Ontem, os mercados que ainda estavam abertos na parte da tarde sofreram com o tumulto e ataque à democracia, com a invasão do Capitólio nos EUA e inação de Trump em conter a massa trumpista. Durante a madrugada, o Congresso americano finalmente certificou Biden e Kamala e os investidores amanheceram mais felizes. Resultado: mercados acionários em alta em todo o mundo e dólar mais forte no mercado internacional.
Ao longo do dia foram sendo anunciados dados de conjuntura positivos e negativos, mas o que fez mesmo preço para os ativos foi a “onda azul” democrata com dois senadores na Georgia e uma certa volta ao padrão normal, com Trump bloqueado em algumas redes sociais, especialmente o Twitter. Além disso, claro, a vacinação em massa de populações que está começando e que deve controlar melhor a pandemia ao longo do primeiro semestre de 2021.
Aliás, esse foi o tom dado por vários dirigentes regionais do FED ao longo de todo o dia. Harker, do FED de Filadélfia, espera crescimento modesto da economia no quarto trimestre e queda no primeiro trimestre de 2021, mas depois recuperação. Diz que o vírus comandará a trajetória da economia, com setores ainda desequilibrados. Já Bullard. do FED de St. Louis, acredita que vacinas vão enfraquecer a pandemia e que é preciso ter disciplina no estímulo fiscal para chegar em quem precisa.
Ainda nos EUA, o líder dos Democratas, Schumer, declarou que Trump deve ser retirado da presidência dos EUA de imediato, fazendo coro com Nancy Pelosi. A gigante Goldman Sachs melhorou sua projeção de PIB dos EUA para 6,4%, de anterior em 5,9%. Mas os indicadores não foram tão bons. O saldo da balança comercial de novembro mostrou déficit de US$ 68,1 bilhões, quando o esperado era US$ 67,3 bilhões. Os pedidos de auxílio desemprego é que encolheram 3.000 posições, para 787 mil, enquanto a previsão era de 815 mil. Já os pedidos de auxílio continuados encolheram 126.000, para 5,07 milhões. Mas, dirigentes do FED acreditam haver espaço para queda do desemprego nos próximos meses.
O ISM de serviços de dezembro subiu para 57,2 pontos, de previsão de ficar em 55,0 pontos. O tesouro americano lançou hoje programa de US$ 25 bilhões para ajuda em aluguéis. Função disso, todos os principais indicadores do mercado acionário americano bateram recordes durante a sessão, juntamente com a nossa Bovespa.
No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY também teve dia de nova alta de 0,67%, com o barril cotado a US$ 50,97. O euro era transacionado em queda para US$ 1,227 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,08%. A curva de juros deslocou para cima nos últimos dias. O ouro e a prata em dia de alta na Comex e commodities agrícolas com comportamento misto na Bolsa de Chicago. O minério de ferro, negociado na China, com nova alta de 1,76% e a tonelada em US$ 171,69.
No segmento doméstico, Bolsonaro declarou que se não houver voto impresso nas eleições de 2022, o problema por aqui será ainda pior, em referência ao ocorrido ontem nos EUA. Rodrigo Maia disse que Bolsonaro é um jogador que não admite derrota e faz ameaças com dois anos de antecedência. Bolsonaro disse ainda que o Brasil terá 200 milhões de doses de vacinas e que haverá seringas. O ministro Pazuello faz coletiva para explicar tudo isso ainda hoje. Destaque para o governador Doria, discorrendo sobre a eficiência de 78% da vacina coronavac e para pacientes internados de 100%.
A União bancou R$ 13,33 bilhões de dívidas de Estados e Municípios em 2020. O Bacen informou que a captação líquida da poupança em 2020 foi de R$ 166,3 bilhões e, em dezembro, com R$ 20 bilhões. No mercado, dia de dólar em alta de 1,82%, fechando em R$ 5,40. Na Bovespa, na sessão de 05/01 (segunda do ano), os investidores estrangeiros alocaram recursos no valor de R$ 1,51 bilhão, acumulando em janeiro R$ 2,47 bilhões. Ou seja, o fluxo carreado segue forte e sustenta realizações de lucros recentes.
No mercado acionário, dia de alta das Bolsas de Londres de 0,22%, Paris com +0,70% e Frankfurt com +0,55%. Madri e Milão com altas de respectivamente 0,43% e 0,05%. No mercado americano, o Dow Jones com +0,69% e Nasdaq com +2,56%. Na Bovespa, dia de alta e de recorde de pontuação, com valorização de 2,76%, e índice fechando em 122.385 pontos. Na máxima, atingiu 122.696 pontos. Destaque para empresas associadas com commodities e bancos.
Na agenda de amanhã teremos o IGP-DI de dezembro pela FGV e a produção industrial de novembro pelo IBGE. A Anfavea também divulgará a produção e vendas de veículos em dezembro. Nos EUA, teremos o payroll de dezembro, com a criação de vagas no setor público e privado, além de indicadores correlatos.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado