Em meio a um cenário de constantes mudanças no mercado, sejam elas econômicas, políticas ou sociais, a flexibilidade na liderança ganha espaço. Por muitos anos lemos e falamos sobre a disciplina na execução da estratégia de longo prazo, autores mais pragmáticos trouxeram propostas de modelos concretos para conectar a visão da alta gestão com o dia a dia das empresas.
Independentemente da abordagem, de Kaplan e Norton a Ram Charan, existe um entendimento comum de que bons planos de ação, estruturados com metas e avaliações de resultado sistemáticas orquestram sistemas de gestão de alta performance.
Porém, quando as ondas de mudanças no mercado e na sociedade se tornam maiores e mais rápidas, a construção de pontes e curvas se fazem necessárias mesmo sem estarem no planejamento original. São as chamadas estratégias emergentes de Henry Mintzberg, adaptações e inovações que são descobertas pelos gestores durante a execução do plano institucional.
Para que sugestões de mudanças de rota sejam absorvidas, se faz necessário um ambiente de conversa ativa, na qual todos opinam e compartilham percepções e, acima de tudo, que a flexibilidade no comando seja natural e reforce as relações de confiança.
Os ambientes organizacionais foram descritos por Frederic Laloux em sete estágios de evolução: iniciando o primeiro com uma dinâmica de competição individual, cada um por si e com geração de resultado comum negativo; até se chegar a grupos integrados de alta confiança que geram resultados de forma ágil, autônoma e integrada.
Sendo a organização o local onde lideranças e times atuam em prol dos resultados almejados, a escolha do estágio em que deverá operar vai depender diretamente da visão empresarial de longo prazo e do cenário econômico e social externo. Considerando que os mercados estão cada vez mais dinâmicos e a perpetuidade institucional passa a ser um diferencial para investimentos de longo prazo, há, pelo menos, quatro aspectos pelos quais a flexibilidade vem antes da disciplina:
1. Escuta. É com a mente aberta que escutamos com atenção os lados envolvidos e adaptamos a ação a fim de garantir resultados consistentes.
2. Fala. A partir de uma escuta qualificada, o discurso é ajustado e aprimorado a fim de garantir o engajamento dos parceiros e, acima de tudo, dos clientes finais.
3. Colaboração. A integração entre lideranças, times, clientes e fornecedores potencializa objetivos organizacionais em comum e fortalece o ambiente positivo em relação à instituição.
4. Visão. A flexibilidade só funciona com visão de longo prazo clara e objetiva, pois adapta os caminhos e as formas, mas não abre mão do que realmente importa para empresa. Por fim, cabe esclarecer que alta performance aqui são resultados acima da média e de longo prazo, dando segurança para os clientes e investidores envolvidos na organização. A liderança flexível não abre mão de um alvo claro e específico na execução do seu plano de longo prazo, mas ajusta cada passo em alinhamento com os interlocutores diretos e indiretos.
Quando Rosa Monteiro fala sobre a vida e a personalidade de Agatha Christie, descreve como a escritora britânica adaptou sua vida às circunstâncias do momento histórico e à família em que nasceu, os cenários foram mudando e ela se flexibilizou a fim de não perder a autonomia de ser a escritora e mulher pensante que realmente era.
As transformações de rotas nas organizações também ocorrem por decisões de líderes atentos às situações que surgem e, ao mesmo tempo, com clareza na visão de futuro. Assim como Agatha, as instituições deixam os seus legados, quanto mais de longo prazo é a meta, mais flexibilidade é exigida, apenas o rigor na execução não é o suficiente.
Melina Moraes Schuch possui 15 anos de experiência no mercado hospitalar, atua como Superintendente de Estratégia e Mercado na Associação Hospitalar Moinhos de Vento, lidera projetos de abertura de novos mercados e de remodelamento dos processos de gestão e governança. É graduada em comunicação social – relações públicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e tem especialização em administração em saúde pela Fundação Getúlio Vargas – FGV. Também é certificada pela Academy of Competitive Inteligence – ACY como profissional de inteligência master level e pela PROSCI® em Gestão de Mudança.