O Grupo Soma juntou-se ao diverso setor de varejistas listadas na B3 durante o ano de 2020. A companhia surgiu da fusão entre as marcas premium Farm e Animale e tem expandindo a sua atuação através de diversas aquisições. A sua estratégia de crescimento difere dos principais concorrentes pelo modo com que a empresa realiza a integração das operações adquiridas, sempre mantendo a identidades e essência das marcas adquiridas, preservando o seu portfólio rico e diverso em termos de segmento, estilo e produto. A oferta pública (IPO) foi precificado no meio da faixa indicativa de preço, em R$ 9,90; e levantou cerca de R$ 1.3 bilhões, dos quais serão destinados para aquisição de novas marcas (47%); pagamento de dividendos referentes à exercícios passados (23,8%); amortização ou liquidação de dívidas vigentes (14,2%); investimento em tecnologia e omnichannel (8,0%); e abertura de novas lojas físicas e a modernização e retrofit das atuais (7,0%). Iniciamos a cobertura em SOMA3 com recomendação Neutra e preço-alvo em R$ 15,00.

A maior plataforma de marcas premium do país

Entre as 50 maiores empresas do e-commerce brasileiro, o Grupo Soma detém um portfólio composto por marcas de alto padrão voltadas para diferentes públicos (homens, mulheres e crianças) e ao mesmo tempo complementares. São no total nove marcas: Maria Filó, By NV (as duas aquisições mais recentes), Animale, Farm, Fábula, A. Brand, Foxton, Cris Barros e Off Premium. Sua operação física é quase toda própria, sendo 257 lojas da empresa e 25 franquias distribuídas por 23 diferentes estados brasileiros. Ainda, possuem cerca de 2.800 revendedores multimarcas, que os ajudam a alavancar as vendas e aumentar a capilaridade da operação. No canal digital, o grupo hoje trabalha com nove sites próprios e um aplicativo móvel da marca Off Premium.

Cultura digital e de inovação

A empresa se destaca por uma série de diferenciais dentro de um ambiente altamente competitivo do varejo brasileiro. O primeiro deles é a estratégia de preservar a essência de cada uma das marcas adquiridas, dando espaço para a liberdade criativa e o desenvolvimento de produtos de forma a criar um vínculo emocional entre cada uma e seus clientes. O grupo entende que a manutenção e o respeito às origens e ao DNA de cada marca, traz personalidade e diferenciação aos seus produtos e assim gera maior valor ao público. Ainda, a empresa trabalha em sua transformação digital desde que este movimento começou a se acelerar, ao longo dos últimos dez anos. Dessa forma, as novas marcas que foram sendo acopladas a operação do grupo, enxergaram o canal; desde o início, como uma oportunidade de alavanca para o crescimento de vendas. Por isso, estas hoje trabalham sua operação física e a digital como integradas, visando oferecer experiencia de compra diferenciada para o cliente e rápida entrega, que são fatores decisivos, e suas boas performances, com crescimento acelerado, mostram que este caminho vem gerando resultados. Por fim, a empresa ainda detém o Soma Labs, que consiste no seu laboratório de inovação, funcionando como um meio para acelerar soluções digitais para todas as suas marcas e processos corporativos, empregando tecnologias como Big Data e Inteligência Artificial. Entre as ferramentas desenvolvidas por este braço estão funcionalidades para auxílio no desenvolvimento de coleções; além de melhoria nas operações e gestão dos estoques, melhorando assim a rentabilidade, os prazos de entrega e a experiência do consumidor.

Pronto para o cenário atual

Pelos seus diferenciais descritos acima, como a ampla expertise no canal digital e operação integrada – as marcas vêm adotando estratégias omnichannel há cinco anos, o grupo se viu bastante preparado para enfrentar o período diverso que teve início em meados de março do ano passado. Para muitas varejistas, o fechamento das lojas físicas implicou em uma grande reestruturação da operação, mas para as marcas da Soma, o movimento ocorreu de forma muito menos estressante, e ainda gerou uma série de oportunidades, pois acabou forçando muitos a testarem a compra via e-commerce pela primeira vez e estes se surpreenderam com a agilidade dos websites e curtos prazos de entrega.

Benefícios fiscais

Destacamos a incidência de benefícios fiscais dos estados de São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro nos resultados da empresa, sendo os do último estado mais relevantes, conhecidos como “Lei da Moda”, permitindo que a empresa pague uma alíquota menor de ICMS (3,5%) sobre as mercadorias vendidas até dezembro de 2032, com possibilidade de extensão deste prazo, enquanto que sem este benefício a alíquota seria de 12% a 18%. Estes benefícios não são tributáveis e por isso colaboram para que a cia tenha uma base tributável menor. No ano de 2019, o benefício provindo da “Lei da Moda” totalizou a quantia de R$ 122 milhões, isto representou 57% do EBITDA e 96% do lucro líquido no exercício. Pelo fato de o benefício fiscal depender de uma Lei Estadual, existe sempre a possibilidade de cassação da Lei a depender dos interesses políticos do momento, com isso, avaliamos como um grande ponto de risco a operação, caso alguma mudança nessa lei aconteça até 2032.

Desempenho no último trimestre

A companhia reportou fortes resultados referentes ao 4T20, positivamente impactados pelo bom desempenho durante a Black Friday e Natal no período e ainda devido ao aumento de sua base de clientes no e-commerce e no omnichannel em 29 p.p. e 2 p.p., respectivamente, vs. o 4T19, implicando em um aumento da receita do e-commerce em 153% vs. o mesmo período no ano passado, chegando a R$ 209,3 milhões e da representatividade do canal na receita total, que chegou a 38% (+19 p.p. vs. 4T19). Na mesma base de comparação, contemplamos o avanço da taxa de recompra em 90 dias no e-commerce em 2,3 p.p., o que sugere; na nossa visão, boa qualidade do serviço e produtos oferecidos e consequente aumento da fidelização de sua base de clientes. Seus afiliados (lojas multimarcas) apresentaram um bom desempenho ao longo do último trimestre; favorecidos pelo aumento da flexibilização das medidas de isolamento ao longo destes meses; o que acreditamos que possa perder força durante o primeiro e segundo trimestres de 2021, com a deterioração da situação da pandemia no país. No entanto, reforçamos que a participação das multimarcas da receita consolidada não é tão relevante a ponto de pressionar sua receita ao longo desse 1S20. Por fim, destacamos a divergência entre a performance de suas diferentes marcas: a Fábula (recente aquisição do grupo) apresentou crescimento no 4T20, em conjunto com a Farm e Farm Global, que juntas representam parcela importante da operação da Soma, ao mesmo tempo em que outras grandes marcas do grupo, como Animale, Cris Barros e Off Premium, apresentara forte retrocesso no período, o que pode vir a ser um risco com os ganhos de algumas sendo ofuscados e comprometendo o desenvolvimento da cia. Esperamos que a companhia adicione ainda mais valor a sua operação ao longo de 2021, através da aquisição da marca By NV; que apresentou crescimento da receita de R$ 3 milhões para R$ 98 milhões entre 2016 e 2019 e da Lauf; primeiro movimento realizado pela Soma Ventures, além de novas possíveis compras estratégicas do grupo.

Nossa visão

Acreditamos que o cenário atual, com a piora do número de casos de infecção por Covid-19, campanhas de vacinação caminhando em um ritmo mais lento que a disseminação das novas Cepas e regressão das fases de reabertura em alguns estado, atrasa o processo de recuperação das empresas do varejo, que enfrentaram um tom mais positivo do mercado entre o final de 2020 e início de 2021. Ainda, destacamos os riscos relacionados ao forte impacto que a incidência do benefício fiscal tem em seus resultados e a grande divergência que cada uma das marcas vem apresentando em seu desempenho. No entanto, ressaltamos que a empresa possui operação digital bastante desenvolvida e um portfólio de marcas premium de grande participação no mercado. Acreditamos que os recursos do IPO e a incorporação das recentes aquisições à operação do grupo podem alavancar grande valor ao longo dos próximos anos. Ressaltamos que, por ser um case de crescimento, devemos nos atentar ao ritmo de crescimento das vendas mesmas lojas (SSS); do e-commerce, mas também uma manutenção saudável das margens. Destacamos os principais diferenciais da companhia: (i) e-commerce consolidado e em forte tendência de crescimento; (ii) marcas premium com margens elevadas (em torno 65% de margem bruta); (iii) resiliência de algumas marcas em meio a pandemia; (iv) pipeline de aquisições atraente. Contudo, a ação segue negociada a 30x Preço/Lucro projetado para 2021, em linha com seus principais pares do setor de varejo, e apesar dos diferenciais importantes na operação avaliamos que o valuation atual já incorpora um crescimento relevante das susas operações para 2021, além disso as difíceis perspectivas para o varejo físico ao longo do primeiro semestre de 2021 podem manter a inconsistência de crescimento entre as marcas observado ao longo de 2020. Por fim a grande dependência dos benefícios fiscais para manutenção da rentabilidade nos deixa menos otimista com o case. Assim preferimos manter uma certa cautela e iniciamos a cobertura do Grupo Soma com recomendação Neutra e preço-alvo em R$ 15,00. Destacamos que uma maior visibilidade do desempenho das novas aquisições e a recuperação do portfólio de marcas de uma forma mais homogênea; podem ser catalizadores para uma mudança de recomendação.

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Investir sem um preço-alvo é acreditar apenas na sorte