O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) de julho registrou alta de 0,30%, acima da projeção do Itaú BBA e da mediana das expectativas do mercado financeiro, ambas de 0,22%.

Em doze meses, o IPCA-15 acumula alta de 4,40%, contra 4,10% em junho.

A economista Luciana Rabelo afirma que, além de ter visto acima das expectativas, o indicador traz uma “abertura pior do que a esperada, especialmente em função da aceleração dos serviços subjacentes”. De acordo com ela, os números mostram que “a mínima do ano deve ter ficado em junho”.

Para frente, Rabelo espera que o componente de serviços siga pressionado, em reflexo ao mercado de trabalho apertado. O Itaú BBA aguarda uma aceleração dos bens industriais, como consequência do câmbio mais depreciado.

Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, destacou notícias positivas na leitura. 

Os serviços intensivos em mão de obra vieram em linha com o esperado, de acordo com a economista. Na métrica dessazonalizada e anualizada, este grupo apresentou alta, em reversão ao movimento de aceleração.

“Vale comentar que as medidas de difusão e medianas mostram a inflação lateral, ou seja, explicam que o dado de hoje tem avaliação de aceleração pontual. Em linha com esta leitura, a nossa medida de mediana dessazonalizada de serviços subjacentes desacelerou na margem assim como os serviços inerciais (para 4,34%) e na média de três meses permanece de lado”, comentou.

A Warren Investimentos projeta um IPCA de 4,20% para 2024 e de 4,0% para 2025, com balanço de riscos equilibrado neste ano, visto que analistas esperam -0,15 p.p. de alívio nas contas de energia, pela securitização da Eletrobras (ELET3)(ELET6), deste ano e, por outro lado, a depreciação cambial equilibra.

Para 2025, a plataforma vê riscos altistas para a projeção, por bens industriais.

Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, destacou que a surpresa veio em cima de passagens aéreas e combustíveis, mas sem tendência de alta para a inflação nos próximos meses, por serem voláteis.

“Não causa ruídos e não influencia a leitura de que a inflação continua controlada. No entanto, não está desacelerado o necessário para a meta de 3% do BC”, pontua.

Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, aponta que os números podem alimentar expectativas de que a taxa referencial Selic não somente deve permanecer nos atuais 10,50 por cento, mas também deve trazer à mesa “um componente de especulação sobre uma eventual alta dos juros”.

Foi o que apontaram analistas da Guide Investimentos. Em relatório, destacaram que o dado acrescenta motivos para o Comitê de Política Monetária (COPOM) sustentar um “pulso firme” na condução da política monetária, principalmente em um ambiente caracterizado por forte pressão sobre o câmbio.

Ainda assim, os especialistas não enxergam necessidade de subir os juros nas próximas decisões porque consideram o patamar atual da taxa básica de juros Selic suficientemente contracionista para que a inflação convirja para a meta no horizonte relevante para a atuação da política monetária caso se sustente na maior parte de 2025.

“Ainda assim, entendemos que há uma assimetria para cima no balanço de riscos para a inflação (câmbio em patamar mais elevado do que o previsto por nós e pelo mercado, manutenção de impulso fiscal em 2025 e vitória de Donald Trump, que pode consolidar apostas em um juro longo mais alto por mais tempo nos Estados Unidos), que, caso se sustente, deve pedir um juro ainda mais contracionista no próximo ano”, comentaram os analistas Victor Beyruti Guglielmi e Yuri Alves.

Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, corrobora a visão e avalia não ser o momento de novas altas para a taxa de juros, mas pondera.

“Fica claro que o impulso fiscal recente, com o forte aumento das despesas públicas no ambiente de mercado de trabalho aquecido, tem impacto negativo na inflação, principalmente nas medidas de serviços mais sensíveis a salários. Juros reais acima de 6% não estão suficientes para a convergência mais rápida da inflação para meta e vemos um cenário de juros altos no atual patamar de 10,5% por mais tempo”, avaliou.

Na avaliação da economista, o risco no cenário atual voltou a ser uma eventual elevação nos juros, caso o governo mantenha o patamar de expansão fiscal, “que impacta tanto a taxa de câmbio, devido à percepção de maior risco pelos investidores, como estimula a demanda em um ambiente de crescimento do PIB próximo do potencial“.

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