A manhã desta quinta-feira (16) foi meio atípica na bolsa com a Cosan (CSAN3) vendendo sua participação de um pouco mais de 4% na gigante Vale (VALE3), um total de 173.073.795 ações. E embora, conforme salientou ao Acionista, Acilio Marinello, sócio-fundador da Essentia Consulting, que a nova gestão da Cosan já tinha dado sinais que faria alterações na estrutura de capital da empresa, houve surpresa.
O presidente do Conselho de Administração da Cosan, Rubens Ometto Silveira de Melo, se manifestou em nota à imprensa e afirmou que “a Vale é um ativo extraordinário e confio muito na nova gestão. Entretanto, o patamar atual da taxa de juros nos obriga a reduzir a alavancagem da Cosan”.
Conforme a nota publicada no InfoMoney, ele também disse que investe no Brasil porque acredita no país, mas questões ligadas às taxas de juros foram consideradas. Vale lembrar que a Selic está em 12,25% e em uma crescente de aumentos. “Na minha trajetória de empreendedor, fui ficando mais pragmático. Já passei por muito e aprendi que o foco deve ser na disciplina financeira para podermos continuar crescendo”, disse Ometto na nota.
Para Marinello, o movimento que foi feito nesta manhã é um movimento de fato não comum fazer, foi uma venda em bloco, um montante que chegou em torno de R$ 9 bilhões, “4% de participação na empresa que hoje é a empresa com maior presença na bolsa, no Ibovespa”.
Mercado vê com bons olhos, diz especialista
Paulo Cunha, CEO da iHUb Investimentos disse ao Acionista que a movimentação foi vista com bons olhos pelo mercado, mesmo considerando que a Cosan assumiu um prejuízo. “Ainda assim, trata-se de uma posição grande que seria complexa de carregar. Além disso, essa participação foge um pouco do core business da empresa”, disse.
Isso porque a empresa vinha carregando essa posição em troca de uma dívida, e os juros no mercado financeiro estão em patamares muito elevados. “O custo de carrego e a oportunidade de alocação de recursos tornaram essa estratégia menos viável”, comenta Cunha.
De acordo com o especialista, a decisão envolvia uma aposta entre dois cenários: a valorização das ações da Vale ao longo de 2025 ou o impacto de juros altos no cenário atual. “Essa situação estava estrangulando a empresa, que já possui uma dívida significativa. A combinação de uma dívida elevada com altos juros, somada a um ativo cujo comportamento de mercado é incerto, aumentou a alavancagem da Cosan e trouxe fragilidades à sua posição financeira e patrimonial.”
Além disso, Cunha afirma que mesmo com as ações da Vale sendo negociadas abaixo do potencial avaliado por analistas e pelo próprio Rubens Ometto, “não há como prever quando ocorrerá uma recuperação mais consistente. Assim, manter essa posição poderia deixar a Cosan ainda mais vulnerável.”
Dessa forma, sob o ponto de vista do CEO da IHub, com a venda da participação na Vale, a Cosan conseguiu reduzir sua alavancagem e diminuir o risco financeiro. “Essa medida foi avaliada de forma positiva pelo mercado, por tornar a situação da Cosan mais equilibrada e sustentável.”
Redução da dívida
Ao Acionista, Acilio Marinello disse que para a Cosan foi um movimento interessante porque a empresa levantou quase R$ 10 bilhões, o que vai ajudar a holding a reduzir a sua dívida líquida, que hoje está em torno de 23 bilhões. “Se você investir todo esse montante captado para dívida, pode reduzir em torno dos 14 bilhões e dá continuidade ao que a própria gestão atual da Cosan vinha sinalizando, que é um passo importante, e reforça o posicionamento e a conduta”, disse.
Ele também destacou que outro fator que pode ter influenciado essa movimentação da Cosan, é que as ações da Vale vêm em uma decrescente nos últimos 12 meses. “Teve uma queda superior a 30% no último ano, então você pensando em um ativo que está desvalorizando, você pode simplesmente pegar esse montante agora e colocar um CDI que traria um retorno financeiro melhor para a Cosan. Muito acertado e está em linha com a reestruturação que a nova gestão está propondo fazer”, afirma Marinello.
(Fonte: Cosan, às 14h43- 16/01/2025)
Itaú segue recomendando compra
O Itaú BBA não recuou na sua recomendação de compra para as ações da Cosan. Com preço-alvo de R$ 20,60, destacou que a “transação melhora a resiliência da empresa em um momento de incertezas econômicas”.
Segundo relatório do banco, a venda marca um ponto crucial na estratégia de desalavancagem da Cosan, com uma redução estimada de 0,4x na relação dívida líquida/EBITDA.