Rússia e Ucrânia completam nesta sexta-feira (24) um ano de conflito. Milhares de vidas foram ceifadas, milhões de pessoas tiveram de deixar suas casas para tentar a vida em outros países e milhões de crianças abandonaram as escolas. Verdades e mentiras são espalhadas não apenas pela internet, mas também por fontes oficiais.
Para se ter uma ideia do desencontro de informações, o número de mortos varia, dependendo da fonte, de cerca de 7 mil, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), e mais de 300 mil, de acordo com fontes militares consultadas por mídias europeias.
Mas além de tantas mortes, destruição de cidades, o conflito gerou mudanças significativas no mundo, no geopolítico, economia, prejuízos.
Economia
Professor de Relações Internacionais do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Ricardo Caichiolo explica que o conflito entre Rússia e Ucrânia resultou em “modificação significativa no cenário geopolítico mundial”, o que, segundo ele, acabou por se refletir, também de forma significativa, na economia mundial, “com aumento dos preços de forma generalizada”.
“Praticamente o mundo inteiro passa por um processo inflacionário em suas economias internas, com aumentos nos preços de alimentos e do petróleo”, disse. “E a questão energética está muito sensível, principalmente na Europa, que ainda passa por um inverno, com problemas no fornecimento de gás que vinha da Rússia”, afirmou, referindo-se ao corte no fornecimento de gás russo para a Europa.
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Brasil
O Brasil também sentiu os efeitos da guerra em sua economia. “Obviamente fomos e continuamos impactados pelo conflito”, diz Caichiolo.
“Houve aumento da inflação e, então, medidas foram tomadas, como o aumento significativo da taxa de juros, o que causa impacto negativo no aumento da produção e no desenvolvimento das atividades econômicas dentro do país”.
“Em termos geopolíticos, o Brasil, ao longo do governo anterior [o de Jair Bolsonaro], se manteve com discurso relativamente neutro e, em alguns momentos, sinalizando apoio à Rússia para a garantia de envio de fertilizantes”, acrescentou, referindo-se à movimentação do então presidente em favor do interesse do agronegócio brasileiro.
Na opinião de Roberto Menezes, da UnB, “o Brasil não é neutro nesse conflito”. “O então presidente Jair Bolsonaro inclusive tomou o lado do mais forte, que é o da Rússia. Fomos muito comedidos quando era para condenar a invasão do território ucraniano. Tanto é que Bolsonaro não esteve na Ucrânia. Ele poderia ter saído da Rússia e ido à Ucrânia naquele momento em que a guerra não havia começado ainda. Mas preferiu sair de Moscou e foi direto à Hungria encontrar-se com seu aliado da extrema direita, Viktor Orbán”. (Agência Brasil)
O impacto no mercado financeiro
Para Luciano Feres, economista e CFO da Somus Capital, o mercado financeiro como um todo foi impactado: “Esse conflito traz escassez no mercado, seja por embargos ou por outros problemas. Com isso, observamos um aumento grande nos preços. Esse aumento acaba impactando a cadeia como um todo. As commodities são o primeiro produto na cadeia de produção e alimentação, consequentemente, o impacto acaba espalhando por quase todos os setores econômicos. O temor de uma briga nuclear também deixa o mercado muito estressado, resultando em investidores procurando ativos mais seguros e líquidos esperando pelo pior”, comenta.
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Os primeiros impactos da guerra
Os reflexos da guerra começaram a surtir efeito antes mesmo dos conflitos iniciarem. A tensão entre as nações existe desde 2014, quando a Rússia anexou o território da Criméia. Esses fatores políticos já davam sinais de um estresse financeiro e, com isso, investidores globais foram migrando ativos em busca de segurança e liquidez fora do eixo Rússia-Ucrânia.
“Muitos compradores de commodities, desde o início da guerra, começaram a realizar hedge ou procurar produtos fora desse nicho, inclusive pagando mais caro, nesse momento era o começo da inflação nos commodities no mundo”, afirma Feres.
A partir do cenário descrito, Europa ocidental e Rússia em crise, com alta na inflação e o consumo caindo, toda cadeia de produção, tendo a Europa como um grande consumidor, foi afetada. Ao mesmo tempo, a China voltou a abrir suas fronteiras para o comércio e a alta na inflação nos Estados Unidos indicou que existiam chances do mundo passar por uma recessão.
Quais foram os efeitos da guerra no Brasil?
“Analisando com um viés econômico, o Brasil se posicionou estrategicamente em sua declaração de neutralidade na guerra. Nosso país possui grande parte do PIB comprometido em commodities, tendo forte parceria com Rússia – importando diesel e minérios; e com a Ucrânia – importando fertilizantes e cereais. Com a posição neutra, o Brasil conseguiu manter as parcerias fundamentais”, diz o economista.
A economia brasileira também se beneficiou “ganhando espaço” em mercados internacionais, exportando commodities para países que utilizavam insumos russos e ucranianos, impossibilitados de negociar desde o início do conflito. Em paralelo, o problema de logística e inflação mundial nas commodities fizeram os valores dos produtos brasileiros registrarem alta de preços, gerando melhores resultados para as empresas e indústrias nacionais.
As “soluções” econômicas para o fim da guerra
Ambas as nações estão sofrendo as consequências do confronto. A Rússia está sob fortes sanções econômicas, sofre com uma falta de oferta de produtos em toda a sua cadeia e convive com uma inflação descontrolada, com sua moeda chegando a perder quase todo o valor. Já a Ucrânia tem, quase em totalidade, a guerra em seu território; cidades sem luz, sem gás e sem água; exércitos travando batalhas no meio de cidades fazem a economia praticamente parar em alguns pontos. O Banco Mundial estima que o país deva perder 35% da sua economia, sem contar o custo da reconstrução.
“O que podemos observar de interessante é a habilidade russa em conseguir se adaptar aos embargos impostos. A partir desse cenário, criar novas parcerias econômicas com China, Índia, e países do oriente médio seria uma saída estratégica para o país. A Ucrânia tem a esperança de reconquistar seus territórios com ajuda bélica de outros países, o que vem acontecendo lentamente, a produção de grãos e fertilizantes ainda consegue ser importante e oferece uma sobrevida ao país, mesmo que seja em um ritmo baixo”, finaliza Luciano.
Textos: Agência Brasil/AI Somos Capital- Edição: Cátia Chagas