No início desta semana, recebi um e-mail do assinante leitor José Lima sugerindo que eu escrevesse sobre contratos futuros de instrumentos financeiros, moedas e commodities negociados no mercado americano. 

Como gostei da sugestão, vamos a ela. Se não der para concluir hoje, continuo na próxima semana. 

Comecemos pelos futuros de moedas, negociados na CME (Chicago Mercantil Exchange). 

Eu gostava mais quando podia “treidar” marcos alemães e francos franceses, ou seja, antes da implantação do euro na Comunidade Europeia. Só que agora essas duas moedas, assim como as liras italianas e pesetas espanholas, desapareceram do mapa.

Cada contrato de euro, negociado contra o dólar na CME, representa € 125.000. Como a margem varia entre dois e cinco por cento do valor total do contrato, os traders e especuladores podem alavancar entre 20 e 50 vezes.

O euro tem sido cotado ao redor de US$ 1,10, com pequenas variações para cima ou para baixo.

O valor de cada contrato de franco suíço (CHF) é também de 125.000; a alavancagem, a mesma do euro.

O CHF é moeda refúgio, ainda mais sólida do que o dólar. Tanto é assim que, volta e meia, o banco central da Suíça (Swiss National Bank) pratica taxas de juros negativas.

Ou seja, só vale a pena ficar comprado a futuro nessa moeda se houver uma grande crise à vista o que, convenhamos, não é uma coisa muito difícil de acontecer neste mundo conturbado de hoje.

Nos últimos tempos, o CHF tem sido negociado entre US$ 1,10 e US$ 1,20, tendo, portanto, um trading range (amplitude) maior do que o do euro.

Passemos ao contrato seguinte, o da libra esterlina, BP (British Pound ou Sterling).

Até meados da década de 1920 (os Esfuziantes Anos Vinte – The Roaring Twenties), a libra era a principal moeda mundial. Só que quando perdeu a vez, perdeu de vez, com minhas desculpas pelo trocadilho.

No mercado futuro da CME, a unidade de contrato da BP é de £ 62.500, sendo a alavancagem ao redor de 40. Nos últimos 12 meses, a cotação da libra esterlina tem variado entre US$ 1,22 e US$ 1,32.

Já houve uma ocasião (meados dos anos 1970) em que a BP era considerada moeda petróleo em função da autossuficiência (que já deixou de existir) da Grã-Bretanha nessa commodity, propiciada pelas plataformas do Mar do Norte.

Mais tarde, a instabilidade política e a implantação do Brexit obrigaram o Banco da Inglaterra (Bank of England) a manter taxas de juros mais altas do que seus principais parceiros (ou rivais, como queiram).

Como nunca cortou zeros em sua unidade monetária, mesmo após a derrota na Segunda Guerra Mundial, o iene japonês (JY) vale aproximadamente US$ 0,0070. Ou seja, 143 ienes por dólar. Isso quer dizer que a unidade da moeda japonesa é equivalente a menos de um cent.

Esse aparente valor ínfimo não traduz a fortaleza da moeda, que é extremamente procurada em momentos de crise.

Tal como acontece com o franco suíço, volta e meia o Banco do Japão pratica taxas de juros negativas. Isso habilita o país a ter uma dívida interna equivalente a 257% do PIB, percentual que no resto do mundo seria trágico.

O tamanho do contrato futuro de ienes japoneses negociado na CME é de 12.500.000 JY.

Os dólares canadense e australiano valem menos do que o congênere americano. O principal fundamento dessas duas moedas é o preço das commodities, já que Canadá e Austrália são grandes produtores e exportadores de matérias-primas.

Tanto o dólar canadense como o australiano têm contratos no valor de 100 mil.

Todas as moedas acima também são negociadas em minicontratos, tal como acontece na B3 brasileira.

E, já que começamos a falar de B3, o dólar (e o real contra a moeda americana) a melhor maneira de operá-los é na Bolsa brasileira. Esse contrato cheio (existe também o minicontrato) representa US$ 50.000,00.

Dois fundamentos exercem enorme influência na cotação do dólar aqui: inflação e taxas de juros. Ou seja, juros reais.

Em termos de juros reais, o Brasil só perde para a Rússia. E isso tem uma clara explicação: nosso mercado não acredita na gestão das finanças do país, nem por parte do Poder Executivo nem do Legislativo.

As duas instituições só agem movidas por populismo. A desconfiança dos agentes econômicos só não é maior por causa da autonomia do Banco Central do Brasil e dos mandatos fixos de seus diretores, que já não podem mais ser demitidos (como acontecia antes de 2021) pelo ocupante do palácio do Planalto.

Em vez de prognosticar o rumo do valor do real contra o dólar nos próximos anos, o melhor é ver o que o mercado está nos mostrando.

Apesar do Brasil ser um megaexportador de matérias-primas, esse fundamento não está bastando para segurar a alta constante do dólar nos últimos tempos.

O mercado quer mais. Até que os governantes se comportem e passem a se preocupar com as contas do país, as taxas de juros continuarão absurdamente altas.

Iniciarei a próxima crônica falando sobre o mercado internacional de obrigações do Tesouro americano. 

Um forte abraço,

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