Na semana passada, em conversa telefônica de duas horas e 10 minutos com o presidente Joe Biden, o líder chinês Xi Jinping alertou seu colega norte-americano que se a speaker da Câmara dos Representantes (House of Representatives) dos EUA, Nancy Pelosi, visitar a ilha de Taiwan (Formosa), que os chineses consideram uma província rebelde, Pequim daria uma resposta à altura.
A advertência foi forte:
“Those who play with fire will be perished by it” (aqueles que brincam com fogo, nele perecerão).
Aos 82 anos de idade, Pelosi é presidente (cujo cargo, tal como na Câmara dos Comuns da Grã-Bretanha, leva o nome de speaker) da House. Costuma ter vontade e atitudes próprias, mesmo quando a Casa Branca é ocupada por um colega de partido, tal como é o caso agora de Biden.
Pois bem, segundo fontes da província rebelde (que é como a China classifica Taiwan) Nancy desembarcará em Taipé amanhã.
A assessoria da speaker não confirma nem desmente a notícia.
Agora no terreno da especulação, qual poderia ser a reação militar dos chineses?
Se Pelosi chegasse (de avião ou de barco) pelo estreito de Taiwan, seria uma provocação extrema à China continental. Isso porque já que Pequim considera Formosa uma de suas províncias (embora rebelde) a faixa de mar entre o continente e a ilha é mar territorial chinês.
Chegando ela pelo outro lado (costa oeste de Taiwan), fica mais longe da China e a viagem se torna menos provocativa. Mas já que Jinping disse que haverá reação chinesa, fica desmoralizado se voltar atrás.
Na hipótese mais branda, os chineses poderão enviar jatos supersônicos, tirar voos rasantes e romper a barreira do som sobre a cidade de Taipé, o que causaria estragos do tipo quebra de vidraças e poderia provocar pânico na população.
Num pressuposto mais grave, as forças armadas chinesas empreenderiam um ataque militar à ilha.
Num momento em que a Rússia invadiu a Ucrânia, e que o mundo está atravessando uma série de tribulações (pandemia, inflação, crises bancárias), só faltava uma guerra envolvendo China e Estados Unidos para que o caos se instale de vez.
Nancy Pelosi é uma mulher imprudente, teimosa, independente e destemida. Já visitou o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong Un. Mas desta vez ela está pondo o mundo em perigo se insistir em sua “diplomacia” pessoal, sem ouvir a Casa Branca, o Pentágono e a Secretaria de Estado.
Ivan Sant’Anna, trader, escritor e colunista Inv Publicações.