A Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou que o Índice de Confiança Empresarial (ICE) caiu 0,4 ponto em dezembro, para 95,2 pontos, e o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) recuou 3,2 pontos, para 78,5 pontos. Ambos recuam pelo terceiro mês consecutivo, refletindo o recrudescimento da pandemia no Brasil, o fim do período de concessão de auxílio emergencial e o cenário econômico desafiador para 2021.
No âmbito empresarial, o recuo da confiança tem sido moderado e conduzido pela revisão de expectativas. Em dezembro, o Índice de Expectativas recuou 0,3 ponto, para 97,8 pontos. Já o Índice da Situação Atual Empresarial, que vinha em alta há sete meses, já sinaliza desaceleração do nível de atividade corrente, ao cair 0,2 pto no mês.
A queda do NUCI industrial em dezembro é outro sinal de desaceleração do nível de atividade no mês. Mas mesmo após ceder 0,4 p.p. entre novembro e dezembro, o indicador, agora em 79,3%, ainda supera em 3,1 p.p. o nível pré-pandemia (fev/2020), compondo um quadro de aquecimento do setor.
Há três meses, tanto o indicador que mede a percepção corrente (ISA-C) quanto as expectativas futuras dos consumidores (IE-C) vêm recuando. O ISA-C registra queda de 2,1 pontos em dezembro, para 69,7 pts, tendo recuperado até agora apenas 30% das perdas ocorridas entre março e maio. Já o IE-C caiu 3,7 pontos no mês, para 85,6 pts. À exceção do pior momento da pandemia, no bimestre março-abril, o nível dos indicadores de dezembro retorna a patamares comparáveis aos do final da recessão de 2014-2016, refletindo tanto insatisfação com o presente quanto pessimismo com o cenário futuro.
O Indicador de Incerteza-Brasil da FGV IBRE recuou 3,5 pontos em dezembro de 2020, para 142,3 pontos. Apesar do resultado, o indicador ainda está 27,2 pontos acima do nível de fevereiro passado (último mês antes da chegada da pandemia ao Brasil) e 5,5 pontos acima do nível máximo anterior à crise, alcançado em setembro de 2015. O cenário ainda complicado da pandemia no Brasil tem contribuído para manter o indicador acima dos 140 pontos ao final do ano.
O Indicador de Incerteza Brazil da FGV representa a média ponderada de dois indicadores: o de menções a incerteza na mídia e o de dispersão de projeções econômicas quantitativas. O primeiro tem um desempenho pior mas não muito distante de indicadores internacionais comparáveis. O segundo subiu mais e continua muito elevado, sinalizando uma enorme dificuldade de se prever os rumos da economia brasileira. Um indicador similar ao IIE-Brasil-Expectativas para os EUA (fonte: EPU Project) cresceu 47 pontos no início da pandemia, chegou a 156 pontos em abril e fechou o ano em 130 pontos. O componente de Expectativas do Brasil cresceu 113 pontos a partir de março, chegando a 230 pontos em abril. Em dezembro, ainda estava acima dos 170 pontos.
Desde outubro de 2020, os níveis de estoques na Indústria apresentam níveis recordes. Nos últimos três meses, a proporção média de empresas com estoque insuficiente atingiu 13,6% das empresas.
Desde setembro, alguns subsetores têm dado sinais de aquecimento, como a indústria Têxtil; em que o NUCI está mais de 1 desvio padrão acima da média de 2010 a 2015.
Os indicadores de expectativas na Indústria em relação à evolução do Emprego (nos próximos 3 meses) e da Tendência dos Negócios (seis meses seguintes) subiram em dezembro, sinalizando que o setor continua otimista em relação ao primeiro semestre de 2021, a despeito da ligeira desaceleração da atividade em dezembro. O primeiro indicador está no maior nível desde abril de 2011 (112,0 pts.); o segundo, no maior nível desde abril de 2013.
A Confiança da Indústria continuou crescendo em dezembro, atingindo 114,9 pontos, o maior nível desde maio de 2010 (116,1 pontos). No mesmo mês, o setor de Serviços e a Construção subiram em 0,8 e 0,1 ponto, respectivamente. Apenas o Comércio recuou em dezembro, ficando pela primeira vez atrás do índice da Construção desde o início da crise.
Os setores econômicos vêm se recuperando de forma bastante heterogênea da crise sanitária de 2020. Esperava-se que esta tendência fosse perdendo força na medida em que as atividades fossem se normalizando e a economia se recuperasse. Não é o que vem ocorrendo. Apenas no setor industrial a confiança vem crescendo bem nos últimos meses. A confiança da Indústria atingiu 114,9 pontos em dezembro, 26,2 pts. acima da média ponderada dos demais setores, uma distância recorde. Chama atenção especialmente a distância de 28,7 pontos para a confiança do setor de Serviços.