O dia começou bem nos mercados de risco, tanto no plano internacional como local, influenciado por dados de conjuntura na China, comentados em nossa abertura de hoje. Porém, logo cedo, o presidente Bolsonaro fez declarações contundentes sobre proposta da equipe econômica para congelar o salário mínimo por dois anos e aposentadoria, abrindo brecha para o programa Renda Brasil.
Bolsonaro chamou o ministro Paulo Guedes ao Palácio e, de sua mesa de trabalho, gravou vídeo para redes sociais, ameaçando cartão vermelho para membros da equipe de Guedes e cancelando o Renda Brasil até o final de seu mandato. Paulo Gudes disse estar presente durante a gravação desse vídeo, mas certamente trouxe novo ruído para a equipe econômica. Resultado disso, os mercados domésticos imediatamente abortaram a tendência positiva, passando ao campo negativo e, depois, oscilando ao redor da estabilidade por bom tempo.
Enquanto isso, mercados no exterior seguiram o curso original, mantendo boas altas. Para tanto, tivemos a divulgação do índice de atividade do FED de NY de setembro, em alta forte para 17 pontos, saindo de 3,7 pontos no mês anterior, enquanto a previsão era que ficasse em 7,0 pontos. A produção industrial americana, em agosto, expandiu 0,4%, mas a previsão era alta de 1,0%. A taxa de ocupação da indústria ficou em 71,4%. Ainda nos EUA, a pesquisa de intenção de voto na Carolina do Norte, Estado decisivo nas eleições, deu empate entre Trump e Biden, o que deve aumentar o ruído entre os candidatos, até o debate de 29/09, e seguindo até as eleições de 03/11.
Ainda nos EUA, o governo retirou a tarifa de 10% imposta ao Canadá para o alumínio, depois da reação do país. Também criticou a OMC-Organização Mundial do Comércio, por julgar ilegal a aplicação de tarifa contra a China em produtos. Mike Pompeo, secretário de Trump, disse que o mundo acordou para a ameaça da China e que aliados terão tecnologia 5G alternativa e eficiente. Já a presidente da Câmara Nancy Pelosi, disse que vai seguir em sessão plenária até que pacote fiscal de estímulo seja aprovado.
Novas projeções de PIB da China dão conta da possibilidade de crescer em 2020 1,8%, e 7,7% em 2021. A Fitch, uma das três maiores agências de classificação de risco do mundo, declarou que a América Latina terá desafios significantes na consolidação fiscal. O Brasil é exemplo disso.
No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava valorização de 3,14%, com o barril cotado a US$ 38,43, basicamente por efeito do furacão Sally na costa do Golfo do México. O euro era transacionado em leve queda para US$ 1,185, e notes americanos, de 10 anos, com taxa de juros de 0,67%. O ouro praticamente estável e a prata em alta na Comex, enquanto as commodities agrícolas majoritariamente apresentaram quedas na bolsa de Chicago. O minério de ferro teve dia de queda de 1,27% na China, com a tonelada em US$ 128,52.
No segmento local, a FGV anunciou a confiança empresarial de setembro em alta de 0,8 pontos, para 95,3 e o IBGE computou que 277 mil empresas reduziram o número de empregados, sendo que 52,6% demitiram até 25% do pessoal. No plano político, tivemos a postura do presidente já comentada, se dizendo surpreendido com as manchetes de jornais, mas essa situação já era comentada desde o final de semana, inclusive com posicionamento favorável do presidente da Câmara.
No mercado, o dólar terminou o dia com +0,11% e cotado a R$ 5,283. Na Bovespa, na sessão de 11/09, os investidores estrangeiros voltaram a sacar recursos no montante de R$ 159,9 milhões, deixando o saldo do mês de setembro negativo em R$ 1,22 bilhão e no ano de 2020 com saídas líquidas de R$ 86,6 bilhões.
No exterior, dia de alta de 1,32% da bolsa de Londres, Paris com +0,32% e Frankfurt com +0,18%. Madri e Milão com valorizações de respectivamente 1,22% e 0,82%. No mercado americano, o Dow Jones com +0,01% e Nasdaq com +1,21%. Na Bovespa, índice com +0,02% e no patamar de 100297 pontos. Destaque positivo para Vale e siderúrgicas.
Na agenda de amanhã, teremos o IPC-S da segunda quadrissemana de setembro e o IGP-10 de setembro, além do fluxo cambial da semana anterior. Nos EUA, as vendas no varejo de agosto e estoques nas empresas em julho. Contudo, o mais importante será a decisão do Copom e do FED sobre política monetária, seguido da coletiva de Jerome Powell. Não é esperada nenhuma mudança nos juros, mas será importante ouvir sobre meta de inflação nos EUA e postura do Bacen por aqui.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado