,56%, com o barril cotado a US$ 58,35. O euro era transacionado em leve alta para US$ 1,213 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1.12%. O ouro e a prata tinham altas na Comex e commodities agrícolas com comportamento misto na Bolsa de Chicago.
Aqui, Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, descartou imposto temporário para bancar auxílio emergencial (Paulo Guedes também), mas Arthur Lira fala em excepcionalidade para o auxílio. Já as empresas de telefonia dizem que as obrigações de investimento na tecnologia 5G no edital da Anatel são excessivas e pedem maior transparência. Na economia, temos que considerar que as vendas no varejo colocaram viés de desaceleração para o PIB do quarto trimestre.
A agenda fraca do dia não tem capacidade de mexer com os mercados, mas teremos o IBGE anunciando o volume de serviços prestados em dezembro que vem fraco também. Portanto, vamos ficar ao sabor do noticiário local e internacional.
Previsão de Bovespa tentando alguma recuperação (mas Europa inibe um pouco), dólar fraco e juros em queda.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado