Certa ocasião, quando se iniciava mais uma Copa do Mundo, o jornal The New York Times anunciou que, nas quatro semanas seguintes, os Estados Unidos se tornariam a face oculta do planeta Terra.

Hoje em dia já não é tanto assim: muitos americanos acompanham a World Cup. Mas nada parecido com o que acontece no Brasil e outros países que têm no futebol sua maior expressão esportiva.

Pois bem, no próximo domingo, 20 de novembro, com a realização da partida inaugural, Catar x Equador, terá início a 22ª Copa e as atenções estarão voltadas para a cidade de Doha, à beira das águas mornas do Golfo Pérsico.

Será um torneio diferente, sendo a maior distância entre os dois estádios mais afastados um do outro de apenas 50 quilômetros. Para as 32 delegações não haverá deslocamentos cansativos nem mudanças de hotel.

O Catar é um país riquíssimo. Tem a maior renda per capita do mundo.

Eu estive em Doha durante seis dias, em outubro de 2008, ao fim de uma viagem de mais de um mês pelo Paquistão, onde colhi material para um livro, Terra de fronteira, cujos direitos de filmagem acabei vendendo para uma agência internacional, a RT Features.

Existem apenas 313.000 cidadãos cataris. O resto da população de 2,6 milhões de habitantes é composto por imigrantes, que fazem quase todo o trabalho.

Esses forasteiros podem ser distribuídos em duas classes: os empregados dos bancos, lojas, restaurantes, hotéis etc. e aqueles que fazem serviço braçal, principalmente na construção civil. Estes chegam lá com contrato assinado com um empregador local e têm seus passaportes apreendidos na chegada. O documento só lhes é devolvido ao fim do período contratado.

Os cataris se vestem com roupas beduínas típicas, sendo a dos homens brancas e das mulheres, negras, a delas cobrindo todo o corpo e deixando à mostra apenas os olhos.

Se a sociedade é exigente com seus nacionais, o mesmo não acontece com os imigrantes. Estes podem usar roupas ocidentais comuns, desde que não mostrem certas partes do corpo, como as pernas e os ombros.

Shorts, bermudas e camisetas de alça, nem pensar, embora pode ser que durante a Copa eles sejam mais tolerantes.

Eu fui jantar num shopping center com a cônsul do Brasil. Na entrada havia o seguinte aviso, em inglês: “Families only”. Isso é uma maneira disfarçada de proibir que os trabalhadores braçais, que chegam ao país sem suas mulheres e filhos, frequentem o local.

Enfim, o Catar é um emirado absolutista, cuja população, rica como é, não contesta o regime de governo. Nem teria razão para isso.

No sábado de 25 de outubro de 2008, fui convidado a visitar os estúdios da emissora Al Jazeera. Chegando lá, fui recebido por um editor. Conversando com ele, usei da maior franqueza ao criticar o trabalho semiescravo da construção civil, onde nem ar-condicionado havia nos alojamentos e nos ônibus que transportavam os trabalhadores – a temperatura chegava a mais de 50 graus centígrados no início da tarde, quando o sol a pino era de rachar.

Para minha surpresa, ele me convidou para falar sobre isso, no ar, ao vivo, nos estúdios da Al Jazeera English. Um amigo meu, Kamal Hyder, correspondente de guerra em Peshawar, no Paquistão, assistiu o programa e me enviou um e-mail comentando a entrevista.

Aos brasileiros que forem assistir a Copa, três conselhos simples mas úteis:

            – Não existe a menor possibilidade de um assalto. Pode sair à noite caminhando com seu Rolex de 10 mil dólares.

            – Ao atravessar a rua, também à noite, cuidado com um par de faróis à distância. Pode ser uma Ferrari ou Lamborghini a 200 quilômetros por hora.

            – Finalmente, o mais importante: se você é solteiro e se interessar por uma holandesa (ou dinamarquesa, ou argentina, whatever) que conheceu no estádio, lembre-se que, no Catar, sexo casual é crime punido com pena de prisão.

Um forte abraço,

Ivan Sant’Anna, trader, escritor e colunista na Inv Publicações.

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