Na última sexta-feira (7), o fato relevante publicado pela Cosan surpreendeu o mercado. Nele, a companhia anunciava uma compra de 4,9% da Vale, com potencial de aumentar sua participação para 6,5%. É importante lembrar que, naquele momento, a Cosan possuía um valor de mercado de 34 bilhões reais enquanto a Vale, que subia quase 5% no dia, alcançava seus 375 bilhões em valor de mercado.
Como pode perceber, uma compra como essa é pouco intuitiva. Como estaria uma empresa de 34 bilhões comprando 6,5% de outra companhia mais de 10x maior que ela?
Bem, para isso, a empresa utilizou de uma estrutura complexa de financiamento que será o ponto focal deste Relatório.
A transação, que totaliza 24 bilhões de reais, pode ser dividida em três partes:
A primeira parte da transação, e a mais simples, resume-se à compra direta das ações da Vale por meio da Bolsa de Valores. Para isso, estimo que a companhia teve que desembolsar aproximadamente 5 bilhões de reais, valor compatível com o caixa atual disponível de 12 bilhões.
Entretanto, em uma entrevista para o Brazil Journal, Marcelo Martins, CFO da Cosan, esclareceu que essa aquisição foi custeada por um financiamento direto com os bancos Itaú e Bradesco. O pagamento do financiamento foi condicionado ao recebimento de dividendos de duas companhias que estão debaixo de seu guarda-chuva, a Raízen e a Compass. Ou seja, todos os recursos provenientes delas serão direcionados para o pagamento deste financiamento, com um prazo super alongado.
Neste caso em específico, a empresa está abrindo mão dos dividendos, por um período, de suas próprias companhias e, como contrapartida, passará a receber os dividendos da própria Vale.
A segunda parte, de 3,4% da companhia, é a mais complexa e a mais interessante pois daqui conseguiremos tirar algumas lições.
Para financiar a compra, a companhia montou um “financiamento protegido”. Esse financiamento constitui do uso do mercado de derivativos de ações, chamado de mercado de opções. Nesse mercado, o que se negocia não são ações, mas direitos e deveres.
Neste caso específico, a companhia utilizou uma estratégia chamada Collar – muito provavelmente um Zero Cost Collar – que se constitui da venda do direito de compra (call) das ações da Vale a um preço mais alto que o atual e na compra de direitos de venda (put) na mesma data a um preço mais baixo que o atual. Como o direito de compra é vendido a um preço semelhante ao direto de venda, a operação sai de graça para a companhia.
Na prática, essa estrutura faz com que a perda com a compra das ações da Vale seja limitada, mas, em contrapartida, o ganho com a alta dela também seja.
Com essa estrutura “amarrada”, a Cosan pode utilizar as próprias ações da Vale como garantia para o financiamento. Dessa forma, nessa segunda parte, ela não precisaria comprometer nenhuma de suas empresas, pois a operação estará autofinanciada.
A terceira parte, e última, é tão complexa como a segunda, pois utiliza exatamente a mesma estrutura. A diferença é que por ser uma operação exclusivamente financeira, ela não dá direito imediato de voto para a Cosan mas, caso aprovada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), pode ser convertida em mais ações.
No texto, dei uma ênfase menor aos pequenos detalhes da transação e se ela era boa ou ruim para a Cosan e para a Vale, pois quis destacar o grande potencial que o mercado de opções (que ainda está engatinhando no Brasil) tem. Através dele, conseguimos explorar alternativas completamente inusitadas de se expor ao mercado de ações tanto para potencializar retornos como para mitigar riscos.
E é utilizando todo o potencial desse mercado que a minha carteira, a Top Trades, tem atravessado todas as incertezas e acumulou um resultado de 9% em 2022 e 42% desde o seu início (jan./2020). Clique aqui para conhecer melhor a estratégia.
Nícolas Merola, analista CNPI na Inv Publicações.