Há cerca de três semanas, o presidente Lula anunciou um programa com o nome de “Nova Indústria Brasil”.
Como sempre acontece nessas ocasiões, numa solenidade qualquer, um político, não tendo algo sólido para prometer (tipo: “semana que vem este município receberá três ônibus escolares americanos, doação da Fundação Amalgamated”), surge com essas promessas mirabolantes.
O programa de Lula vai até 2033. Seu mandato, na melhor das hipóteses (para ele, é claro, de reeleição), termina em 2030. Então, mesmo que fosse super cumpridor de promessas, não teria tempo para concluir. Mas, para políticos, o importante é prometer. Realizar é pura ficção.
O único presidente brasileiro que fez promessas megalômanas, e as cumpriu, foi Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956/1961).
Entre elas, estradas: Rio/Belo Horizonte (então BR3, atual trecho da BR-040), Belo Horizonte/São Paulo (rodovia Fernão Dias, atual BR-381), Belo Horizonte/Brasília (atualmente prolongamento da antiga BR3, transformando-se, portanto, em Rio/Brasília), e Belém/Brasília (que agora leva a sigla de BR-153), que o inimigo político de Juscelino, deputado Carlos Lacerda, chamava pejorativamente de Estrada das Onças, sem contar outras menores espalhadas pelo país.
Mas não foram só obras públicas. Não podemos nos esquecer que JK, nos seus fabulosos “cinquenta anos em cinco” criou a indústria automobilística nacional.
Foram estaleiros, duas grandes usinas siderúrgicas (Usiminas e Cosipa) e uma série de produtos que nós nem sonhávamos fabricar aqui.
Na campanha eleitoral, durante um comício de Juscelino na cidade de Jataí, no sudoeste de Goiás, Antônio Soares, o Toniquinho, 29 anos, cobrou do candidato a mudança da capital federal para o Planalto Central, tal como constava na Constituição e nenhum presidente cumprira.
Pois bem, Juscelino Kubitschek de Oliveira cumpriu todas as promessas listadas nas metas de campanha e entregou ao seu sucessor, Jânio Quadros, um novo Brasil.
Como os gastos foram feitos à custa de emissão de papel-moeda, JK nos legou 33 anos de inflação, só debelada com o advento do Plano Real, em 1994.
E nem podemos dizer que Juscelino fez e cumpriu um plano de longo prazo pois tudo durou apenas cinco anos.
É comum vermos candidatos, como foi o caso de Dilma Rousseff, prometer coisas impossíveis, como foi o caso do trem-bala Rio São Paulo, que abriu escritório no Rio, contratou funcionários, e nunca alguém sequer imaginou que a obra pudesse ser concluída, nem mesmo iniciada.
Um grupo de autoridades chegou até a percorrer um trecho da Supervia, antiga Central do Brasil, dentro da cidade do Rio de Janeiro, que seria leito do trem-bala.
Resultado: foram atacados a tiros por bandidos ou milicianos (no Rio nunca se sabe direito quem é quem) e tiveram de se jogar no chão do vagão, para não ser atingidos. Não deixou de ser um trem-bala.
Muito antes de um país ter seu primeiro trem-bala, ou TGV (Train à Grande Vitesse, como na França), ou Shinkansen (como no Japão), ele já tem malhas ferroviárias completas, sendo o trem-bala a cereja do bolo.
Sempre me mantendo nos planos de longo prazo, quando assumiu a presidência da República, em 15 de março de 1974, o general Ernesto Geisel quis fazer a Ferrovia do Aço para transportar minério de Minas até o porto de Angra dos Reis.
Chamou ao Planalto dezenas de empreiteiros e disse-lhes que comprassem suas máquinas e que o dinheiro para as obras estava garantido.
Resultado: não houve recursos suficientes e a obra está parada até hoje, passados cinquenta anos. Eu conheci pessoalmente alguns desses empreiteiros que quebraram.
Com o objetivo de impulsionar o desenvolvimento do país, na China Mao Tsé-Tung lançou o “Grande Salto para a Frente”, que lançou mesmo o país na miséria e deu origem à Grande Fome e à Revolução Cultural, de trágicas consequências.
Adolf Hitler também teve seu plano: transformar o Leste Europeu num celeiro soviético, naquilo que chamou de Espaço Vital, Lebensraum.
Nos últimos dias de combate da Segunda Guerra, na Europa, o espaço controlado pelo Reich de Mil Anos se viu reduzido a três quarteirões de Berlim.
Voltando ao Brasil, toda vez que um político, seja ele presidente, governador ou prefeito, corta uma fitinha lançando um plano de dez anos, desconfie porque, se ele está fazendo isso é porque não tem coisa melhor para oferecer.
Caro amigo assinante leitor, use esse tipo de raciocínio na avaliação de seus investimentos. Nessa época de mutações tecnológicas rápidas, e hábitos voláteis, pensar no longuíssimo prazo é pura perda de tempo, e quem sabe de muito dinheiro.
Stops também não precisam ser sempre de preços. Podem também ser de fatos.
Se aquilo que você esperava, ou que o político ou empresário prometera, não está indo na direção certa, pule fora.
Lembre-se que um gigantesco viaduto ferroviário está lá apodrecendo na Serra da Mantiqueira.
Alguém pôs muito dinheiro ali, certo de que estava participando de um grande projeto nacional. Ficou a ver navios.
Um ótimo fim de semana.
Ivan Sant’Anna