Em busca de retornos mais ousados do que a renda fixa e até a bolsa de valores, uma parcela de investidores brasileiros tem enxergado nas startups potenciais fontes de lucro. De acordo com plataforma de investimentos em empresas de tecnologia EqSeed, em três anos, o número de investidores em startups no país subiu 700%, passando de 1.099 para 8.966 em 2019.
De acordo com a consultoria DiliMatch, em 2019 aproximadamente US$3,1 bilhões foram investidos em startups brasileiras, volume 121% maior do que 2018 e 342% superior ao de 2017. Em 2020, mesmo em cenário de pandemia, o volume no primeiro semestre passou de US$ 668 milhões, de acordo com pesquisas do Distrito.me.
São números que mostram como este mercado avança com velocidade pelo Brasil. Parte disso é puxada pela popularização dos ativos, já que sites de crowdfunding aceitam valores abaixo de R$ 1 mil por cota. O objetivo de quem entra neste mercado é encontrar o próximo unicórnio brasileiro, como Ifood, Buscapé e Getnet, que possa multiplicar exponencialmente o retorno.
“Depois da queda abrupta da B3, investidores de ações voltaram a olhar para empresas early-stage (em estágio inicial). Aquelas que conseguirem atravessar a crise mostrarão resiliência e liderança necessárias para quem sabe ser os próximos unicórnios brasileiros”, analisa Wlado Teixeira, diretor do GVAngels, grupo de investidores egressos da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele acrescenta que empresas como Facebook, Microsoft e AirBnb foram fundadas e financiadas em tempos de recessão, quando pessoas buscam novas soluções para consumir produtos e serviços.
O investimento nas startups pode ser feito através plataformas online, participação em fundos montados por aceleradoras e bancos digitais, onde se consegue comprar participação totalmente online, com a mesma facilidade com que se compra ações na Bolsa.
O retorno ocorre quando uma empresa maior compra a startup. Nestes casos, a valor é compartilhado proporcionalmente entre os investidores. Ou seja, não se deve esperar IPO ou distribuição de lucros, por exemplo, já que as startups costumam demorar para gerar receita. Além disso, ao contrário do que ocorre nos EUA, são raros os casos de IPOs de empresas tecnológicas no Brasil. Portanto, o caminho é esperar uma aquisição.
Conforme a GVAngels, a covid-19 acelerou a digitalização e a relação das empresas com a tecnologia, o que tende a abrir mais oportunidades para startups. Por outro lado, o risco deste tipo de negócio também é altíssimo – especialistas apontam que apenas uma ou duas entre dez startups que recebem investimentos conseguem dar algum lucro aos seus acionistas. E isso pode ocorrer em prazos longos, acima de cinco anos.
Por isso, os critérios de seleção são fundamentais. A advogada Sheila Shimada, da Shimada Advocacia e Consultoria, aponta que é preciso analisar com cuidado os números da empresa, sua visão de negócio e o ineditismo do software ou aplicativo, para ver se há, de fato, potencial de mercado e atração de outros investidores.
“Um pitch (apresentação do negócio em um evento a potenciais investidores) com certeza é muito importante, mas não podemos esquecer que uma empresa não pode viver do entusiasmo de seus fundadores”, afirma a advogada.
“Por mais caloroso que seja o discurso, deve-se manter o foco em análises numéricas e documentais, assim o processo de investimento será claro e vantajoso para ambas as partes”, destaca Shimada.