Hoje o mundo (e, por conseguinte, os mercados) está em compasso de espera com todos os olhos e ouvidos ligados na ilha de Taiwan onde a speaker da House of Representatives dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, desembarcou para uma visita oficial.
Como o líder chinês Xi Jinping prometeu uma resposta militar caso a visita de Pelosi se consumasse, alguma atitude nessa área ele terá de tomar para não cair em descrédito junto ao seu povo e à comunidade internacional.
É até possível que, em absoluto segredo, órgãos de inteligência da China já tenham acertado, com seus análogos americanos, qual será essa retaliação e a “contrarretaliação” dos EUA.
Há precedentes.
Em 1962, quase houve um confronto atômico entre os Estados Unidos e a União Soviética, quando esta última instalou plataformas de lançamento de mísseis nucleares na ilha de Cuba.
O presidente John Kennedy decretou um bloqueio naval à ilha. Todos os navios soviéticos que estivessem navegando para lá seriam revistados pela US Navy.
Os cargueiros soviéticos deram meia-volta, regressaram para suas bases e as plataformas de mísseis foram desmontadas.
Para os americanos, foi uma vitória espetacular de Kennedy.
O que só se veio a saber muitos anos mais tarde é que Washington concordou em remover todos os seus artefatos nucleares instalados na Turquia, que ameaçavam, com seus bombardeiros B-52, o território soviético.
Isso foi visto, na União Soviética, como uma grande vitória do líder Nikita Kruschev.
Pode ser que enquanto Nancy Pelosi visita a ilha de Taiwan, os chineses ataquem alguma base, porto ou aeroporto taiwanês, sem causar muitas baixas e estragos, apenas para “honrar a ameaça” dada e, em contrapartida, façam algum tipo de acordo secreto com os americanos que legitime ainda mais sua posição em relação à província rebelde. O rótulo é de Pequim.
O que não vai acontecer é uma guerra nuclear entre as duas potências. Não por causa de uma deputada americana que tem a mania de adotar uma política externa própria.
Nota: por ocasião da crise dos mísseis de Cuba, época em que eu tinha 22 anos, até compus uma marchinha de carnaval que começava assim:
“Tio Sam ficou contrariado
porque em Cuba tinha teleguiado…”
Ivan Sant’Anna, trader, escritor e colunista na Inv Publicações.