A pressão nos preços deixa os bancos centrais em alerta, é preocupante para a economia, mas, ainda assim, há oportunidades para o investidor”, afirmam gestoras.

A questão da inflação, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, tem sido um tema de constante preocupação para investidores e economistas. A afirmação é de André Colares, CEO da Smart House Investments, para quem a percepção atual de que a inflação brasileira está “em linha” com a americana sugere que, apesar das diferentes condições econômicas, ambos os países enfrentam desafios semelhantes para controlar a inflação

Nos EUA, a inflação persistente é impulsionada por pressões contínuas nos preços, devido a políticas fiscais e monetárias expansivas, bem como desafios na cadeia de suprimentos. No Brasil, embora tenha havido um cenário de inflação elevada recentemente, medidas de política monetária, como o aumento da taxa Selic, têm ajudado a mitigar essas pressões, embora ainda existam riscos”, explica.

“Essa dinâmica inflacionária tem implicações diretas nos investimentos. No Brasil, uma inflação ‘sob controle’, em certa medida, pode tornar o país mais atrativo para investidores em busca de retornos reais positivos, especialmente em renda fixa, devido à alta taxa Selic. Por outro lado, nos Estados Unidos, a persistência da inflação pode levar o Federal Reserve a continuar elevando as taxas de juros, afetando o apetite por risco e favorecendo ativos mais seguros”, diz.

O que isso significa para os investidores?

No que diz respeito ao interesse dos investidores estrangeiros no Brasil, Colares elenca que essa situação pode ser interpretada de duas maneiras. “Por um lado, taxas de juros mais elevadas e uma inflação relativamente controlada podem atrair investimentos, especialmente em títulos de renda fixa com altos rendimentos nominais. Por outro lado, a saída de capital estrangeiro da bolsa brasileira reflete, em parte, uma reavaliação global do risco, com investidores buscando realocar seus portfólios em resposta a incertezas econômicas globais, mudanças nas políticas monetárias dos principais bancos centrais e o potencial de desaceleração econômica”, destaca.

“Nesse contexto, os investidores brasileiros devem considerar cuidadosamente entre proteção e oportunidades. Para proteção, investimentos em ativos vinculados à inflação, como Tesouro IPCA+, ou em moedas fortes podem ser uma opção. Quanto às oportunidades, pode ser interessante explorar setores menos sensíveis à inflação ou que se beneficiem dela, além do mercado de ações em empresas capazes de repassar custos e manter margens”, ressalta.

“Em última análise, é preciso compreender o momento e saber lidar com as circunstâncias presentes. Diversificação é fundamental, e encontrar o equilíbrio entre segurança e risco pode proporcionar uma sensação de tranquilidade, mesmo diante das pressões inflacionárias”, frisa.

E a fuga de capitais?

De acordo com o economista Volnei Eyng, CEO da Multiplike, vários aspectos têm contribuído para a saída do capital estrangeiro da bolsa brasileira. “Entretanto, há uma manutenção em torno dos R$ 21 bilhões (fluxo dos pregões) que denota uma certa estabilização”, diz.

O que está no radar do investidor e o leva a tomar decisões, afirma, é a expectativa de um déficit maior no âmbito fiscal, no Brasil. “Com certeza, isso contribui para a fuga de capital, bem como a falta de empresas de tecnologia brasileiras entre as principais globais, com o fenômeno Nvidia sugando dinheiro do mundo inteiro”, pontua.

A Nvidia é uma empresa multinacional de tecnologia americana conhecida principalmente por seus processadores gráficos (GPUs) e unidades de processamento gráfico (GPUs). Fundada em 1993, tornou-se uma das líderes no desenvolvimento de tecnologias gráficas avançadas e soluções de computação visual, principalmente agora com o recurso da inteligência artificial.

Por fim, como fator preponderante para a fuga de capital da bolsa brasileira, Eyng cita a robustez da economia americana. Ele menciona o crescimento sustentado do país, bem como o baixo desemprego por lá. Também a inovação e tecnologia, aliada à resiliência do mercado financeiro. “Tem ainda a política monetária e fiscal, e a diversificação setorial”, aponta.

Contraponto

Fabio Murad, sócio da Ipê Investimentos, não crê na linearidade da inflação americana com a brasileira. “Elas divergem em sua trajetória atual. Enquanto os Estados Unidos enfrentam pressões inflacionárias, evidenciadas pelo índice PCE (Índice de Preços de Gastos com Consumo), o Brasil observa uma desaceleração da inflação, conforme indicado pelo IPCA-15, retornando a níveis mais moderados. Essa disparidade sugere que as políticas monetárias e fiscais adotadas no Brasil têm sido eficazes no controle da inflação, ao passo que nos Estados Unidos persistem preocupações inflacionárias que podem demandar ajustes na política monetária”, diz.

Segundo ele, a discrepância nas taxas de inflação entre os dois países têm implicações significativas para os investimentos. “Investidores podem optar por realocar recursos para ativos em países com inflação controlada, como o Brasil, a fim de preservar o poder de compra. Esse movimento pode favorecer investimentos em títulos públicos brasileiros, ações de empresas com perspectivas de crescimento e setores menos suscetíveis à inflação. Por outro lado, a persistência da inflação nos Estados Unidos pode direcionar investidores para ativos que se beneficiem desse cenário, como commodities e ações de empresas capazes de repassar aumentos de custos para os preços dos produtos”, destaca.

O investidor deve buscar proteção ou oportunidade?

Murad indica que a decisão de buscar proteção ou oportunidade dependerá do perfil de cada investidor e de sua tolerância ao risco. “Para os investidores mais avessos ao risco, pode ser prudente buscar proteção por meio de investimentos em ativos mais seguros, como títulos públicos de baixo risco, ou diversificar a carteira com ativos menos correlacionados ao mercado de ações. Por outro lado, para os investidores dispostos a assumir riscos, podem surgir oportunidades em ativos impactados pela saída de capital estrangeiro da Bolsa brasileira, como ações de empresas com boas perspectivas de crescimento a longo prazo e que estejam sendo negociadas a preços atrativos. No entanto, essa abordagem requer uma análise cuidadosa e profundo entendimento dos fundamentos das empresas e dos mercados envolvidos”, frisa.

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