Quem leu o primeiro dos dois capítulos desta história, sabe que Bebeto Louvadinha não pôde pagar seu débito rotativo no cartão de crédito e viu sua dívida subir de R$ 25.000,00 para 110 mil reais.
Se você não leu, sugiro que clique neste link antes de conhecer o desfecho deste drama do cotidiano.
Antes de bolar um plano para Louvadinha se desencalacrar, fui conversar com um amigo banqueiro, cara que é praticamente meu irmão.
“Ivan”, ele confidenciou, “a coisa que mais apavora um banqueiro é ter de lançar no balanço uma inadimplência. O banco vai fazer o possível e o impossível para receber do seu amigo qualquer coisa.” E me explicou como Bebeto Louvadinha deveria agir.
Como já foi dito no primeiro capítulo, os telefonemas começaram assustadores.
“Infelizmente”, disse a voz rouquenha do negociador, “vamos solicitar à justiça o sequestro de todos os seus bens, com exceção da casa onde você mora, porque a lei não permite. Mas o carro, seu título de sócio do Jockey Clube (eles sabiam de tudo), e tudo mais será apreendido por um oficial de Justiça. Além disso, você não poderá mais requisitar talões de cheque nem nenhum tipo de cartão do banco. Terá de pagar suas contas e compras em dinheiro vivo.”
Bebeto estava agora bem instruído e respondeu com a maior serenidade:
“Acho que vocês têm toda razão. Mas simplesmente não tenho como pagar os 110 mil, que a esta altura já devem ter engordado. Passar bem, senhor.”
No banco, o débito de Louvadinha mudou para um setor que usava um approach bem mais suave.
“Senhor Louvadinha”, disse o novo encarregado, “decidimos abrir uma exceção. Concordamos em congelar o débito em R$ 110.000,00 e o senhor paga em 24 parcelas corrigidas apenas pela taxa Selic.”
Bebeto nem fingiu que estava estudando a oferta. Respondeu de bate-pronto:
“Negativo. Já até me acostumei com o nome no Serasa. Estou gastando menos dinheiro, por falta de talão de cheques e de cartão. Mas só para que os senhores não pensem que sou intransigente, proponho pagar apenas meu débito inicial: 25 mil reais. Faço isso em 12 vezes, sem juros.”
Ao invés de responder com um desaforo, o funcionário do banco recusou polidamente a oferta. Imediatamente a dívida de Louvadinha passou para outro setor, caindo agora nas mãos de um funcionário cuja função era a de aceitar qualquer proposta, desde que eles não fossem obrigados a lançar o prejuízo do cliente no balanço.
Foi assim que meu amigo se livrou do débito do cartão e viu seu nome ser excluído da lista do Serasa. Mas o que mais o surpreendeu foi receber, alguns meses depois, uma carta do banco, oferecendo-lhe um novo cartão, logo um Plus Super Extra Diamante, com limite de gastos de R$ 50 mil e linha de crédito automático de trinta mil reais.
Ivan Sant’Anna, trader, escritor e colunista na Inv Publicações.