Comparar duas possíveis políticas econômicas é algo complexo, que depende de diversas variáveis as quais ainda desconhecemos e com efeitos diretos e indiretos, às vezes, inesperados. Por isso, vamos fazer um exercício bem simples, como gostamos de fazer, mostrando a principal diferença entre como seria uma medida fiscal nos governos de Lula ou Bolsonaro, ambos usando um teórico espaço de 58 bilhões no orçamento para levar esses recursos à população.
Nessa hipótese, vamos assumir que a folga apareceu no momento atual e vamos mostrar que a diferença principal aparece na inflação. Não vamos considerar outros efeitos secundários, como os impactos no PIB potencial, na arrecadação, nos juros e na atividade.
Vamos aos dois cenários:
Plano Lula: com uma sobra de 58 bilhões no orçamento, o governo federal cria um programa de auxílio social que beneficia a população de forma desigual, mas principalmente aos mais pobres, que usariam a renda extra para consumir bens e serviços, acelerando o crescimento econômico e melhorando a qualidade de vida das pessoas.
Plano Bolsonaro: com uma sobra de 58 bilhões no orçamento, o governo federal corta impostos o que beneficia a população de forma desigual, mas principalmente os mais pobres, que usariam a renda extra para consumir bens e serviços, acelerando o crescimento econômico e melhorando a qualidade de vida das pessoas.
Semelhantes no intuito e em muitas consequências, existe uma grande diferença: ao cortar impostos, se reduz o preço de insumos e serviços. E criar demanda com um preço mais baixo ou mais alto faz toda a diferença porque afeta a dinâmica inflacionária. Por exemplo: no caso atual de corte de ICMS proposto pelo ministro Paulo Guedes, o BTG Pactual calculou que o efeito no IPCA deste ano poderia chegar a 290 pontos porcentuais, o que derrubaria a previsão de inflação para este ano de 8.89% para 5.99%.
No entanto, vale lembrar que o Plano Lula não seria possível com as regras de hoje. Seria necessário que se acabasse com o teto de gastos, algo que faz parte das suas promessas de campanha.
Rodrigo Natali, estrategista-chefe na Inv Publicações