Em um movimento de intensidade histórica, mas relativamente comum em mercados de baixa ao longo da história, os ativos de risco como um todo fizeram uma alta impressionante nas últimas semanas tanto aqui no Brasil como lá fora. No entanto, as coisas parecem que andaram muito rapidamente e alguns elementos pontuais, que começaram a pipocar ao longo dos dias, mudam de forma significativa a relação de risco-retorno, o que deveria ser um motivo de cautela.
O mercado de pré subiu 50 pontos-base na curva futura de 5 anos no Brasil esta semana, praticamente desfazendo um terço do movimento de melhora que tivemos, que foi usado por muita gente como justificativa pelas altas das empresas pequenas e, especialmente, as de varejo que ainda estão bem próximas das máximas recentes.
Mais do que isso, nesta manhã, os juros futuros de curto prazo, os de um ano, que refletem basicamente a opinião do mercado sobre a trajetória dos movimentos de juros do Banco Central, já se encontram no mesmo patamar da véspera da reunião do Copom no começo do mês. Esse mercado, que normalmente é mais técnico, ainda digere o leilão recorde feito ontem pelo Tesouro Nacional.
O mercado de câmbio internacional praticamente desfez a maior parte do movimento de melhora, com o dólar se apreciando mais de 3% contra as principais moedas desde o dia 11, resultando que o euro esteja novamente operando na paridade com o dólar.
A onda de calor no hemisfério norte tem se provado insistente, trazendo preocupações com a viabilidade de vias pluviais poderem se tornar gargalos de logística, além de aumentar o risco de outro choque de demanda nas commodities.
Os dados de inflação na Europa têm vindo piores, com destaque para a inflação medida pelo PPI da Alemanha divulgada nesta manhã, que trouxe uma alta de 5,3% para o mês de julho, acumulando 37,2% nos últimos 12 meses, e contra uma expectativa de 0.7%.
Alguns sinais de tomada de riscos irresponsáveis voltaram, com o movimento de maior destaque na ação da empresa Bed, Bath & Beyond, o que mostra que as condições financeiras não estão restritivas como o Fed indicou na sua última ata. Além disso, na prática, o balanço do BC americano não mostra que o QT tenha realmente começado na prática, uma vez que ele se encontra estável.
O fiscal do Brasil se deteriorou na margem, dado que foram anunciados mais gastos sem melhora esperada da arrecadação. Independentemente de o Brasil ter ou não capacidade para gastar mais, o quadro se deteriorou.
E a lista de pequenas coisas negativas continua e é muito longa. Nenhuma é contundente o suficiente para fazer o mercado corrigir por si só, mas estão todas lá visíveis, como rachaduras numa represa.
O patamar de preço dos ativos importa e o movimento foi muito rápido e muito apressado na renda variável local e, principalmente, na internacional. No momento, parece ser bem racional, mesmo para aqueles que são mais otimistas com o longo prazo, ter menos risco e reduzir posições otimistas para voltar depois. Uma correção de curto prazo parece iminente e num mercado difícil como temos vivido, esses movimentos podem ser muito dolorosos.
Mais do que isso, para poder se recomendar no futuro que se invista em ativos de risco, é fundamental que se recomende em algum momento o contrário. É hora de fazer caixa, provavelmente, teremos um bom uso para ele num futuro próximo.
Rodrigo Natali, estrategista-chefe na Inv Publicações.
Nota: Como reduzir risco? Como se proteger? Quais ativos servem com hedge, quais empresas estão caras? Para saber essas e outras respostas, pergunte diretamente para o autor dessa matéria através da série Você Gestor, da casa de análise Inv.