Janeiro e seus 365 dias teve muitos eventos, e não é meme, a sensação que o mês dura mais que seus longos 31 dias é quase uma unanimidade entre as pessoas. Em termos macroeconômicos, o Brasil segue com as incertezas em vista da política fiscal e um pacote de gastos que não agradou. Sem falar do dólar que entrou o ano novo acima de R$ 6, batendo acima de R$ 6,90 algumas vezes e só deu um alívio nos últimos dias do mês, nesta sexta (31) operou em R$ 5,83/ R$ 5,85. A bolsa, coitada, seguiu amargando ali nos 120 mil pontos. Na vida real, a taxa de juros subiu para 13,25% ao ano (pra fortalecer mais a Renda Fixa) e a inflação dos alimentos ficou acima de 8%, quase o dobro do IPCA do ano passado, que foi de 4,83%.
O mundo viveu o receio da posse de Donald Trump e as suas medidas anti-imigração, e também o que o mercado temia, em relação ao possível aumento das tarifas para a China, mas a ideia meio que enfraqueceu e logo o republicano falou manso sobre esse viés comercial. Como notícia boa, o cessar-fogo entre Israel e Hamas trouxe um alento para a região de Gaza, no Oriente Médio. Para fechar com chave de outro, as ações da Nvidia despencaram na última segunda-feira, 27, após o lançamento da IA DeepSeek, a chinesa que fez as Big Techs perderem muitos milhões de dólares. Detalhe: a invenção chinesa custou US$ 6 milhões enquanto a IA da Meta, por exemplo, US$ 65 milhões…
Bem, para falar o que o mercado viveu neste longo janeiro, Gustavo Ferraz, especialista em investimentos na WIT Invest responde:
Quais setores apresentaram o melhor desempenho na bolsa de valores neste mês? E os piores?
Os melhores desempenhos foram de empresas ligadas ao consumo, como Gol (GOLL4), Azul (AZUL4), CVC (CVCB3), Assaí (ASAI3) e Petz (PETZ3). O pior setor foi o de frigoríficos, com destaque para JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3), que registraram grandes quedas ao longo do mês.
Quais foram os principais fatores econômicos e políticos que influenciaram o comportamento do mercado em janeiro?
A posse de Trump e o DeepSeek com certeza mexeram com o mercado global.
Quais são as expectativas para as taxas de juros ao longo de 2025?
Para o ano de 2025, no Brasil, a expectativa é de que a Selic fique em torno de 15,50% no meio do ano. No mercado americano houve estabilidade na taxa de juros do FED, o que não agradou ao presidente Donald Trump. No entanto, a tendência é que o FED mantenha uma postura mais conservadora, sem ceder à vontade de Trump, com boas chances de juros mais altos nos EUA.
De que forma os indicadores econômicos, como inflação e taxas de juros, refletiram nos índices da bolsa em janeiro?
Em janeiro, tivemos uma desaceleração no IPCA e no IGP-M, o que movimentou de forma positiva o mercado de ações. Além disso, sobre as taxas de juros, houve uma alta de 1,0% dentro do que já era esperado pelo mercado. Desta forma, não tivemos impacto do aumento de juros na bolsa neste mês
Como o cenário econômico global influenciou o desempenho do mercado financeiro brasileiro em janeiro?
As medidas impostas por Trump não foram tão rígidas quanto o esperado, e o Deepseek gerou certo movimento na bolsa americana, mostrando que o governo talvez precisasse cortar juros para impulsionar a economia. Isso pode ser benéfico para o Brasil, devido ao aumento do diferencial de juros. A bolsa reagiu positivamente baseado nesses fatos.
Como foi o desempenho geral do mercado de ações durante o mês de janeiro de 2025?
Neste mês tivemos um retrocesso significativo no dólar, com a moeda caindo de 6,18 reais para 5,86 reais, uma queda de 5,17%. Essa queda do dólar pode ter como alguns fatores, como o pico de estresse que passamos nos últimos meses, uma visão de melhoria relacionada à política fiscal, o aumento da Selic que proporciona um diferencial de juros mais vantajoso para o mercado exterior e as políticas impostas por Trump até o momento parecem ser mais brandas do que esperado.
Além disso, tivemos o evento DeepSeek, que proporcionou uma grande onda vendedora na bolsa americana, jogando os juros futuros para patamares mais baixos. Com aumento da Selic, uma queda de juros americanos para impulsionar a economia pode criar um cenário de entrada de capital estrangeiro na nossa bolsa, jogando o Ibovespa para patamares mais altos.
Caso o mercado crie uma grande expectativa com essa alta do Ibovespa e os juros futuros americanos voltem a subir, assim como uma piora relacionada a não apresentação de medidas fiscais concretas, podemos ter novamente um cenário de queda para nossa bolsa.
Os investidores brasileiros tiveram maior interesse por quais tipos de ativos neste início de ano?
Diante das oportunidades em renda fixa prefixada, com juros altos, a renda fixa continua sendo a opção mais procurada pelos investidores.
Como a volatilidade no mercado afetou os investidores no Brasil no mês de janeiro?
Quem está posicionado em ações, conseguirá tirar um bom proveito para esse início de ano, com ganhos na casa de 5% neste mês.
Como os desdobramentos da primeira reunião do Copom de 2025 influenciarão o mercado financeiro no primeiro trimestre?
A reunião do Copom foi em direção ao que era esperado pelo mercado, uma alta de 1,0%. Acredito que o mercado está bem pessimista com relação à expectativa de juros futuro, projetando uma Selic terminal de 15,5% no fim do ano.
Espera-se que os próximos aumentos sigam a mesma proporção da última reunião até o meio do ano. No entanto, o mercado pode se surpreender positivamente com um aumento de 0,5% ou níveis com uma elevação superior a 1,0%.
Que oportunidades e riscos os investidores devem considerar ao planejar suas estratégias para os próximos meses?
Com certeza precisamos ficar de olho na inflação e no risco fiscal. Já em nível global, a política de juros dos Estados Unidos e o possível aumento do risco fiscal com o grupo de Trump devem ser analisados continuamente.
Como os investidores podem se preparar para possíveis cenários de instabilidade gerados pelas decisões de Trump?
Trump nunca foi considerado um presidente estável. Acho importante analisarmos as medidas adotadas em seu mandato anterior, pois é provável que ele siga uma linha semelhante. Setores como energia, armamento, tecnologia e saúde devem ser beneficiados.