Hoje o dia foi completamente diferente de ontem. Ontem começamos o dia raivosos, suavizando mais tarde. Hoje começamos com sinalizações positivas que foram se transformando em negativas. Resultado: ontem conseguimos recuperação na parte da tarde e fechando em alta, e hoje, a queda foi se aprofundando ao longo dia. Só uma situação foi igual. O dólar seguiu sendo pressionado e desde cedo exigiu a intervenção do banco central fazendo operações adicionais de swap cambial e sem muito sucesso, com juros em comportamento de alta.

No exterior, o Reino Unido anunciou novas medidas para conter os efeitos na economia, com mudanças na estrutura dos impostos, mas mais suave que o esperado, e a libra registrou boa alta em relação ao dólar. As estimativas são de que o PIB de 2021 possa expandir 4% em 2021 e 7,3% em 2022, com o desemprego atingindo pico em 6,5%. Também comunicaram a criação de um banco de infraestrutura com capital inicial de 20 bilhões de libras.

Nos EUA, a pesquisa ADP do mês de fevereiro sobre criação de emprego no setor privado, que antecede ao Payroll que sai na sexta-feira, mostrou criação de vagas em 117 mil, quando o esperado era 225 mil vagas. Lá, o PMI da atividade de serviços de fevereiro subiu para 59,8 pontos, no maior patamar desde 2014 e o composto em alta para 59,5 pontos. O ISM da atividade de serviços de Chicago é que caiu para 55,3 pontos, mas acima dos 50 pontos, mostrando expansão da atividade.

Também tivemos a fala de vários dirigentes regionais do FED, preocupados com a melhora do emprego, e sem preocupações com a expansão da inflação no curto prazo. Charles Evans, do FED de Chicago, projetou que a inflação pode até bater em determinado momento 3%, mas o que vale é identificar se será meramente transitória. Disse que a política monetária será mantida até que a meta de emprego seja atingida, lá pelos 5% de desemprego. Dados do Livro Bege, síntese da economia, mostraram melhores expectativas, alguma desorganização setorial, empresários mais otimistas com o futuro, mas o emprego segue lento.  

Segundo a OCDE, a inflação pelos preços ao consumidor de seus membros (CPI) em janeiro foi de 1,5%. Mas todos os dirigentes, sem exceção versaram sobre as incertezas que rondam o ano de 2021, por conta do covid-19 e novas cepas do vírus. No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava forte alta de 2,48%, com o barril cotado a 61,23, mesmo com os estoques americanos crescendo 21,6 milhões de barris, mas com a gasolina também encolhendo forte. O euro era transacionado em queda e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,39%. O ouro e a prata com quedas na Comex e commodities agrícolas com viés leve de queda. O minério de ferro negociado em Qingdao na China se aproximou do recorde, com a tonelada cotada em US$ 176,40, em alta de 0,48%

No segmento doméstico, dia de divulgação do PIB de 2020 com queda de 4,1%, a maior queda da série. Porém, o PIB do quarto trimestre expandiu 3,2%, e contra igual período de 2019, com contração de 1,1%. No quarto trimestre, o PIB industrial encolheu 3,5%, o agropecuário cresceu 2% e o de serviços com contração de 4,5%. No ano passado, a formação bruta de capital fixo (FBCF) encolheu 0,8%, o consumo das famílias encolheu 5,5% e o de governo com -4,7%. A taxa de investimento foi de 16,4% e a de poupança em 15%.

Os números do quarto trimestre vieram acima do esperado, mas é como olhar pelo retrovisor. As expectativas para 2021 não mudaram muito e até ficaram mais tensas, pelas indefinições e as projeções que indicam expansão em 2021 pouco acima de 3%, a maior parte em função do carregamento estatístico do ano passado.

Mas o que segue preocupando os investidores e forçou o mercado como descrito, foram as indefinições sobre auxílio emergencial que estão sendo discutidas no Congresso, sem contrapartida de cortes de gastos e eventualmente com contrapartidas em emendas parlamentares. Isso provocou uma corrida da equipe econômica para tentar manter o projeto o mais próximo do original e foram motivos de exposição dura do secretário do Tesouro atual e também do ex-secretário.

Os investidores seguem aguardando o desenlace, e pelo sim ou não, foram para vendas de ações e compras de dólar. Ainda tivemos a saída de conselheiros da Petrobras que trouxe novo estresse para a companhia e a fala do presidente sobre a empresa e seu entendimento do segmento de petróleo. Difícil, não é?

No mercado, dia de dólar revertendo a forte alta no final do dia por conta da notícia de respeito ao teto e vacinas, encerrando com -0,03% e fechando cotado a R$ 5,66, com DIs em tendência de alta.

No mercado acionário, a Bolsa de Londres encerrou com alta de 0,93%, Paris com +0,35% e Frankfurt com +0,29%. Madri e Milão novamente na contramão, com quedas de respectivamente 0,32% e 0,16. No mercado americano, dia de sinais mistos. O Dow Jones terminou com -0,38% e Nasdaq com -2,70. Na Bovespa, queda de 0,32% e índice em 111.183 pontos. Entre máxima e mínima foram quase 5 mil pontos.

Na agenda de amanhã, indicadores da indústria de janeiro pela CNI, na zona do euro as vendas no varejo de janeiro e, nos EUA, dados da produtividade do trabalho e correlatos, os pedidos de auxílio-desemprego da semana anterior e as encomendas à indústria de janeiro.

Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

Publicidade

Onde investir neste fim de ano?

Veja as recomendações de diversos analistas em um só lugar.