O vilão dos “Vingadores”, Thanos, tinha um propósito claro: juntar as joias do infinito para, em um estalar de dedos, acabar com 50% da vida do universo. Como um economista malthusiano clássico, ele acreditava que os recursos eram finitos e, portanto, a população deveria ser controlada. Ao acabar com metade da vida no universo, Thanos estava quase que “promovendo uma alocação mais eficiente de recursos”.

Para a gestora Kinea, o que aconteceu de janeiro para cá com as ações de alto crescimento é como se Thanos tivesse estalado os dedos – boa parte desses papéis caíram 50% ou mais desde os topos. São papéis como Netflix (NTFL34), Mercado Livre (MELI34), Twitter (TWTR34), Magalu (MGLU3), Facebook (FBOK34) – que só ontem perdeu mais de 25% e foi responsável pela mudança no topo da lista de mais ricos do Brasil, Paypal (PYPL34), Zoom, Banco Inter (BIDI11), entre outros…

Essa queda vem em um momento em que a economia vai bem, os fundamentos são sólidos e até mesmo os mercados emergentes estão com uma melhor performance recentemente. Ou são empresas de tecnologia, ou são empresas heavy em tech ou possuem uma característica de crescimento muito alto.

Algumas delas se beneficiaram largamente do lockdown, como Netflix e Zoom. O caso da empresa de streaming é emblemático: ela já tinha tido uma desaceleração no ritmo de crescimento de usuários entre 2018 e 2019, com a pandemia em 2020, esse ritmo se acelerou em 35%! Com o gradual retorno e restrições mais brandas, o ritmo de adição líquida de usuários caiu em 50% para 2021.

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O que causou as quedas? Kinea lista três “joias do infinito”

O fundo foi, obviamente, atrás do que ocasionou tais quedas. E listaram três “joias do infinito” que fizeram o efeito Thanos no mercado de ações de alto crescimento: a redução da expansão monetária, a mudança 180 graus da decisão do Fed em relação aos juros e, por fim, a desaceleração do crescimento das próprias empresas.

A primeira joia é a possível alta de juros pelo Fed, já em março, o que é uma data muito mais próxima do que se previa anteriormente. Em setembro de 2020, a expectativa é que a alta de juros só viria a acontecer em agosto de 2025 – essa expectativa vem caindo gradualmente ao longo dos meses, até o atual patamar. Em setembro de 2021 ainda se supunha em uma alta só no final de 2022. Agora, essa alta parece próxima.

Além disso, como segunda joia, o Kinea destaca a enorme quantidade de dinheiro que foi investida no mercado de ações global nos últimos 18 meses: é uma quantia superior ao investido nos últimos 20 anos. “Parte disso foi o resultado de pessoas em lockdown com vultuosos cheques do governo, e o enorme crescimento da base monetária global durante os meses de lockdowns”, afirma o fundo. Com a desaceleração da base monetária, o mercado desacelerou.

E, por fim, a terceira joia foi a desaceleração do crescimento das empresas. “Dentro desse processo, anos de crescimento futuro foram antecipados, fazendo com que novo crescimento fosse difícil de ser obtido após a reabertura das economias”, completa o Kinea.

Qual o futuro das ações? Vingadores, avante?

Se a queda já aconteceu e as ações já caíram pela metade, algo vai aparecer para resgatar elas como ocorreu nos Vingadores? A resposta é, por enquanto, não, as quedas devem permanecer. “Olhando para o setor de tecnologia no momento, consideramos que, para diversas empresas, esse
processo de normalização de valuations ainda não parece ter acabado. O período de tempo de correção ainda nos parece curto e certas empresas ainda devem perder parcela substancial de seu valor”, destaca o fundo.

As ações de empresas alto crescimento devem continuar em trajetória inversamente proporcional aos juros americanos, justamente por serem mais sensíveis ao ajuste. O Kinea ressalta porém que algumas empresas já estão em patamares considerados razoáveis, e que, nessas empresas, o fundo deve (ou deverá) investir gradualmente.

Energia também é questão para Kinea

Mais um levantado pelo Kinea em sua carta é a questão da energia. Se o mundo pretende voltar a crescer em patamares elevado, precisa encontrar novas fontes de energia – e o baixo investimento vem travando essa questão. As últimas duas décadas de crescimento tiveram fontes muito claras: o carvão na China e as descobertas de gás de xisto nos Estados Unidos. O mundo aumentou seu gasto de energia e foram esses dois fatores que sustentaram.

A falta de investimentos deve impulsionar os preços de energia nesta década, para preços muito maiores que os atuais. O Kinea é otimista com o preço do petróleo e, por isso, também está exposto à commodity.

Brasil: valuations distorcidos podem gerar compras

E no mercado brasileiro, o Kinea ressalta que o ano começa sofrendo os efeitos de um ano eleitoral: com o governo decidindo reduzir preço dos combustíveis via isenção tributária. O fundo destaca que isso é uma “má alocação de recursos” e gera uma necessidade de se endividar pagando juros mais elevados.

O Brasil, porém, é um mercado que tem algumas boas oportunidades por conta distorção de preços e elevadas saídas de capital de fundos de ações em um passado recente. “Nossa visão de investimentos para o Brasil continua sendo que, em um ano eleitoral e de baixo crescimento, nos posicionamos com viés de compra tática em situações de extremos em valuations já muito descontados”, termina o fundo.

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Redação 1Bilhão Educação Financeira

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