Ano após ano, as mulheres estão participando nos mais variados eventos, reduzindo a desigualdade entre meninos e meninas empenhados na produção de conhecimento. A história das Stocco Girls Robots é um caso exemplar.

Por Luís Gustavo Cordeiro Alves

Ao longo da história, as mulheres tiveram participação fundamental nas conquistas científicas. Marie Curie (1867-1934) foi pioneira na radioatividade; Rosalind Franklin (1920-1958) contribuiu para a compreensão da estrutura do DNA; Ada Lovelace (1815-1852) foi considerada a primeira programadora. Essas e outras milhões de mulheres contribuíram significativamente para o avanço científico em diversas áreas. Em que pesem tais feitos, a pergunta que permanece é a seguinte: Por que, mesmo com todos esses destaques e relevância, as mulheres ainda representam menos de 30% do número de pesquisadores no mundo?

Essa condição de baixa representatividade das mulheres na pesquisa e nas carreiras científicas pode ser explicada por algumas questões que permeiam desde preconceito e estereótipos de gênero, falta de modelos e mentores que incentivem as meninas a trabalhar com pesquisa, até barreiras institucionais e o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

Infelizmente, esse processo de afastamento científico se inicia ainda na infância, dentro de casa, quando a criança começa a brincar e, por padrões sociais, ainda existam as tidas “brincadeiras de menina” e “brincadeiras de meninos”. Mesmo nas escolas, há poucos anos, ainda era comum o incentivo das áreas de exatas e pesquisa apenas para grupos masculinos.

No entanto, foi possível perceber um verdadeiro levante de universidades públicas e federais, centros de ensino, mostras e olimpíadas, para estimular a participação das meninas em atividades científicas. Elas, por sua vez, ano após ano, estão elevando os números nos mais variados eventos, reduzindo a desigualdade de participação entre meninos e meninas empenhados na produção de conhecimento científico.

Isso fica claro quando observamos dados oficiais de olimpíadas renomadas como a OBA (Olimpíada Brasileira de Astronomia), OBR (Olimpíada Brasileira de Robótica) e MNR (Mostra Nacional de Robótica). Fazendo um comparativo entre 2018 e 2023, o número de meninas participantes dos eventos quase que dobrou, chegando, em alguns casos, a 40% dos participantes inscritos.

Não apenas o número de participações como também as premiações tiveram aumento expressivo esse ano. Na OBA, mais de 21.500 medalhas de cerca de 50.000 foram conquistadas por meninas, ou seja, praticamente metade delas.

Além disso, vale o destaque das meninas nas categorias práticas, mão na massa, como a Jornada de Foguetes, que hoje tem praticamente metade do seu público constituído por meninas com resultados fantásticos em seus lançamentos, incluindo quebra de recordes nacionais.

É fundamental que as meninas que obtiveram sucesso em suas trajetórias sejam destaques em suas escolas para que inspirem outras alunas a partir do exemplo, positivo e real, mostrando que elas podem sonhar e realizar todas as atividades científicas e tecnológicas que têm vontade.

O caso das Stocco Girls Robots

No Colégio Stocco, localizado na cidade de Santo André (parte da região metropolitana de São Paulo), temos a tradição de produzir e divulgar a ciência com nossos estudantes, que são estimulados a partir da aprendizagem baseada em projetos, metodologias ativas, tecnologias educacionais e, o mais importante, os professores sempre estão apresentando novas oportunidades de desafios, como a participação em eventos e olimpíadas científicas e tecnológicas.

Oportunizar esses eventos para meninas e meninos, jovens cientistas, agregam enormes benefícios, não apenas para os estudantes, mas para toda a comunidade escolar.  É importante ressaltar que, além da competição em si, as olimpíadas científicas visam despertar a curiosidade, o interesse e a paixão pela ciência nos estudantes, contribuindo para uma formação mais completa e preparando-os para futuras carreiras científicas ou tecnológicas. O professor e a escola devem apresentar de forma clara e acessível a todos os estudantes as oportunidades de participar desses eventos científicos. Muitas vezes, trazer assuntos mais relacionados ao próprio tema “meninas na ciência” auxilia muito a provocar as alunas que podem, num primeiro momento, iniciar um projeto de forma acanhada para, depois, avançar em direção a grandes conquistas.

Como exemplo, podemos citar o grupo intitulado Stocco Girls Robots. O nome surgiu a partir da junção do nome do Colégio com “Girls” e “Robots”, “garotas” e “robôs” em inglês respectivamente, já que o grupo é 100% feminino e faz referência às atividades de robótica. A equipe teve início em 2022, com um projeto piloto destinado à criação e desenvolvimento de um robô seguidor de linha para ser colocado em prática, pela primeira vez, na festa junina do colégio, unindo divulgação científica com brincadeiras culturais. Os convidados tinham que acertar em qual casa o robô iria parar dentro do espaço criado para o trajeto, com várias opções de destino.

Neste ano, elas iniciaram, em fevereiro, o projeto Carrossel da Robótica, com o qual ganharam o prêmio e pontuação máxima na OBR, na Categoria Apresentação Responsabilidade Social e Divulgação Científica. A proposta teve como objetivo provocar a interação e a troca de experiência entre as equipes dos diferentes colégios, expandindo a robótica e a ciência para fora dos muros do Stocco. As jovens de cada escola parceira capacitaram as equipes de suas instituições de ensino. Para que tudo isso acontecesse, foi fundamental todo o protagonismo das meninas do Stocco em organizar e desenvolver kits de robótica; preparar aulas e material em mídias, arregimentando as redes sociais; conseguir parcerias e patrocinadores externos, além do tempo dedicado ao projeto.

Podemos perceber que a oportunidade apresentada às meninas trouxe enorme crescimento de conhecimento, desafios, conquistas e vitórias que vão muito além do tradicional. Para 2024, elas já planejam o processo de tutoria no colégio com as alunas do Ensino Fundamental I para que possam participar também da OBR e que, assim, um ciclo seja criado dentro do Colégio Stocco. Ou seja, é o aprender e ensinar na prática através dos exemplos.

Por isso, ações políticas governamentais, divulgação das mulheres e meninas na ciência, a conscientização da igualdade de gênero e a eliminação de práticas discriminatórias são ações que poderão contribuir para a equidade de gênero nas ciências e com certeza permitir ainda mais seu desenvolvimento.

*Luís Gustavo Cordeiro Alves, professor de Biologia, Ciências e Robótica no Colégio Stocco, em Santo André.

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