Bottom line:
• A ata da 247ª reunião do COPOM reforça a perspectiva da necessidade de uma elevação adicional da taxa SELIC na reunião de agosto e indica a manutenção da taxa básica de juros em patamar consideravelmente contracionista durante longo período de tempo.
• Matemos nosso cenário para a taxa SELIC inalterada, com mais uma elevação de 50 pontos base em agosto e posterior manutenção do juro neste patamar até o segundo semestre do ano que vem.
Comentário:
A ata da 247ª reunião do COPOM reforça a perspectiva da necessidade de uma elevação adicional da taxa SELIC na reunião de agosto e indica a manutenção da taxa básica de juros em patamar consideravelmente contracionista durante longo período de tempo. O documento é hawk vis-à-vis o comunicado de semana passada.
Em nossa leitura, destaca-se principalmente a informação contida entre o parágrafo 15 ao parágrafo 18. A deterioração nos determinantes de inflação de curto e longo prazo foi explicitada pelo Comitê e corrobora as projeções em nosso cenário.
Evidencia-se especificamente no parágrafo 16 que “a estratégia de convergência para o redor da meta exige uma taxa de juros mais contracionista do que o utilizado no cenário de referência por todo o horizonte relevante.” Note-se que, no cenário de referência, a Selic estava em 13,25% para 2022 e 10,0% para 2023.
Assim, acreditamos que o COPOM sinaliza de forma mais evidente que não há intenção de se reverter no curto prazo a dose de aperto monetário implementado. Portanto, ganha em probabilidade nosso cenário alternativo de que a taxa de juros possa permanecer no patamar de 13,75% até o segundo semestre do ano que vem.
Em relação a outros pontos da ata, destacamos: (i) a leitura sobre os riscos internacionais pelo COPOM; (ii) a manutenção presente no comunicado da avaliação sobre as medidas fiscais para controlar a inflação em tramitação; e (iii) a percepção de que a revisão e a surpresa positiva do crescimento da atividade estão ligadas ao processo de normalização da economia e ao estímulo fiscal transitório no primeiro trimestre.
Sobre o cenário global, em especial, o Comitê avalia que os desenvolvimentos decorrentes dos problemas nas cadeias globais de produção e da guerra na Ucrânia podem ser sentidos no longo prazo e ter impactos inflacionários prolongados no mercado de bens (“regionalização da cadeia de suprimentos”).
Por outro lado, o COPOM já antecipa uma desaceleração global em função das tensões geopolíticas e do aperto das condições monetárias e financeiras em diversas economias. Esses fatores podem reverter, mesmo que parcialmente, a trajetória das commodities em moeda local.
Em nossa leitura, o COPOM reforça a piora na dinâmica inflacionária e nos riscos reconhecidos no comunicado. Matemos nosso cenário para a taxa SELIC inalterada, com mais uma elevação de 50 pontos base em agosto e posterior manutenção do juro neste patamar até o segundo semestre do ano que vem.
Felipe Sichel
Sócio e economista-chefe do Modal