Os novos arranjos na economia não afetam apenas as empresas tradicionais. O M&A (Mergers and Acquisitions), por exemplo, começa a ser exercitado por entidades de classe também. Não são poucas as organizações que estão “jogando a toalha”, por falta de caixa e, o que é pior, de perspectiva em recomposição. Urge um novo caminho, de farta governança.

Quem tem uma visão “mais de mercado” pode até enxergar este movimento como positivo, pois tende a eliminar inchaços, inoperâncias e buscará ciclos positivos de produtividade – seja lá o que se vá produzir.

De outro, mais conservador, espera-se que vá provocar uma certa extenuação e trará à baila aqueles tradicionais senhores que verbalizarão “olha, no meu tempo é que era bom…”, como se tempo, ah o tempo!, tivesse um dono.

O fato é que a economia, no Brasil, não anda bem das pernas já faz uns bons meses. A pandemia só fez descer o pano para marcar o intervalo entre um ato e outro, uma vez que a ópera já vinha sendo escrita. O “A” do M&A talvez seja mais difícil de aparecer, mas o “M” já está prontinho.

SALVA-VIDAS

O processo de M&A (fusões e aquisições, em português) de várias companhias sofreu um baque com a pandemia também. Foram refreados alguns negócios. De acordo com matéria publicada pelo gaúcho Jornal do Comércio, a TTR (Transactional Track Record), plataforma reunindo dados transacionais e de inteligência de mercado, mostra que até a decretação da pandemia, no final do primeiro TRI do ano, foram realizados 239 no Brasil.

Na prática, são 25% menos do que igual período do ano passado, em quantidade de contratos, mas com valores totais superiores; ou seja, R$ 44 bilhões de transações, representando 17% a mais que em 2019. O que virá pelas próximas semanas ainda não se sabe, o certo é que muitas bóias salva-vidas estão bem amarradas e não deverão ir pro mar tão cedo.

PF NA B3

Historicamente as pessoas físicas têm baixa representatividade na Bolsa de Valores no Brasil. O cenário, no entanto, está mudando. De acordo com a B3, nos últimos cinco anos a quantidade de investidores individuais quintuplicou e em junho último eles já respondiam por 24% do volume total de negociação da bolsa brasileira.

Para se quantificar isto, basta lembrar que em 2018, havia 813 mil PFs operando; em 2019, o número subiu para 1,7 milhão e neste ano já são 2,6 milhões de CPF´s na área.

WEB SUMMIT

O “Web Summit Relações com Investidores & Mercado de Capitais”, que substitui o outrora Encontro Internacional de RI e Mercado de Capitais presencial, apresentará no dia 25 próximo o painelO Pitch de investimentos para pessoas físicas”.

Será apresentado e debatido, na tela, o “case” da JHSF, cuja base acionária pulou de 5.600 investidores individuais, no final de 2018, para mais de 120.000, em 2020.
O evento, que tem apoio do Portal Acionista, será transmitido gratuitamente nos dias 24, 25, 26 e 27 deste mês de agosto. Inscrições pelo link websummit.encontroderi.com.br

NO AR

Por falar em CPF… quem deseja vê-los voando, no bom e literal sentido, é a Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas (Abracorp). Na semana que passou a entidade realizou mais um encontro virtual, batizado de “Retomada”. Na oportunidade participaram John Rodgerson, CEO da Azul Linhas Aéreas, e representantes das agências de viagens associadas.

O chefe da Azul disse que a empresa saltou de 70 (em abril) para atuais 400 voos domésticos e que pretende chegar em dezembro com 60% de sua capacidade operacional, traduzida em 570 voos.

IBRI

O Instituto Brasileiro de Relações com Investidores-IBRI acaba de criar a Comissão ESG. Para pilotar o grupo, de 13 pessoas de diferentes companhias, foram indicados Rafael Mingone (RI da Gerdau) como coordenador e Natasha Utescher (Relações com Investidores da Duratex) como subcoordenadora.

GAFISA + TEC

As companhias Gafisa e Tecnisa discutem a combinação de negócios no mercado de construção e incorporação. A primeira tem 66 anos de atuação e 1.200 projetos entregues, enquanto a segunda deu conta de 265 empreendimentos, em 42 anos.

De acordo com Ian Andrade, diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Gafisa, essa conversa deverá resultar “na criação da segunda maior empresa de Real Estate do Brasil, com vantagens reais para os acionistas”.

ÁGUA

Evento coordenado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, através da Divisão de Água e Saneamento (INE/WSA) do Setor de Infraestrutura e Energia, acontecerá entre os dias 25 e 27 próximos, no formato online.

Na abertura, dia 25, teremos o painel “Foco nas Américas – Sem Amazônia, Sem Água: Mudança climática na floresta tropical”. As sessões terão grupos de especialistas de alto nível, como os painelistas com experiência em tópicos de água e saneamento, oriundos de agências governamentais, empresas de serviços públicos, organizações internacionais, universidades, setor privado e agências doadoras, entre outros. Acompanhe, inscreva-se (gratuitamente) pelo site https://www.worldwaterweek.org/event/9163-no-amazonia-no-water-climate-change-in-the-rainforest

SANEAMENTO

O novo marco legal do saneamento alimenta a esperança de se equacionar a falta de recursos para a área, no país. Nos últimos anos, os investimentos ficaram entre R$ 11 bilhões e R$ 13 bilhões, quando seriam necessários R$ 20 bilhões/anuais, pelo menos, para a diminuição do déficit de coleta e tratamento de esgoto e do tratamento e fornecimento de água potável.

Édison Carlos, presidente doInstituto Trata Brasil,diz queem comparação com outros setores da infraestrutura, o saneamento é “o primo pobre, com percentuais de aportes financeiros que variam entre 0,18% a 0,20% do Produto Interno Bruto (PIB)”. Ele participou do “Fórum de Infraestrutura Grandes Construções”, dia 20 último. Sua colega de mesa, Ilana Ferreira, superintendente técnica da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), reforçou a tese da atual insuficiência de recursos e citou estudo da entidade com a KPMG, apontando que seriam necessários mais de R$ 750 bilhões até 2033 (R$ 498 bilhões para a expansão e R$ 255 bilhões para a manutenção).

SANEAMENTO 2

Além do investimento acima apontado, outro fator preocupante é a perda de água potável, que chegou a 38,5% em 2018. “Ela acontece em todo o mundo, porém, esse índice é muito alto. Um percentual  tolerável seria de 15%”, ressaltou Édison Carlos. Como resultado, são R$ 12 bilhões de prejuízo com a perda de água, que poderiam ser revertidos, segundo ele, em investimentos, caso houvesse mais eficiência.

Dentro do mesmo assunto se pronunciou Luiz Roberto  Pladevall, presidente da Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente (APECS), afirmando que o percentual de perda de água “pode chegar até 70%, dependendo da localidade, o que é muito frustrante para o consumidor, que paga pelo serviço, mas sem eficiência”.

VALOR

Dando um rolé por New York, na semana, a Economática descobriu que a Apple atingiu US$ 2 trilhões de valor de mercado (19/08). Na sequência da valorização apareceram Google, com US$ 1,06, a Microsoft com US$ 1,6 e a Amazon com US$ 1,6 também. Importante: todas estas também na casa do trilhão.

MEXE

O IRB-Brasil Resseguros, que vem mexendo em sua estrutura administrativa já faz algum tempo, anunciou o novo VP para a área de Riscos e Conformidade. É Carlos Guerra, profissional com quase 30 anos de experiência nas áreas jurídica, comercial, de controles internos, financeira, administrativa e previdenciária. Administrador e advogado de formação, ele é pós-graduado em Mercado de Capitais.

PODER

A Suzano, companhia voltada à fabricação de bioprodutos a partir do cultivo de eucalipto, formalizou a adesão aos Princípios de Empoderamento das Mulheres, iniciativa promovida pela ONU Mulheres, entidade fomentadora da equidade de gênero nos negócios, e pelo Pacto Global.

Ao assinar os princípios, a empresa assume o compromisso com programas e ações voltados à promoção da igualdade de gênero no ambiente de trabalho e nas comunidades onde atua. Este é um movimento que reúne mais de 3.000 companhias ao redor do mundo para a troca de experiências a respeito das melhores práticas para a igualdade entre os gêneros no ambiente de negócios. Quer saber mais? Entre no link http://www.onumulheres.org.br/referencias/principios-de-empoderamento-das-mulheres/ 

DIVERSIDADE

Companhias e organizações focadas em políticas ESG deverão trabalhar mais a questão da diversidade, em todos os sentidos. Para se ter ideia do caminho a percorrer, basta destacar que no mundo corporativo nacional apenas 16% dos ocupantes da cadeira de CEO são mulheres.

Um paradoxo no país em que 52% da população pertencem ao gênero (em números redondos) e que desde a década de 1990 o número de estudantes egressos das faculdades tem mulher em sua maioria.

COOPERATIVA

Iniciativas alinhadas aos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU) e que contam com o apoio da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) estão sendo levadas a efeito pela Sicredi, instituição financeira cooperativa com mais de 4,5 milhões de associados atuando em 22 estados e no Distrito Federal.

Em comemoração ao “Dia de Cooperar” – ou “Dia C” – foi feito um balanço das 1.008 ações de cunho social, beneficiando 4,3 milhões de pessoas nas comunidades de 610 cidades, ocorridas desde o início do ano até o dia 13 último. A instituição contou com o apoio de 30 mil voluntários.

ARTIGO

A hora das finanças sustentáveis

(*) José Alexandre Vasco

Parece não haver evidência melhor e mais universalmente partilhada a de que todos aspiramos a felicidade[1]. Todavia, para tornar isso possível a uma sociedade, um conjunto mínimo de bens materiais deve ser assegurado, sem os quais uma vida digna não é concretizada.

Em países desenvolvidos, já supridas as demandas básicas da cidadania, esse objetivo é moldado por visões futuras específicos (e.g. mudança do clima); nos emergentes, por outro lado, as imensas necessidades imediatas da população saltam aos olhos, determinando um foco em suprir o que é negado a milhões de pessoas, pela absoluta carência de meios.

No Brasil, separa-nos desse objetivo de vida digna para todos, necessidades de investimentos de até US 1,3 trilhão em infraestrutura. Desafio imenso em um quadro de restrições fiscais, agravadas pelas recentes e necessárias medidas de enfrentamento da pandemia.

Esse cenário potencialmente desolador, todavia, descortina tremendas oportunidades para o mercado de capitais brasileiro, diante da ampla liquidez internacional e baixas taxas de juros. Sem adentrar nos novos instrumentos financeiros, o que não caberia neste espaço, destaco apenas que o momento é único. Para prevenir o ceticismo natural provocado pelo bordão “desta vez é diferente”, anestésico imprudente diante de euforias e utopias, pode-se afirmar que há uma mudança profunda de valores e atitudes em curso, especialmente nas economias mais prósperas, com impacto em políticas nacionais e decisões de consumo/investimento de cidadãos e instituições.

Em 2018, 2 mil gestores com US$ 80 trilhões sob administração declararam apoio aos “Principles for Responsible Investment” (PRI) e, ao lado de novas declarações de investidores institucionais, também há sinais de mudança de perfil das novas gerações de “Main Street Investors”.

As implicações para a regulação são evidentes. Informações claras e consistentes sobre a exposição das empresas a riscos e oportunidades ligadas a fatores ASG, bem como sobre sua estratégia para lidar com eles, são cada vez mais importantes. Além disso, considerações sobre taxonomias existentes entraram na agenda regulatória, e a prevenção do green washing passa a ganhar relevância, pelos potenciais devastadores para a credibilidade de emissores e seus países.

Os objetivos tradicionais da regulação se mantêm (proteger investidores, reduzir riscos sistêmicos e permitir um funcionamento eficiente dos mercados), mas há necessidade de maior coordenação internacional, o que vem sendo feito pela IOSCO, e reforço da capacitação e articulação locais.  A CVM participa desses fóruns internacionais e, desde 2017, por meio do LAB de inovação financeira, uma parceria com BID, ABDE, GIZ e quase 200 entidades, vem refletindo e promovendo as mudanças necessárias, dentro de sua competência, para que esse movimento internacional resulte nos necessários investimentos no país.

[1] Caillé, A., Lazzeri, C. e Snellart, M. História Crítica da Filosofia Moral e Política. Editora Verbo: Lisboa, 2005.

Importante: As opiniões deste artigo são do autor e não refletem, necessariamente, as opiniões da CVM.

(*)  José Alexandre Vasco é Superintendente de Proteção e Orientação aos Investidores (SOI) da CVM.

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