Logo que me mudei para Nova York, em janeiro de 1966, fui morar provisoriamente num hotel do Brooklyn Heights.

Certo dia, subindo com minha mulher no elevador, um americano que ia junto perguntou de onde nós éramos.

            “Brasil”

            “Oh, Brazil”, ele comentou. “Coffee and inflation”, concluiu.

Hoje às 09:30 de Brasília, 8:30 na Costa Leste Americana, o Departamento do Trabalho (US Department of Labor) divulgou a inflação dos Estados Unidos nos últimos 12 meses: 8,2%.

Com esse dado, o Brasil passou a liderar um pelotão de respeito:

Brasil: 7,1%

EUA: 8,2%

Reino Unido: 9,9%

Alemanha: 10,0%.

Não que 7,1% seja um número honroso. Muito antes pelo contrário. Desde o advento do Plano Real, em 1994, poucas vezes nós batemos ou ultrapassamos essa marca, por sinal bem acima do teto fixado pelo Conselho Monetário Nacional para este ano: 3.5%, com uma tolerância de 1,5% para cima ou para baixo.

Houve outras ocasiões nas quais o Brasil empatava, ou até ganhava, na corrida inflacionária com países desenvolvidos. Era quando Brasília enfiava goela abaixo do mercado um choque heterodoxo, com congelamentos de salários e preços e tablitas deflatoras, ou quando o Collor surrupiou a grana de todo mundo.

            Mas eram períodos de baixíssima duração.

Agora não. Na guerra contra o dragão, nós partimos na frente, com a taxa Selic saindo de 2% (março de 2021) e se elevando progressivamente até os atuais 13,75% que, ao que tudo indica, deve ser o final do ciclo.

Em outras ocasiões em que houve inflação mundial, geralmente causada por altas do petróleo, aqui no Brasil os preços também subiam, só que em proporções muito maiores.

Em 1974, por exemplo, a inflação nos Estados Unidos chegou a 10,9%, enquanto aqui foi mais do que o triplo: 34,75%.

Como a gente vive a realidade própria e não a realidade comparativa, esses números servem apenas de consolo.

Mas não deixa de ser um pouco gratificante saber que estamos liderando essa corrida para escapar das garras do dragão.

Ivan Sant’Anna.

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