Light (LIGT3) – Possível RJ assusta investidores
A notícia de que a Light contratou os serviços de uma empresa especializada em Recuperação Judicial (RJ) assustou os investidores nesta semana. Em nossa visão, a RJ não é a única possiblidade para a empresa. A Light historicamente foi uma empresa de baixo retorno, em parte por conta das perdas elevadas na distribuição de energia. A maior parte destas perdas vem de regiões controladas por milícias e traficantes. A chamada “pacificação” nunca aconteceu, prejudicando os resultados da empresa. O fato de sua concessão estar próximo do vencimento também explica a dificuldade da empresa em rolar sua dívida: a concessão vence em 2026 (pouco mais de 3 anos) e por conta disto nenhum banco quer renovar empréstimos de longo prazo para a Light. Vale destacar que a Light realizou alguns aumentos de capital nos últimos anos visando reduzindo seu endividamento, mas como pode ser visto na figura abaixo, o aumento de capital apenas gerou um alívio temporário.

A Light pode pedir a renovação de sua concessão por mais 30 anos: pelas regras do contrato de concessão, o interesse na renovação precisa ser feito até junho de 2023. Contudo, o contrato atual é muito pouco rentável e uma renovação deveria ocorrer em termos mais favoráveis para a Light. É possível que a contratação da assessoria financeira tenha este objetivo: analisar a possiblidade de renovação de empréstimos até o fim da concessão atual junto com a negociação de uma renovação da concessão em termos mais adequados. Em caso de não-renovação, o governo deveria ressarcir a Light pelos investimentos feitos nos últimos anos e o valor a ser ressarcido, o que evitaria uma perda grande para os credores. Além disso, caso o governo receba a concessão de volta, uma nova licitação dificilmente seria aceita nos termos atuais. Ou seja, parece bom para o governo aceitar uma renovação da concessão em novos termos. Caso a concessão não seja renovada, é possível que o valor do ressarcimento seja muito próximo do valor da dívida. Contudo, isto só ocorreria em 3 anos.

Ambev (ABEV3) – Novas denúncias sobre práticas contábeis
Após o evento Americanas, as ações da Ambev sofreram com diversas matérias questionando as práticas contáveis da empresa, particularmente associando a empresa ao grupo 3G, controlador da Americanas e de empresas nos EUA que também passaram por problemas similares. A notícia mais recente trata de um problema diferente: uso indevido de isenções fiscais na Zona Franca de Manaus.

Segundo as notícias, a Ambev se aproveita de benefícios fiscais na Zona Franca mas de forma indevida, ao superfaturar o preço de alguns produtos isentos, gerando perdas aos cofres públicos e ainda gerando acusações de concorrência desleal. A Ambev se manifestou sobre o assunto ontem, chamando as alegações de “sem fundamento” e reforçando que todos os créditos tributários são calculados com base na legislação vigente. Além disso, a empresa destacou que os litígios mencionados nas notícias estão todos descritos em suas demonstrações contáveis, incluindo as demonstrações do 3T22 (os resultados do 4T22 serão divulgados no dia 02 de março) e no formulário de referência de 2021 (seção 4.6).

Como já destacamos anteriormente, após o caso Americanas a Ambev e suas ações ficariam sob escrutínio do público em geral, incluindo investidores, concorrentes, etc. Contudo, assim como havíamos dito no comentário anterior, algumas extrapolações são exageradas e acreditamos que boa parte das notícias são menos relevantes do que parecem. No caso específico da isenção fiscal noticiada esta semana, os valores estimados pela Ambev são de R$ 5 bilhões para litígios sobre IPI e PIS/Cofins na Zona Franca de Manaus e R$ 2 bilhões para litígios sobre o ICMS em outros Estados, totalizando R$7 bilhões, o que representa apenas 3% do valor de mercado da Ambev. Ou seja, bem menor que os R$ 30 bilhões mencionados nas notícias (R$ 30 bilhões representariam 15% do valor de mercado da Ambev).

Impacto: Neutro. mantemos nossa visão de que boa parte das notícias/acusações sobre a Ambev estão exageradas. Contudo, dados os riscos envolvidos, acreditamos ser apropriado buscar proteção contra eventuais perdas. Os resultados do 4T22 não devem ser bons (tempo foi ruim, custos ainda elevados) e as acusações contra empresas do grupo 3G devem continuar por alguns meses.

Eletrobras (ELET6): Primeiro PDV gerará mais economia do que o esperado
A Eletrobras, maior empresa elétrica do país, anunciou que a adesão ao seu 1º programa de demissão voluntária (PDV) teve adesão de 2.494 funcionários, acima dos 2.312 estimados. Como a adesão foi maior que a esperada, o custo estimado será de R$1,2 bilhão, com uma economia de R$1,1 bilhão/ano. O PDV foi anunciado junto com os resultados do 3T22.

Impacto: Positivo. O 1º PDV da Eletrobras representa mais um passo em direção a otimização da sua estrutura. O programa representa a diminuição de cerca de 20% da sua folha de pagamento.

Santander (SANB11): Números muito abaixo das estimativas
O Santander abriu a temporada de balanço dos bancos com fortes surpresas negativas. O lucro líquido do banco entregou queda de 58% a/a, alcançando R$1,7 bilhão, 45% abaixo do que era esperado para esse trimestre, encerrando 2022 com a soma de R$12,9 bilhões em lucro líquido (11% abaixo das nossas expectativas para o ano). O principal motivo para a queda é devido às despesas com novas provisões feitas pelo banco, que alcançaram R$8 bilhões (+19% t/t) e R$24 bilhões em 2022 (+73% a/a). Inadimplência de 90 dias (NPL 90) também seguiu subindo, atingindo 3,1% (0,3 p.p. acima das nossas estimativas), enquanto o NPL 15-90 cresceu 1 p.p. para 4,5%.

Apesar da piora do resultado financeiro, o Santander manteve um operacional estável, com o volume médio de crédito alcançando R$506 bilhões (3,1% acima do 3T22) e o seu mix de crédito melhorando, o que acarretou uma queda de 0,5p.p. no spread do banco. O crescimento das despesas do banco foi moderado, crescendo 7% a/a, em linha com a inflação de 2022. A carteira de crédito entregou crescimento de 6,7% a/a, impulsionado pelo crescimento de 8,4% no volume de crédito para pessoa física, principalmente devido ao crédito consignado e imobiliário.

Impacto: Negativo. O Santander entregou um resultado abaixo das expectativas e atribui parte desse resultado ruim à um “evento subsequente no segmento de atacado” que impactou as suas provisões. Acreditamos que parte desse provisionamento adicional de R$1 bilhão, entre o 3T22 e 4T22, pode ter sido causado pelas Americanas (o valor representa 28% da dívida da varejista com o banco). De toda forma, considerando o ano de 2022, o banco apresentou números aquém das expectativas do mercado, com nível de inadimplência elevado e lucro impactado por um mix de crédito mais saudável.

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Mateus Haag | CNPI-P 2942

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