Iniciativas planejadas e executadas por mulheres dos estados do Rio de Janeiro, Goiás e Pará são vencedoras da segunda edição do Prêmio Mulheres Rurais – Espanha Reconhece. O concurso tem como objetivo dar destaque às experiências que incentivem a autonomia econômica das mulheres rurais para promover a igualdade de gênero, aumentar a visibilidade delas e valorizar a diversidade como matriz do desenvolvimento econômico, social e cultural.

O Prêmio é promovido pela Embaixada da Espanha junto às representações no Brasil do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA); da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO); da ONU Mulheres e da Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI).

O papel da mulher nos sistemas agroalimentares

O Prêmio Mulheres Rurais Espanha Reconhece é realizado no marco das celebrações do Dia Internacional das Mulheres Rurais (15/10) no Brasil e em 2022 recebeu mais de 200 inscrições de coletivos de mulheres que trabalham pela autonomia econômica das produtoras. O tema prioritário desta segunda edição do Prêmio buscou visibilizar o papel das mulheres na transformação dos sistemas agroalimentares e, para isso, considerou o protagonismo feminino na agricultura e nos sistemas alimentares locais, na geração de renda, proteção do meio ambiente e mitigação das mudanças climáticas, além de reconhecer e valorizar o trabalho das mulheres no que tange às tarefas de cuidado com a família e comunidade e no fomento à formação de novas lideranças femininas.

“A Espanha está firmemente comprometida com a participação das mulheres em igualdade de condições na vida política, econômica e social, que com certeza é imprescindível para o progresso sustentável e inclusivo de nossos países” afirma Mar Fernández-Palacios, Embaixadora da Espanha no Brasil.

Agricultura familiar

De acordo com o IBGE, no Brasil, a agricultura familiar é responsável por 77% dos estabelecimentos agrícolas do país, empregando cerca de 10 milhões de pessoas, o que corresponde a 67% da força de trabalho ocupada em atividades agropecuárias.

“A perspectiva de gênero deve estar sempre presente de forma transversal, respeitando as diversidades e especificidades dos distintos grupos e garantindo a participação efetiva das mulheres rurais nos processos de tomada de decisão. Para isso, é preciso garantir igualdade de oportunidades e autonomia econômica. Apesar dos desafios, as conquistas das mulheres rurais avançam e a valorização de experiências exitosas é crucial para reconhecer sua contribuição para a erradicação da pobreza extrema e da fome, a garantia de segurança alimentar e nutricional, a preservação das tradições culturais, e para tornar visível o protagonismo da mulher no desenvolvimento rural”, disse o coordenador da Região Sul e representante do IICA no Brasil, Gabriel Delgado.

Mulheres: 43% da mão de obra agrícola

As mulheres representam 43% da mão de obra agrícola, de acordo com dados da FAO, mas ainda têm seu papel e importância negligenciados e estão fora dos principais espaços de decisão. No geral, as mulheres no campo também têm mais dificuldade de acesso à terra, ao crédito e a cadeias de alto valor, essenciais para sua subsistência e para o bem-estar das comunidades.

“Só será possível alcançar sistemas agroalimentares mais eficientes, inclusivos e sustentáveis se enfrentarmos as brechas de gênero que afetam as mulheres rurais. Em muitas regiões áridas, por exemplo, as mulheres assumem as tarefas agrícolas enquanto os homens migram para a cidade. Elas acabam exercendo um papel fundamental para a educação alimentar das famílias, e movimentam a economia do cuidado”, destacou o representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala.

Igualdade no campo

Apesar de as mulheres desempenharem um papel essencial desde o cultivo até a preparação do alimento dentro da agricultura familiar, têm seu trabalho muitas vezes visto como mera ajuda, como parte das tarefas domésticas e de cuidado.

“As mulheres rurais são a base da economia e do desenvolvimento sustentável. Apesar das vulnerabilidades e das múltiplas formas de discriminação que as mulheres rurais enfrentam, elas transformam os sistemas agroalimentares, desempenhando um papel fundamental na geração de renda, na proteção ambiental e na mitigação das mudanças climáticas. Mesmo assumindo uma parcela desproporcional do trabalho doméstico e de cuidados em suas famílias e comunidades, elas, no entanto, lideram pelo exemplo, capacitando uma nova geração de mulheres líderes rurais “, reforça Anastasia Divinskaya, Representante da ONU Mulheres no Brasil.

Trabalhar pela igualdade entre mulheres e homens no campo, reconhecendo o papel delas como agentes para o desenvolvimento sustentável, é fundamental para o alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU e para um para um mundo com mais oportunidade a todas e todos.

“As soluções para a pobreza, a desigualdade e a exclusão social exigem uma perspectiva de gênero, pois a discriminação se manifesta de diferentes maneiras. O Prêmio Mulheres Rurais é uma forma de reconhecer e valorizar a atuação das mulheres no campo, sua presença fundamental para a manutenção da família e influência positiva na comunidade”, afirma Leonardo Barchini, diretor da OEI no Brasil.

1º lugar: Rede Energia das Mulheres da Terra – GO

Com mais de 90 mulheres já beneficiadas, a Rede reúne projetos de implantação de energias renováveis e recursos hídricos. As mulheres do grupo constroem biodigestores, sistemas de abastecimento de água com bombas solares, de energia solar fotovoltaica, de captação de água de chuva e tanques de peixe agroecológicos para fortalecer as atividades produtivas de mulheres agricultoras familiares e suas organizações. A Rede, que  trabalha com tecnologias sociais e opera um Fundo Solidário, surgiu em 2017 e hoje é formada por 42 organizações de agricultura em 27 municípios do estado de Goiás, e até agora beneficiou nove organizações. O prêmio será incorporado ao Fundo Solidário da rede complementando a implantação de tecnologias para mais mulheres agricultoras, e também será utilizado na elaboração de projetos de captação de recursos para o “Energia das Mulheres da Terra – Fase 2”.

Agnes Santos e Gessyane Guimarães Ribeiro

2º lugar: Cooperativa de Mulheres Nativas – RJ

Na região de Arraial do Cabo, unir a sabedoria tradicional do manejo das plantas de restinga e a pesca artesanal foi a solução encontrada para aproximar as pescadoras que não saiam para o mar. Visando o aumento da renda familiar das mulheres, a preservação do ambiente de restinga e manutenção das tradições  do uso das plantas e a pesca artesanal, como objetivos, a Cooperativa foi criada, em 2015. Entre suas atividades estão os intercâmbios entre mulheres ou instituições, oficinas de pesca e culinária tradicional e a troca de conhecimento entre mulheres, como forma de inspirar novos grupos. Como resultados conquistados estão a autonomia e independência das mulheres, sendo uma forma de passar adiante saberes e fazeres para perpetuar a memória de uma população tradicional e incentivar o cooperativismo.

Zenilda Maria e Margareth Julião

3º lugar: Rede de Mulheres Mães do Mangue do Litoral do Pará  – PA

Visibilizar, reconhecer e fortalecer o trabalho das mulheres como guardiãs dos manguezais amazônicos é a missão da Rede Mães do Mangue, que articula mulheres representantes das 12 Reservas Extrativistas Marinhas do litoral do Pará. São mais de 700 mulheres extrativistas de 36 comunidades com o propósito de cuidar de mulheres para que elas possam continuar sua missão de cuidar da natureza, além de ser um espaço formativo para que as mulheres possam desenvolver seu protagonismo, potencial de liderança e  habilidades produtivas. Dentre as ações estão a educação financeira e a implementação de “fundos sementes” que promovem geração de renda por meio de pequenos incentivos a negócios produtivos relacionando a sociobiodiversidade dos manguezais.

Sandra Gonçalves e Edith Ribeiro

Parcerias – O concurso contou com o apoio dos seguintes Ministérios: Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Agricultura e Pecuária, da Integração e do Desenvolvimento Regional, da Pesca e Agricultura, das Mulheres, da Igualdade Racial, dos Povos Indígenas, do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome; e da Secretaria-Geral da Presidência da República, do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), do Serviço Social do Comércio (Sesc), da Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer) e da Rural Commerce, além do patrocínio das empresas Agrícola Famosa, Indra, Mapfre, Acesur do Brasil, Acciona e CMR.

(Enviado por Organização de Estados Ibero-americanos/Comunicação)

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