Na tarde de ontem, a Natura anunciou via fato relevante que está realizando estudos para uma possível oferta pública inicial ou spin-off de uma de suas subsidiárias, a Aesop. Entenda por que a companhia deseja realizar essa operação neste Relatório Especial.   

Nos últimos anos, a Natura adquiriu três marcas globais, a inglesa The Body Shop, a gigante Avon e a australiana Aesop. Para realizar as aquisições destas marcas globais, a Natura se endividou. No entanto, os resultados, principalmente por conta das operações da Avon, não foram os esperados inicialmente nem pela Natura nem pelos investidores, como falamos no texto ‘Natura registra queda de 70%. A Dynamo está certa?’.  

A sequência de resultados abaixo do esperado fez com que as ações do grupo caíssem cerca de 78% nos últimos 18 meses. Além disso, a empresa ainda se envolveu em um problema de governança na época da divulgação dos resultados do segundo trimestre de 2022 (com números que também vieram abaixo do esperado). Na época, a Natura, antes da divulgação, contatou um grupo de analistas para explicar o que estava acontecendo. O mercado não gostou e as ações caíram fortemente mais uma vez. 

Com essa sequência de eventos negativos, em junho de 2022, a companhia optou por trocar o CEO Roberto Marques por Fabio Barbosa. Explicamos melhor sobre essa movimentação no texto ‘Natura: não é fumaça, é fogo’.

Com o cenário desfavorável e uma dívida líquida de cerca de 9 bilhões de reais, a Natura se viu em uma situação apertada de caixa. Por conta dessa situação, acreditamos que a empresa optará por realizar esse IPO da Aesop ao invés do spin-off.   

Quem é e quanto vale a Aesop?

A Aesop foi fundada em 1987 como uma marca australiana de cosméticos de luxo. Como dito anteriormente, a empresa, de propriedade da Natura, tem suas operações focadas em produtos de cuidados com a pele, cabelo e corpo. Nos últimos 12 meses, atingiu uma receita líquida de 2,6 bilhões de reais. A empresa vem apresentando um crescimento de suas receitas de 30% nos últimos anos e com uma geração de lucros antes de impostos, despesas financeiras e depreciação e amortização (EBITDA) de 622 milhões de reais. Ela, no entanto, vem tendo crescimento de apenas 3% no EBITDA por conta de dificuldades operacionais, principalmente por conta de sua entrada na China.    

Usando como base de comparação a L’Occitane, empresa que atua no mesmo segmento de cosméticos de luxo, com um valor de mercado de 3,9 bilhões dólares, a empresa negociou duas vezes sua receita líquida e nove vezes EBITDA. 

Neste sentido, estimamos que o possível IPO da Aesop poderia sair em uma faixa entre 2,6 bilhões de reais e 5,6 bilhões de reais, mesmo acreditando que o mais razoável seria a oferta ocorrer por volta dos 4 bilhões de reais.  

Serão feitas duas destinações para o dinheiro captado nesta operação e acreditamos que parte irá para a controladora por meio de uma oferta secundária, o que ajudaria a reduzir o endividamento da Natura, e a outra parte primária ficando dentro da Aesop, buscando financiar o crescimento das operações da marca de luxo.

Conclusão

Mas, afinal, essa operação é uma boa ideia? Em nossa visão, isso depende do valuation que a Natura conseguirá realizar nesta operação. Em um montante superior a 3,5 bilhões de reais consideramos uma estratégia válida. Por outro lado, se a empresa realizar essa operação muito abaixo desse valor, pode passar uma sensação de desespero por conta das dificuldades que a companhia vem enfrentando.

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João Abdouni, analista CNPI na Inv Publicações.

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