No início da semana, publicamos um artigo chamado “O grande acionista quer receber dividendos”. Nele, já cogitávamos o “risco” de empresas estatais distribuírem um dividendo maior que o usual por conta de fatores políticos. Bem, não demorou muito para que tal tese se concretizasse. Ontem (28), junto com a divulgação de seus resultados, a Petrobras (principal fonte de dividendos do governo) anunciou o seu pagamento trimestral.

Até aí nenhuma novidade, pois ela sempre faz isso, principalmente em momentos como o atual em que o petróleo e o dólar negociam a patamares elevados. O que assustou e, ao mesmo tempo, animou o mercado foi o tamanho dessa distribuição, R$ 6,73 por ação. Um montante equivalente a R$ 87 bilhões de reais ou uma renda de incríveis 20% sobre o preço de fechamento da ação no dia.

Como comentei, é claro que o cenário para a companhia é muito favorável e pôde potencializar seu resultado que, de forma geral, foi excelente e não é isso que estou criticando aqui, mas sim dando uma visão diferenciada para a boa notícia.

De acordo com a atual política de distribuição de dividendos, quando há uma dívida inferior a US$ 65 bilhões e resultado positivo, a companhia deverá distribuir aos seus acionistas 60% da diferença entre o resultado operacional e os investimentos feitos. Já adiantando os cálculos para você, esse montante, se seguir a política à risca, seria equivalente a R$ 40 bilhões, valor bem inferior ao anunciado.

Então, de onde veio todo o resto? O mesmo documento prevê a possibilidade de se fazer pagamentos extraordinários, caso eles não comprometam a sustentabilidade financeira da petroleira e é justamente daí que o excesso está vindo. Hoje, a Petrobras possui um caixa de US$ 20 bilhões, suficiente para pagar esse excedente de aproximadamente US$ 9 bilhões que só será depositado para os investidores na segunda parcela do dividendo, lá em setembro de 2022.

Para o governo, que embolsa aproximadamente um terço do dividendo distribuído, isso representará quase 30 bilhões de reais, montante quase suficiente para cobrir a nova despesa com o Auxílio Brasil, estimada em R$ 41 bilhões. Ou seja, está pronto o argumento de que apesar da Petrobras não ter baixado os preços dos combustíveis, ela “financiou” o aumento das despesas com o programa, além dos benefícios para os diretamente afetados, como os caminhoneiros e os taxistas.

Nícolas Merola, analista CNPI na Inv Publicações.

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