Quando, na segunda metade dos anos 1970, deixei de operar nos mercados brasileiros para me dedicar exclusivamente às Bolsas e derivativos americanos, na verdade só um dado econômico interessava.
Estou me referindo à trade balance (balança comercial) que os analistas e traders chamavam de trade deficit, simplesmente porque era sempre deficitária.
Alguns especuladores e investidores até se lamentavam porque não adiantava nada estudar os fundamentos do mercado porque no final o trade deficit é que determinava tudo.
Os anos se passaram e a estatística mais importante passou a ser o unemployment (desemprego). Mas logo um dado, também sobre o emprego, começou a se destacar.
Refiro-me ao US nonfarm payroll jobs (crescimento ou redução do número de empregos não agrícolas).
Esse dado sai sempre na primeira sexta-feira do mês e hoje é a primeira sexta-feira de agosto. A hora de divulgação é sempre oito e meia da manhã, horário da Costa Leste Americana, que nesta época do ano fica uma hora atrás do Brasil.
Ou seja, aqui o payroll sai às 9:30, quando estamos no meio da reunião matinal da Inv.
Hoje esperava-se um crescimento de 250 mil empregos e o número que saiu foram impressionantes 523 mil, mais do que o dobro das estimativas. O percentual de desemprego foi de 3,5% (a expectativa era de 3,6%).
Essa alta do payroll, além de ser enorme, significa que os EUA já recuperaram todos os empregos perdidos por causa da Covid.
Para o mercado de ações, esses números podem ser interpretados de duas maneiras.
Visão otimista: a economia está explodindo (no bom sentido do verbo) sem nenhum sinal de recessão, que seria a tal hard landing (aterrissagem forçada), tão temida.
Visão pessimista: com inflação e pleno emprego, o ciclo de alta do FED deverá perdurar por mais tempo.
No pré-mercado futuro, o S&P500 está caindo 1%, sinal de que o mercado não gostou do overheating (superaquecimento) econômico. Mas essa reação poderá mudar ao longo do dia.
A conferir.
Ivan Sant’Anna, trader, escritor e colunista Inv Publicações.