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O escândalo envolvendo o presidente da Argentina, Javier Milei, e a criptomoeda $LIBRA evidencia a “fragilidade e a instabilidade dos mecanismos financeiros especulativos”, avaliou o especialista e pesquisador do Observatório de Regionalismo, André Araújo.
“Nos últimos anos, houve envolvimento de outros governos no mercado de criptomoedas, como a participação do presidente dos EUA, Donald Trump, no lançamento da $TRUMP, e a decisão (já revogada) do presidente de El Salvador, Nayib Bukele, de adotar o Bitcoin como moeda oficial do país”, explicou.
Apesar de ambos terem enfrentado contestações e crises, todas essas lideranças políticas possuem semelhanças em seus projetos. Além disso, a forma como as duas figuras políticas conduzem a economia e a sociedade também se parece.
Para alguns analistas, a promoção da $LIBRA por Javier Milei pode ser considerada uma tentativa de legitimar ativos digitais como alternativa ao peso argentino, ou até mesmo um erro estratégico.
“Milei é um forte defensor da liberdade econômica, e as criptomoedas simbolizam isso. Antes do efeito Trump, ele já era um defensor do mercado cripto. O erro estratégico, considerando o que ele alegou logo após o lançamento, foi ter promovido uma memecoin sem sequer conhecer minuciosamente o projeto”, disse ao BP Money Pedro Xavier, CEO da Mannah.
Bitcoin é ‘único ativo digital que um chefe de Estado pode apoiar com segurança’, diz especialista
Há muitos riscos quando um chefe de Estado associa sua imagem a uma criptomoeda privada. Contudo, o analista de criptomoedas da Levante Investimentos, Felipe Martorano, pondera que “o único ativo digital que um chefe de Estado pode apoiar com segurança é o Bitcoin“. Segundo ele, o ativo é descentralizado e não está vinculado a nenhuma entidade central ou indivíduo específico.
O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, conseguiu associar sua imagem ao Bitcoin sem se comprometer com projetos privados, assegurando uma narrativa coerente e sustentável.
“Quando um presidente endossa uma criptomoeda específica como a $LIBRA, ele assume um risco reputacional significativo. Se o projeto falhar ou for uma fraude, ele será visto como cúmplice ou, no mínimo, como alguém ingênuo e imprudente”, explicou Martorano.
Polêmica envolvendo Milei ocorre em meio a crises estruturais na Argentina
O escândalo envolvendo o presidente argentino acontece em um momento de forte pressão econômica para o país. Em janeiro, a inflação da Argentina ficou em 2,2%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) – a menor taxa mensal desde julho de 2020.
No entanto, analistas apontam que a redução da inflação no país se deve a uma forte contração da atividade econômica. O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, afirmou que a recessão argentina tomou força com o “brutal” corte de gastos públicos promovido pelo governo Milei.
“A grande explicação para a queda da inflação na Argentina está na queda do PIB. Ou seja, a economia mergulhou em recessão, e a consequência disso é a redução da inflação, pois há uma contração generalizada da atividade econômica. Ainda não temos o dado consolidado do PIB, mas ele deve ter caído entre 3% e 4% no ano passado. É o completo oposto do Brasil, que deve ter crescido 3,5%”, explicou Gala à Agência Brasil.
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