O dia começou prometendo muita tensão e aversão ao risco nos mercados que vinham batendo recordes sucessivos (como os EUA), ou que tinha zerado as perdas do ano (como a Bovespa). O noticiário de final de semana foi de recordes de contágio e óbitos em diferentes países, mas o que deixou todos mais preocupados foi a mutação do vírus no Reino Unido e depois também na África com outra mutação. Imediatamente surgiu a questão se essas vacinas aplicadas seriam também eficazes para a variante do vírus.
Isso empanou o acordo do pacote de estímulo nos EUA acertado por republicanos de democratas em montante de cerca de US$ 900 bilhões. Também não fez efeito a forte alta do minério de ferro negociado na China com valorização de 7,34% e com a tonelada em US$ 176,45. Com relação a isso, também tínhamos o acidente da Vale e a suspensão temporária do alvará, justamente em dia de vencimento no mercado de opções, quando os mercados ficam ainda mais voláteis.
Resultado disso, dólar e ouro fortes no exterior, mercados acionários em queda em todo o mundo, investidores buscando rápida proteção e realizando lucros recentes. Mais para o meio tarde, viera declarações da OMS indicando que as vacinas poderiam ser eficazes mesmo com a mutação, e os investidores e gestores foram acalmando, mercado americano reagindo e o Dow Jones flertando com alta. A Bovespa também reagiu em 114.730 pontos.
Na zona do euro, a confiança do consumidor de dezembro subiu para -13,9 pontos, vindo de -17,6 pontos. A agência reguladora de medicamentos da União Europeia também autorizou a aplicação emergencial de vacinas da Biontech e Pfizer no bloco econômico. Já o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, disse querer o acordo com a União Europeia, mas que conseguiria lidar com a situação sem qualquer pacto, e deseja a independência no setor de pesca.
Nos EUA, o atual secretário do Tesouro declarou que as pessoas vão começar a receber os auxílios já na próxima semana. Por lá, tivemos a divulgação do índice nacional de atividade pelo FED de Chicago para novembro em queda para 0,27 ponto, vindo de 1,01 ponto. Já a agência de classificação de risco Fitch, disse que o desafio fiscal e dívida elevada colocam pressão de queda nos ratings de países da América Latina.
No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava queda de 2,77% (também reagindo às fortes perdas), com o barril cotado a US$ 47,74. O euro era transacionado em leve queda para US$ 1,224 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros em 0,94%. O ouro reverteu para queda e a prata ainda com alta menor na Comex e commodities agrícolas com viés de alta na Bolsa de Chicago.
No segmento local, nenhuma fumaça no Congresso e também nenhuma declaração do presidente e do ministro Paulo Guedes que suspendeu suas férias. A pesquisa semanal Focus do Bacen veio tranquila e com poucas mudanças. O IPEA divulgou o relatório Visão Geral de Conjuntura, projetando PIB de 2021 com expansão de 4%, se fiscal for retomado e com carrego de 2,7%, inflação de 4,4% em 2020, taxa de desemprego ainda subindo antes de começar a declinar e déficit primário neste ano de 12% do PIB.
A Receita Federal anunciou arrecadação em novembro de R$ 140,1 bilhões, perfazendo no ano R$ 1,32 trilhão. No mês, foi a maior arrecadação desde 2014, com alta real de 7,31%, e no ano, a pior desde 2010, com queda real de 7,95%. As desonerações no ano atingem R$ 84,8 bilhões. O pagamento de diferimentos compensou em parte a arrecadação ruim.
No mercado local, dia de dólar em alta forte no início acima de R$ 5,22, para fechar com +0,78%% e cotado a R$ 5.123. No mercado acionário, dia de queda na Bolsa de Londres de 1,73%, Paris com -2,43% e Frankfurt com -2,82% (não pegaram a melhora dos EUA). Madri e Milão com perdas de respectivamente 2,87% e 2,52%. No mercado americano, o Dow Jones com +0,12% e Nasdaq com -0,10%. Na Bovespa, dia de queda de 1,87% e índice retornando para 115.822 pontos. A mínima do dia chegou a 114.730 pontos.
Na agenda de amanhã, a FGV apresenta a confiança do consumidor de dezembro e o IBGE o IPCA-15, prévia da inflação de dezembro. Na Alemanha, a confiança do consumidor GFK de janeiro. Nos EUA, nova leitura do PIB do terceiro trimestre, a confiança do consumidor do Conference Board de dezembro, as vendas de imóveis usados de novembro e o índice de atividade de Richmond de dezembro.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado