Flash Macro | PNAD-Contínua/dez

Em linha com as expectativas do mercado, a taxa de desemprego da economia brasileira registrou queda no trimestre encerrado em dezembro de 14,6% para 13,9% ante o trimestre diretamente anterior. Na comparação com igual trimestre do ano passado, no entanto, as sequelas da pandemia seguem registradas: estava em 11% antes da pandemia, registrando alta de 3 p.p em relação ao último trimestre de 2019.

Com isto, o contingente de indivíduos foi estimado em 56,2 milhões, registrando alta de 4,5% na margem, o que equivale a mais 3,7 milhões de pessoas ocupadas. Em relação ao mesmo período do ano passado, no entanto, a queda segue alta: -8,9%, ou seja, uma redução de 8,4 milhões no número de pessoas ocupadas. A força de trabalho aumentou em 3,7% na margem, ou em 3,5 milhões de pessoas, mas segue com queda de -5,7% na comparação interanual.

Curiosamente, e a despeito do recrudescimento da pandemia a partir do final do ano passado, a taxa de participação da força de trabalho aumentou 1,6 pontos na margem para 56,8%. Em relação ao mesmo período do ano passado, no entanto, houve uma contração da ordem de 5,1 p.p. na taxa de participação. O valor ainda continua historicamente reduzido, indicando uma menor disponibilidade do fator trabalho.

Em relação às posições e categoria de emprego, houve um aumento de 1,8% no número de empregados no setor privado formal (com carteira assinada) na margem. Na comparação internual, este número ainda registra queda, embora menor, de 11,2%. O emprego informal (sem carteira assinada) aumentou 10,80% na margem, porém ficou 5,2% abaixo do nível verificado em igual trimestre de 2019. O contingente de trabalhadores por conta própria aumentou 6,8% na margem, mas também decresceu 5,2% na comparação interanual. Por fim, trabalhadores domésticos e públicos tiveram aumento na margem de, respectivamente, 6,3% e 2,8%. Na comparação interanual, no entanto, trabalhadores domésticos caíram 22,9%, mas empregados no setor público apresentaram elevação de 4,5%.

Na margem, as seguintes atividades apresentaram alta no emprego: Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (3,4%, ou mais 280 mil pessoas), Indústria Geral (3,1%, ou mais 333 mil pessoas), Construção (5,2%, ou mais 296 mil pessoas), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (5,2%, ou mais 792 mil pessoas), Alojamento e alimentação (6,5%, ou mais 249 mil pessoas), Informação, Comunicação e Atividades Financeiras, Imobiliárias, Profissionais e Administrativas (5,8%, ou mais 573 mil pessoas), Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (2,9%, ou mais 468 mil pessoas), Outros serviços (5,9%, ou mais 234 mil pessoas) e Serviços domésticos (6,7%, ou mais 314 mil pessoas).

Na comparação interanual, os seguintes agrupamentos seguem em terreno negativo: Indústria Geral (10,3%, ou menos 1,3 milhões de pessoas), Construção (11,8%, ou menos 803 mil pessoas), Comércio, reparação de veículos automotores e 7 motocicletas (10,9%, ou menos 2,0 milhões de pessoas), Transporte, armazenagem e correio (12,8%, ou menos 627 mil pessoas), Alojamento e alimentação (27,7%, ou menos 1,6 milhões de pessoas), Outros serviços (18,5%, ou menos 955 mil pessoas) e Serviços domésticos (22,3%, ou menos 1,4 milhões de pessoas).

O contingente de indivíduos que saíram da força de trabalho voltou a cair (-2,9%) no trimestre encerrado em dezembro, mas o quadro interanual deixa claro como a pandemia segue pesando sobre a oferta de trabalho. Em relação ao último trimestre de 2019, o percentual de indivíduos fora da força de trabalho registra vertiginosa alta de 16,5% para 10,8 milhões de pessoas. O percentual de indivíduos desalentados ficou estável no referido trimestre, mas segue com elevada taxa de variação positiva da ordem de 25,3%.

Por fim, o rendimento médio real habitualmente recebido em todos os trabalhos pelas pessoas empregadas foi de R$ 2.507; registrando queda de 4,2% na margem, mas alta de 2,8% na comparação interanual. 

Nossa visão:

Em linha com o processo de recuperação em curso, o mercado de trabalho registrou leve melhora na última leitura de 2020. Registrou-se, de modo geral, movimento positivos. A taxa de desemprego caiu, a taxa de participação aumentou e o contingente de indivíduos fora da força de trabalho caiu novamente. Vê-se que o emprego formal também caminha para um cenário mais positivo e, mesmo que fora do ideal, o emprego informal também retomou trajetória ascendente.

Não obstante, as comparações interanuais deixam nítido como o mercado laboral brasileiro ainda tem muito espaço para se recuperar por completo. Nesta comparação, o emprego segue pressionado e, mais preocupante ainda, a taxa de participação – que, como mencionado, mensura o grau de disponibilidade do fator trabalho para a produção – segue em nível historicamente reduzido. Ou seja, o mercado de trabalho, que em boa parte reflete a dinâmica do setor de serviços, registra movimento de recuperação demasiadamente mais lento do que os setores de bens, indicado pela forte recuperação do varejo e da indústria.

Compreendemos que muito dos problemas associados ao mercado de trabalho advém de sua natureza rígida, pouco discutida. O mercado de trabalho brasileiro, ao contrário de, por exemplo, o americano, é altamente inflexível, burocrático e, acima de tudo, custoso. O processo de contratações e demissões não se comporta de forma fluida justamente por conta da enorme burocracia inerente ao seu modus operandi. Atacar este problema, quiçá por meio do antigo plano de desonerar a folha de pagamentos, é proeminente para que seja aumentada a taxa de emprego com maior velocidade.

Olhando para frente, entendemos que os dados de emprego referentes aos primeiros meses do ano devem continuar registrando a mesma dinâmica: no máximo ligeiras melhoras na margem e, no mínimo, pioras. Ainda, há de se levar em conta que a demora em implementar uma nova rodada do auxílio emergencial pesará sobre o mercado de trabalho no primeiro trimestre do ano. Em um cenário de queda de demanda, tendem a se fortalecer pressões contracionistas sobre o mercado laboral., dificultando ainda mais a retomada do emprego. Ademais, compreendemos que o risco fiscal, na medida em que mantém a taxa de câmbio e inflação de alimentos pressionada, deve exacerbar a queda de demanda causada pela extinção do auxílio emergencial.

Alejandro Ortiz Cruceno

Alejandro Ortiz Cruceno

Economista pelo Insper, tem como principal foco de pesquisa a política monetária e fiscal. Integra a equipe econômica da Guide há um ano, produzindo relatórios de […]

26/02/2021

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