Ontem foi dia de alta tensão na Bovespa e também no dólar no mercado local, principalmente depois da reunião de líderes com o presidente Bolsonaro, não havendo acordo sobre a nova CPMF sobre transações digitais e com as informações sobre origem dos recursos para o Programa Renda Cidadã, provenientes do Fundeb (está fora do teto de gastos) e precatórios (que um dia terá de ser pago). Os agentes do mercado e economistas consideraram como uma “pedalada” do governo, nos moldes de Dilma, e contando ainda com a presença do ministro Paulo Guedes na reunião.
Os mercados reagiram com a Bovespa fechando em queda de 2,41% e índice em 94.666 pontos e o dólar chegou a ser negociado em R$ 5,67, para fechar em alta de 1,36% e cotado a R$ 5,636. Enquanto isso, as Bolsas europeias fecharam em forte alta e o mercado americano também. Ou seja, andamos direto na contramão.
Hoje, Bolsas da Ásia encerraram o dia em leve tom positivo, mercados da Europa trabalhando no campo negativo, mas já reagindo e futuros do mercado americano com comportamento misto. Aqui, podemos perder aquele patamar que vínhamos alertando como importante ser mantido em 94 mil pontos, já que o indicativo de ontem do governo foi muito ruim. Ricardo Barros (deputado federal) tentou consertar ouvido instituições pela Internet, mas pode ter piorado um pouco a situação.
Hoje, na Alemanha, o governo anunciou que considera ampliar medidas restritivas de contato social por conta da expansão da covid-19. Na zona do euro, o índice de confiança do consumidor melhorou para -13,9 pontos, de anterior em -14,9 pontos e o índice de sentimento econômico subiu para 91,1 pontos, de anterior em 89 pontos. Hoje também é o dia do primeiro debate entre Joe Biden e Donald Trump, o que deve provocar muitos ruídos a partir das 22 horas no horário de Brasília.
Ainda nos EUA, a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, divulgou a proposta dos Democratas para o pacote fiscal no montante de US$ 2,2 trilhões, depois de o Senado ter rejeitado o pacote anterior de US$ 3,4 trilhões. No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava queda de 0,47%, com o barril cotado a US$ 40,41. O euro era transacionado em alta para US$ 1,168 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 0,65%. O ouro e a prata operavam com altas na Comex e commodities agrícolas em quedas na Bolsa de Chicago. O minério de ferro negociado na China teve mais um dia de alta de 1,26%, com a tonelada fechando em US$ 117,61.
No segmento doméstico, os investidores devem seguir reverberando as declarações de ontem do governo e a postura de fiador do ministro Paulo Guedes. O governo também faz hoje leilão de NTN-B para vencimentos diversos e até 2055 (referenciado em IPCA), e isso pode ser um bom teste da participação dos agentes.
Na agenda do dia teremos logo cedo a divulgação do IGP-M de setembro, o IPP — Preço do Produtor e dados do CAGED (Cadastro Geral de Emprego e Desemprego) de agosto. Nos EUA, os estoques no atacado, vários discursos de dirigentes do FED e, claro, o debate de candidatos.
Expectativa para o dia é de Bovespa começando fraca, câmbio ainda pressionado apesar de mais fraco no exterior e juros olhando para o IGP-M e leilão.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado