O cenário fica preocupante, mas ainda não é um bicho-papão. O IBGE divulgou nesta sexta-feira (9) o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o conhecido IPCA que na real lê-se inflação. O índice variou 0,38% em julho, acima da expectativa que era de 0,35%. Assim, no acumulado em 12 meses a inflação acelerou para 4,50%. “Parte dessa aceleração na medida de 12 meses se deve ao efeito base desfavorável, uma vez que em junho de 2023 a inflação foi de 0,12%”, diz o relatório do Inter.

Para os analistas, o resultado de julho foi preocupante, mostrando uma deterioração das medidas que deveriam ser mais sensíveis à política monetária ainda bastante restritiva. “Chama a atenção a reaceleração da inflação de serviços, especialmente em meio ao mercado de trabalho aquecido, o que pode se mostrar um empecilho para o processo de desinflação e eventual retomada de cortes de juros. Ainda assim, a melhora no cenário internacional e consequente impacto no câmbio pode contribuir para evitar um cenário pior.”

Entretanto, os analistas do Inter mantêm a visão de Selic constante em 10,5%, “patamar que consideramos suficientemente restritivo considerando o horizonte mais longo”. A visão deles está condicionada ao cenário externo melhor, que possibilite o recuo da taxa de câmbio e que o dado divulgado nesta sexta seja pontual e não o início de uma nova tendência de reaceleração da inflação.

“Do contrário, a discussão de necessidade de alta nos juros poderá ser inevitável, especialmente após ata mais hawkish do Copom referente à última reunião.”

Preço da gasolina pesa no IPCA, diz economista

De acordo com Alexandre Lohmann, economista-chefe da Constância Investimentos, houve uma surpresa negativa nos preços dos alimentos, que foi compensada por um aumento expressivo no preço da gasolina, que subiu 3,15%.

“Essa alta se deve tanto ao reajuste de preços por parte da Petrobras quanto ao aumento do etanol, que compõem a gasolina vendida nos postos. Além disso, a passagem aérea, que já havia sido o “vilão” do IPCA-15, também repetiu uma variação significativa, contribuindo com 0,10 pontos percentuais na taxa final, quase um terço do total, o que é bastante relevante”, explicou Lohmann.

A taxa dos serviços ficou em 0,63%, o subgrupo G7, o que também é um a preocupação. Para o economista há uma clara aceleração desses preços, “mas metade dessa alta, em comparação com a leitura anterior, deve-se à pressão do seguro voluntário de veículos, que subiu 4,40%, impulsionado por reajustes significativos no Rio Grande do Sul. Teoricamente, espera-se que esse aumento não se repita nas próximas leituras.”

Por fim, para Lohmann o dado é preocupante, especialmente pela decomposição desfavorável e pela aceleração dos núcleos, que apresentaram uma média de 0,43%. “No entanto, parte dessa aceleração se deve a fatores pontuais, como o aumento nos seguros de veículos, além de itens voláteis como gasolina e passagem aérea. Assim, embora o número seja preocupante, não é alarmante.”