Quais os Desafios do Transporte Sustentável no país? São muitos, na verdade, e ultrapassam as relações de mobilidade urbana, porque provocam a discussão transversal. A observação de Victor Callil, do Cebrap, foi corroborada pelos demais participantes da Mesa Redonda promovida pelo Itaú, no último dia 23. Do racismo ambiental ao futuro das baterias dos ônibus elétricos discutiu-se como encurtar caminhos para tornar as cidades mais inclusivas.

Huri Paz, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap, criado por professores universitários independentes e que marca presença na discussão dos principais temais nacionais há mais de 50 anos), abriu a Mesa Redonda – realizada na sede do BBA, pelo Projeto Bike do Itaú, em São Paulo — abordando a questão do “racismo ambiental” que o pastor Benjamin Chaves levantou na década de 1980, nos Estados Unidos. Segundo esta, o modelo tradicional de desenvolvimento aprofunda as desigualdades ao colocar as minorias sociais, como índios e negros, em localidades sujeitas a enchentes e à degradação ambiental (como lixões e outros depósitos de resíduos sólidos). A este somam-se outros fatores, como a dificuldade maior de mobilidade pela cidade (seja ela qual for) porque nas franjas existem menos ônibus e mais usuários do transporte coletivo, bem como a qualidade da frota que circula na periferia é pior, além de se detectar facilmente a falta de ciclovias.

Mariana Batista, membro do C40 Cities (que estuda soluções para 40 cidades, no mundo) e atual mestranda na Universidade de Oxford, lembrou que os ônibus elétricos – em teste desde 2014 – avançam de forma veloz, na China em especial e agora em países europeus e América Latina também. O Brasil tem hoje uma frota de 350 veículos (inclusos aqui 200 trólebus) circulando e, como os ônibus movidos a diesel não entram mais em São Paulo, por decreto do prefeito, deverá ocorrer expansão proximamente. Os números comentados (superiores a 2.000), de futuros ônibus elétricos na capital, provocam ceticismo na mesa de discussão, especialmente porque entraremos em ano eleitoral, em 2024. Ao lado do colega Rogério Rai, do Pedale-se, de Aline Cavalcante, do Cmob (Clima e Mobilidade), e de Renata Falzoni do movimento Bike é legal, que abordaram as ciclovias e o tempo médio que um morador da periferia gasta para alcançar um hospital ou unidade de saúde (o dobro em relação aos moradores do centro), Mariana Batista falou de São José dos Campos (a 100 km da capital de SP) e seu corredor verde, além de peculiaridades de Belém, Salvador e Vitória.

Não faltaram críticas ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), de parte da Cmob, já que a instituição financia infraestrutura rodoviária nas cidades de João Pessoa, Florianópolis, Vitória, Goiânia e Belém, mas privilegiando os carros. No Continente, Argentina e Uruguai começam a se estruturar nessa questão do transporte sustentável, mas cabe destacar que a Colômbia já tem 1.500 ônibus elétricos rodando e o Chile 2.000.  À pergunta da reportagem do Portal Acionista se o custo de implantação do trólebus (cuja tecnologia o Brasil conhece desde os anos 1940) não seria menor que o dos ônibus elétricos atuais, a representante do C40 disse: “Onde existir estrutura de trólebus, continua”.

Ao final, a anfitriã Luciana Campos observou que a discussão irá prosseguir porque o Projeto Bike do Itaú não é só o projeto em si. “Queremos apoiar a sociedade civil como um todo”, frisou, antes de anunciar novo estudo com o Insper, com divulgação para breve, sobre sustentabilidade.