Antes de mais nada, gostaria de esclarecer que estou me referindo à cotação do dólar frente às demais moedas fortes, mais precisamente euro, libra esterlina e iene.

A relação dólar/real nada tem a ver com a argumentação que desfilarei abaixo.

Comecemos com os números:        

Na última sexta-feira, 23 de setembro, a moeda americana fez uma máxima de 20 anos contra o euro, de 37 anos contra a libra, e de 24 anos contra o iene.

Isso pode até ser bom para os consumidores americanos, que comprarão produtos importados mais baratos, mas é péssimo para a balança comercial dos Estados Unidos.

Tudo começou com a chegada da Covid-19 no cenário mundial, logo no início de 2020.

Com os setores de comércio, indústria e serviços fechados, os diversos países trataram de distribuir dinheiro para suas populações.

Só que isso, se contrapondo ao benefício das pessoas, provocou um efeito nocivo.

Houve gastança desmesurada, justamente num momento de escassez de matérias-primas, gêneros e insumos em geral.

Resultado: inflação mundial.

Como qualquer pessoa com algum conhecimento básico de economia sabe, inflação se combate com política monetária. Para falar português mais claro, com aumento de taxas de juros.

Jerome Powell, chairman do Federal Reserve Bank cometeu um erro de avaliação, ao supor que a alta dos preços se tratava de um fenômeno passageiro.

Quando o colegiado do FOMC (Comitê Federal de Mercado Aberto, na sigla em inglês), tirou a taxa de juros da banda 0,00/0,25% ao ano, a inflação americana já se encaminhava para dois dígitos, tendo chegado a 8,6% em maio deste ano.

Com o Banco Central Europeu e o Banco do Japão demorando a sair dos juros nominais negativos e o Banco da Inglaterra pagando apenas 0,25% ao ano (agora começou a elevar a taxa), o primeiro mundo em peso correu para o dólar.

É aí que mora o problema. Se o FED subir a taxa para 4%, e até além disso, como alguns estão prevendo, o custo do carregamento da dívida pública bruta americana de 30 trilhões será de 1,2 trilhão ao ano.

O problema da balança comercial dos EUA é ainda mais sério.

Nos anos 1980, quando eu operava moedas no mercado futuro de Chicago, houve uma ocasião em que ninguém olhava para os dados da economia americana a não ser para o trade déficit.

            Unemployment, payroll, CPI, PPI, housing starts, jobless claims etc., tudo isso ficava em segundo plano.

Tanto é assim que a gente chamava o mercado de “loteria do déficit”, déficit esse que influenciava, entre outros ativos, os índices de ações e os futuros de Treasury Bonds.

Pois bem, tendo a paridade das moedas chegado a uma distorção grave, houve necessidade de uma reunião dos dirigentes dos bancos centrais dos diversos países, em vez de lutar cada um por si.

Assim ocorreu o acordo do Louvre, que recebeu o título formal de “Statement of the G6 Finance Ministers and Central Bank Governors”.

Algo parecido terá de ser feito, desta vez, sob pena de um desarranjo generalizado.

Caso contrário, o mercado de câmbio poderá ser chamado de “loteria das moedas”.

Da Inv Publicações, Ivan Sant’Anna, trader e escritor.

Com a colaboração de José Inácio Pilar, apresentador e editor.

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