No último sábado (6), a candidatura à presidência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que conta com o ex-governador paulista Geraldo Alckmin como vice, foi registrada de forma oficial perante o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Juntamente, foi registrado o plano de governo da chapa, que tem sido destacado hoje como se fosse uma novidade.

No entanto, é literalmente o mesmo documento que foi chamado de “Diretrizes para o Programa de Reconstrução e Transformação do Brasil”, que cobrimos detalhadamente neste Relatório Especial Ou seja, não tem nenhuma novidade, as matérias de hoje são apenas um assunto já coberto sendo requentado.

Contudo, na época da divulgação do documento pela primeira vez, a grande parte do jornalismo econômico parece não ter dado muita atenção ao conteúdo, e talvez por causa da maior proximidade do evento eleitoral, o escrutínio tem se provado maior agora.

No meio do caminho, inclusive, alguns temas mais polêmicos que continuam no “plano de governo” já foram retratados pelo próprio candidato em entrevistas, como a intenção de desfazer a reforma trabalhista de Michel Temer.

Porém, o que me chama a atenção é que o mercado nos últimos 30 dias parece ter adotado uma visão de que o resultado da eleição não importa muito, como se os candidatos tivessem mais semelhanças do que diferenças.

Isso tem se provado verdade em alguns quesitos específicos, com essa aproximação vindo dos dois lados. Em outro exemplo, Lula disse que pretende manter o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Por outro lado, Bolsonaro fez na Petrobras aquilo que algumas pessoas temiam que o petista faria: começar a interferir na gestão da empresa. Não na mesma intensidade, mas algo mudou. E o uso de programas sociais, e o decreto do estado de emergência para fins eleitorais e para burlar o teto de gastos, quase que adianta uma promessa do ex-presidente. De fato, são diversas semelhanças.

Logo, vamos então às diferenças e, dado que somos uma casa de análise, as que têm impactos mais diretos com nossos investimentos.

Um governo de Lula, no lado macroeconômico, busca juros mais baixos e tolerar uma inflação mais alta. Uma forma tradicional de tentar ajudar e isso se consolidar, é um maior intervencionismo na política cambial, forçando a taxa de câmbio para baixo. Como todas essas atitudes são hoje atribuições do nosso Banco Central independente, elas virão como requisitos do Conselho Monetário Nacional.

No entanto, o órgão dá diretrizes e não entra no detalhe de como o processo deveria ser feito. Nesse sentido, podemos imaginar um certo conflito entre Fazenda (ou Economia) e a atual diretoria do BC.

No campo fiscal, acredito que o governo não irá se comprometer com metas ou níveis objetivos como é hoje até por falta de cobrança do mercado e leniência vista através do baixo prêmio de riscos nas curvas de juros futuros. Dirá que fará o que tem que fazer e é isso.

No lado das empresas estatais, é certo que deverá parar qualquer tipo de processo de redução da empresa, que também será usada para ajudar a aliviar a inflação, o que dependendo do nível do preço internacional do petróleo, pode ter consequências pouco ou muito nocivas à empresa.

Além disso, deverão usá-la para fazer investimentos. Será que vão construir uma refinaria? Parece difícil com o compromisso com a agenda ESG, mas não duvido de algo grandioso nesse sentido que deixaria a empresa endividada e, de novo, mais fragilizada.

Com relação aos bancos, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES, eles seriam usados para a expansão de crédito, o que pressionaria a inflação, aquecendo o mercado do varejo no curto prazo, mas que sempre têm consequências negativas de longo prazo.

E por último, do ponto de vista político, não acredito que seja tão trivial obter apoio do Congresso de forma ampla como foi no passado nem que sua popularidade e aprovação estariam garantidos.

Diferentemente do passado, a partir do orçamento impositivo, o Legislativo passou a ter um poder muito maior e, portanto, muito menos depende da “caneta” do presidente para aprovar seus projetos, algo que Lula já disse explicitamente que vai tentar reverter. Essa briga não será fácil e vai mostrar um cenário bem diferente do passado, o qual o Executivo e o Legislativo conviviam de forma quase simbiótica.

Uma consequência disso é que Lula talvez não consiga cumprir algumas promessas de campanha, o que teria impacto direto na sua popularidade, processo que estamos vendo no Chile e na Colômbia depois da eleição de dois candidatos de esquerda. Grande parte de quem vota nele, espera que sua entrada seja para resolver os problemas do povo de forma rápida e poderão ficar decepcionados ou até bravos se isso não ocorrer.

Logo, temos uma eleição ainda dividida. Difícil ser assertivo num mundo complexo, com diversos fatores binários e com uma agenda política que como vimos, tem mudado para os dois candidatos.

O que fazer neste cenário? Ficar com menos risco, ainda mais depois do rally recente nos mercados, e com mais caixa.

O mundo de 2022 é bem diferente do de 2002.

Rodrigo Natali, estrategista-chefe na Inv Publicações.

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