“As mulheres negras representam potência e estão contribuindo para trazer relevantes questões para o desenvolvimento tecnológico, melhorando produtos, serviços e gerando reflexões”.

As negras representam 27% da população brasileira (IBGE), mas sua representatividade em diversos campos do mercado de trabalho tem índices mínimos ou nem possuem dados precisos.

Tecnologia e mulheres. Tecnologia feita e criada por negras. É disso que vamos falar!

As posições de poder na área de tecnologia são ocupadas pelo mesmo perfil de pessoas: homens, brancos e jovens.

E eu poderia substituir a palavra tecnologia por muitas outras! 

Apesar da constatação, diversidade já é uma pauta cara, e vem gerando lucro para as empresas.

E está por trás do trabalho de Larissa Bispo: jornalista, mestranda na Faculdade de Educação da UFRJ e integrante do Olabi.   

O Olabi existe há cerca de três anos. É uma organização social, sediada no Rio de Janeiro, capital, que trabalha para democratizar tecnologias e conhecimentos.

Entre seus projetos está o PretaLab. Um projeto dedicado a inclusão de mulheres negras na cena tecnológica.

Larissa Bispo conversou comigo devido à sua vinda a Porto Alegre, para palestrar no Tech Arte Festival, promovido pelo ecossistema de inovação Fábrica do Futuro.

Conversamos sobre duas iniciativas em particular. Uma que está mapeamento a atuação das mulheres negras na área de tecnologia no Brasil. E outra que busca saber o que líderes entendem por diversidade.

Quer saber quem são e o que estão produzindo as mulheres negras na área de tecnologia e como gerar diversidade para o seu negócio?

Há dois anos, o Pretalab deu início a um mapeamento de quem são, onde estão e o que estão produzindo as negras na área de tecnologia. Mais de 300 profissionais se cadastraram no Pretalab/perfis até hoje.

Todas negras. São Analistas de negócio, empreendedoras na área de blockchain e criptomoedas, desenvolvedora de sistemas, designers. É possível encontra-las por habilidades, cidade ou nome.

Por exemplo, a Aline Santos Martins é do Rio de Janeiro. É Engenheira Eletricista e Mestre em Ciências e Tecnologias Ambientais.

A Beatriz de Moraes Silva é uma desenvolvedora de Front-End de São Paulo. É pedagoga e graduanda em Análise e Desenvolvimento de Sistemas.

E a Cora é designer de interação, em Recife, Pernambuco.

Ao contrário de ser conclusiva, a iniciativa é um espaço de discussão e um chamado à ação, para que a desigualdade social não se aprofunde mais.

Acompanhe minha conversa com Larissa Bispo sobre esse e outros trabalhos relacionados ao tema mulheres negras e tecnologia.

Como você se envolveu com estas iniciativas?

Eu sou jornalista, formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E minha trajetória foi encontrando a tecnologia. Eu faço mestrado na educação. E essas três coisas se encontraram.

Sempre participei de movimento negro na faculdade. Em um dos trabalhos que realizei, em uma agência de chat box (atendimento automatizado por computador) voltado para educação, eu era a parte de trás do robô. Fazíamos vários projetos de jornada para chat box, e nesse trabalho já ficou evidente que as jornadas eram voltadas a perfis bem definidos (e não inclusivos).

Quando vim para o Preta, no Olabi, confluiu todas essas áreas.

Qual é a atuação do Olabi e do Pretalab?

O Olabi começou como um espaço maker. O objetivo é oferecer ferramentas para as pessoas que não têm. Começou como um laboratório, mas isso expandiu, e temos vários projetos voltados à tecnologia e à inclusão social.

O carro-chefe é o Preta. Ele nasceu em 2017, muito de um incomodo da fundadora, que já atuava com tecnologia, por ser a única mulher negra a frequentar alguns espaços.

E como se dá a atuação do Pretalab?

Em 2017 lançamos um formulário online para todo país, a partir de contatos que tínhamos com cerca de 600 mulheres. A partir disso, produzimos um reporte inicial com pouco mais de 50 parceiras. Hoje temos o cadastro de 320 mulheres.

Em agosto de 2019 lançamos o conteúdo do www.pretalab/perfis. Construímos esse espaço para dar uma resposta ao mercado e criar uma rede de representatividade e suporte para as mulheres negras.  

O objetivo inicial era mapear, entender quem são estas mulheres e onde elas estão. Temos problemas de falta de dados nesta área, sobre o mercado de trabalho, tecnologia e negras.

Por isso, em 2019, desenvolvemos uma pesquisa (com o apoio da ThoughtWorks) chamada de #QUEMCODABR.

Coletamos e organizamos aqui dados de diversos estudos e pesquisas que buscam evidenciar a situação das mulheres negras no mercado de trabalho brasileiro. A partir disso, tentando entender qual é a percepção sobre diversidade que os profissionais de tecnologia têm no país

Como você percebe hoje o espaço e a atuação de mulheres negras na área de tecnologia a partir dessas duas iniciativas?

Falar sobre este recorte ainda é difícil, pois é recente. Mas percebemos que todas as empresas estão olhando para isso. E a nossa intenção é colaborar para resolver o problema de gênero e raça de maneira direta.

Ao longo de dois anos, tivemos um aumento do número de participantes no nosso mapeamento. E hoje, recebemos em torno de três pedidos por semana de empresas solicitando referência de mulheres negras para o preenchimento dos seus quadros.

É uma pauta cara, e vem gerando lucro. A diversidade nos times gera mais lucratividade do que não tê-la.

Outra mudança que percebe-se é que, em 2017, quando começamos nosso mapeamento, recebíamos perfis mais no sudeste e nordeste. Hoje elas estão espalhadas, vem do interior do Brasil também.

Antes, as mulheres atuavam em tecnologia por meio de trabalhos freelance ou mais informais. A maioria tinha aprendido sozinha uma função, começava como autodidata, não tinha passado por uma faculdade de informativa, e não estavam em grandes empresas.

Hoje percebemos que tem bastante mulher cadastrada e está empregada, Já passou por uma grande empresa. Ou seja, esse cenário já mudou.

Dicas da Larissa Bispo

Se você é representante de uma empresa:

  • É muito importante que vá além da primeira camada da diversidade. Ou seja, além da contratação: não é só contratar pessoas diferentes entre si;
  • É preciso criar condições para que elas permaneçam;
  • É pensar como vai incluir a diferença no funcionamento da sua organização.

Se você é empreendedor:

  • Pare de enxergar a tecnologia como um bicho de sete cabeças;
  • Não pense que está todo mundo usando;
  • Não pense que todo mundo tem acesso;
  • Vá atrás de conhecimento. Até dos mais básicos, como conhecer os criadores das tecnologias que temos mais acesso, como o Facebook e Uber, por exemplo.

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