Na semana passada, o Banco Inter ingressou na bolsa de tecnologia de Nova York (NASDAQ), com isso, deixando a bolsa brasileira. Entenda os impactos técnicos dessa mudança e como ela explica parte da queda das ações do banco mineiro nos últimos meses.
O Inter veio ao mercado em 2018, na época, na bolsa de valores brasileira, com um projeto diferente no setor por meio da chamada disrupção dos bancos tradicionais, no qual uma série de instituições financeiras buscaram aumentar sua base de clientes através da prestação de serviços bancários mais baratos.
O plano de expansão da base de clientes foi muito bem executado e a empresa saltou de 1 milhão de correntistas para os atuais 20 milhões, conforme já falamos neste outro Relatório Especial no início do mês.
Neste período, o patrimônio líquido saltou de R$ 1 bilhão para R$ 8,5 bilhões, sendo a maior parte (R$ 5,5 bilhões) captado via follow-on (oferta subsequente de ações) em julho do ano passado.
Com isso, o banco atingiu ao menos dois de seus objetivos nestes quatro anos: aumentar de maneira relevante seu número de clientes, bem como seu capital.
Mas, afinal, o que causou a correção do Inter?
O Inter chegou a valer R$ 55 bilhões em um momento em que as taxas de juros no mundo eram muito baixas e grande parte da queda é explicada por conta dessa mudança do custo de capital visto que aqui no Brasil, a taxa de juros saiu 2% para 13%, o que levou muitos investidores para renda fixa e penalizou muitas ações de crescimento as quais têm o lucro voltado para o futuro.
Mas isso não é tudo. Recentemente, o Inter concluiu a migração de suas ações da bolsa brasileira para a Nasdaq, fazendo com que o banco tenha deixado de participar de uma série de índices como o Ibovespa e o MSCI.
Assim, grandes fundos passivos que têm como referência esses índices tiveram que vender participação na empresa. Fundos de pensão também precisaram se desfazer de suas posições pela mesma razão. Além disso, outros fatores como a inexistência de opções do Inter fizeram com que as ações da companhia perdessem liquidez.
De maneira geral suas ações viraram posições apenas para investidores com objetivo de médio e longo prazo, não mais participando de ETFs e uma série de outros fundos que hoje vêm sofrendo com fortes resgates e antes tinham posições na companhia. É importante também explicar que quando esse tipo de fundo vende uma posição, ele vende a qualquer preço, sem correlação ao fundamento.
Com tudo isso, o banco que chegou a valer R$ 55 bilhões, mas atualmente negocia a R$ 5,5 bilhões, valor que equivale a 70% de seu patrimônio (total de bens menos dívidas da empresa).
Nestes momentos, o mercado tem dificuldade de precificar com exatidão o valor justo da companhia, no entanto, a série de fatores técnicos que apresentamos, aumenta muito a probabilidade do investidor encontrar em INBR31 uma ação subvalorizada para investir.
João Abdouni, analista CNPI na Inv Publicações.