Criada em 1929, a companhia tornou-se S/A em 1940 e, graças à visão de seus fundadores, abriu o capital e cresceu, cresceu… Uma das ações mais antigas e, portanto, cultuadas na Bolsa brasileira, a Americanas (AMER3) virou pó na última quinta, 12, depois de seu presidente Sergio Rial renunciar, na noite anterior, junto com o diretor Financeiro e de Relações com Investidores, André Covre. Em Fato Relevante publicado, o CEO, no cargo há 9 dias, acabara de jogar a toalha, apontando um rombo de nada menos que R$ 20 BILHÕES nas contas da empresa. Resultado: o mercado entrou em polvorosa e queria mais explicações, já que o FR pouco esclareceu.

O conselheiro do Portal Acionista, e profissional de investimentos, Gustavo Guerses, foi uma das vozes que se levantou contra o descaso com que o mercado fora tratado naquele instante, tanto que publicou um texto, nomeado “Carta aos acionistas sobre caso Americanas” (https://acionista.com.br/carta-aos-acionista-sobre-caso-americanas-amer3/). Enquanto se esperavam mais informações do rumoroso evento, as ações derretiam no pregão do dia 12 da B3, caindo quase 80%. A Comissão de Valores Mobiliários soltou nota afirmando que “está adotando todas as providências cabíveis para o adequado e cuidadoso esclarecimento de todos os atos, fatos e eventos com relação ao caso em epígrafe, com a abertura de processos administrativos em diferentes superintendências e áreas de atuação da Autarquia, inclusive, mas não apenas, os seguintes procedimentos – sem prejuízo de outros que venham a ser, posteriormente, instaurados no âmbito das apurações…” (Veja a íntegra: https://www.gov.br/cvm/pt-br/assuntos/noticias/informacoes-relativas-a-companhia-aberta-americanas-s-a-e-os-seus-desdobramentos). Não demorou e se descobriu (no caso, o público em geral) que a PwC é quem audita os balanços da Americanas. Procurada, a big four disse que não comenta balanços auditados.

Na Carta aos acionistas, Guerses assinala que “ao longo da quinta-feira (12), acompanhando as informações que circulavam, passamos a nos preocupar com todo o mercado e uma possível contaminação que julgamos ser preocupante a todos vocês”. E depois de chamar a atenção do investidor para o efeito manada (bastante conhecido do mercado), pontuou: ”Em nossa opinião, a divulgação de um Fato Relevante já deveria vir acompanhado de explicação objetiva e incontestável frente à ótica contábil e jurídica. O que estamos vendo no espelho é a dúvida quanto aos números informados e anos de gastos da companhia agora para justificar o fato, ao qual se jogou no mercado”.

Mas nada era tão ruim que não pudesse ficar pior. Na esteira dos acontecimentos, o board da Americanas convocou um restrito grupo de 1.000 pessoas para uma live. (Importante: a companhia tem quase 150 mil acionistas…) Consta que pelo menos 3.500 pessoas ficaram de fora, aguardando uma brecha para participar da conversa com Rial, o que não aconteceu porque a plataforma não comportou. Ato contínuo, a Associação dos Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec) soltou nota em que afirma, de forma taxativa: “…Questões como transparência e equidade de informações sempre estiveram na pauta da Apimec Brasil como pontos relevantes para o fortalecimento do Mercado de Capitais brasileiro. Neste sentido, e principalmente em situações atípicas, esclarecer o público abertamente sobre esses fatos, permitindo que a informação chegue de forma ágil e igualitária, é princípio básico a ser atingido. Não é exatamente pela questão tratada no Fato Relevante, que está muito carente de clarificação, mas a maneira como as informações fluíram, ou a falta delas, já impactaram fortemente os preços das ações da companhia e o mercado como um todo. Resultado também das dúvidas que trazem o tratamento de informações desiguais, prejudicando os investidores em geral.
A realização de uma reunião de forma restrita a um pequeno grupo para falar com o Mercado, é completamente inadequado e prejudicial aos princípios da equidade, o qual tanto prezamos…” E conclui: “Esperamos que os esclarecimentos sobre o que realmente ocorreu e sobre as possíveis consequências, venha de forma rápida, e que todos os responsáveis sejam cobrados, o mais rápido possível”.

Enquanto as especulações corriam soltas – como já era de se esperar – a 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro era acionada e, por meio do juiz Paulo Assed, foi concedida uma medida de tutela de urgência cautelar contra o vencimento antecipado de dívidas. Tal decisão é uma espécie de salvo conduto provisório para que a companhia enfrente a crise, sem que seus credores possam antecipar a cobrança de dívidas. Com isto, a AMER3 terá um mês para preparar um pedido de Recuperação Judicial, o que não está descartado (condição que a afastaria da composição do Ibovespa, principal índice da B3).

Calculadoras à parte – indicando que a companhia precisará de uns 19 ou 20 BI de reais para consertar o estrago e que a captação se daria via emissão de novas ações – a informação de que a estrovenga alcance o valor de R$ 40 BI não é de toda desprezível, por ora. De qualquer forma, uma solução passará pelo chamado 3G (Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles que, juntos, têm 31% do capital social da Americanas e indicaram Sergio Rial para o comando da companhia). “Nós já assistimos a esse filme, cujo roteiro levou à transferência de controle”, diz um experiente investidor que prefere não se identificar, referindo-se ao caso da Sadia / Perdigão. No entendimento dele, é bem possível que surjam conversas (se é que já não começaram, mas ainda não vieram a público) entre governo federal, BNDES, Roberto Fulcherberguer (CEO da Via Varejo) e Luiza Trajano (fundadora do Magazine Luiza). “O governo não deixará a Americanas quebrar, pois existem muitos empregos em jogo, além de uma extensa cadeia de negócios, que não poderia ser contaminada”, completa a fonte ouvida pela coluna. Atualmente a companhia tem 43 mil colaboradores, 1.700 lojas em todo o país e quase 150 mil investidores, além de uma cadeia enorme de fornecedores.  

“Fizeram tudo errado, jogando uma bomba no mercado e não explicando nada depois”, indigna-se Gustavo Guerses, do Portal Acionista. Para ele, a falta de acerto no episódio “destruiu a imagem da empresa e pode contaminar outros negócios, assim como as agências de rating”, desabafa. Opinião compartilhada por Tatiana Maia Lins, fundadora da Makemake – a Casa da Reputação e professora de Relações com o Mercado e Investidores da ESPM. Em seu entendimento, a reação do mercado aos últimos acontecimentos envolvendo a Americanas “já era esperada por quem acompanha relatórios sobre intangíveis”. E justifica: “Estudos da Ocean Tomo realizados em 2020 indicam que 90% do valor de mercado de empresas da lista S&P500 podem vir de seus ativos intangíveis. Entre os intangíveis está a reputação, que para as Lojas Americanas foi fortemente ferida com este caso”. E continua: “Tem boa reputação quem cumpre com as expectativas de seus stakeholders. A suspeita de má fé viola a expectativa de transparência, de verdade e de boa governança, com impacto direto para a confiança das pessoas. Não à toa, os papéis da companhia foram reclassificados como ´extremamente especulativos`, ou seja, com grande risco de calote pelas agências de classificação de risco Fitch Ratings e Standard & Poor’s (S&P) na sexta-feira. Para conter a crise, a empresa criou um Comitê Independente para averiguar a situação, suspendeu a sua participação no BBB23 para focar suas energias na solução do problema e evitar mais ruído na mídia e há a possibilidade de cobertura do rombo por seus acionistas de referência”.

E o que esperar do futuro? Tatiana responde: “Mesmo que os papéis voltem a valorizar e a questão financeira seja resolvida em um futuro próximo, esta crise na Americanas mancha a sua história (sendo lembrada por muitos e muitos anos) e impacta não apenas a companhia, mas todas as demais empresas com o mesmo tipo de risco. Impacta também a reputação das auditorias externas e da categoria Novo Mercado. A pergunta que fica agora é como empresas do Novo Mercado, com informações financeiras auditadas, continuam passando por problemas como estes em plena era ESG? Já passou da hora de criarmos mecanismos de controle mais confiáveis. Ninguém quer ver a temporada 2 ou 3 da série Bônus Inflados e Especulação”.

Pra quem ficou de cabeça quente – e com o bolso gelado – com este case, uma sugestão de filme para aliviar tensões: Bekas e o Sonho Americano, que trata da história de dois garotos curdos decididos viajar à América do Norte, em lombo de mula, para conhecer o Super Homem e pedir-lhe para que os ajudem e castigue todos aqueles que foram ruins para eles.

LUPA

A sexta, 13, foi um bom dia para a Lupatech. É que a companhia (LUPA3) pediu recuperação em 2016 e na última sexta-feira encerrou esta situação.  

“Através da recuperação judicial nós não apenas reduzimos o endividamento da companhia a uma pequena fração do que era, mas também reorganizamos toda a operação e o portfólio de produtos”, destacou Rafael Gorenstein, CEO da empresa que fabrica válvulas, produtos em fibras sintéticas de alta performance e outros destinados ao segmento de energia.

GOVERNANÇA

E por falar em governança, tantas vezes atropelada por pilotos de fuga, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) lembra que existe uma minuta do “Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa” em audiência pública.

Prazo para sugestões vai até 31 deste mês, pelo link https://www.ibgc.org.br/destaques/audiencia-publica.

CYBER SEGURANÇA

A Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca) lança e-book sobre Cyber Segurança, alertando que esta não é mais uma questão meramente técnica, mas algo que deva ser enfrentando por toda a companhia.

Confira:

https://d335luupugsy2.cloudfront.net/cms%2Ffiles%2F83935%2F1673467240SIACIA__Abrasca_Revista_vs03.pdf?utm_campaign=sc_especial_cyber_seguranca_cinc&utm_medium=email&utm_source=RD+Station

QUALIDADE

Em nota, a Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca) lamenta o anúncio do retorno do Voto de Qualidade no Conselho Administrativo de Recurso Fiscais (Carf).

De acordo com a associação, “já existe uma maioria em favor da constitucionalidade do dispositivo alterado pela MP no STF, ainda que provisoriamente”. E sublinha: “Não parece existir urgência que justifique a edição de uma Medida Provisória ou sequer evidências que embasem essa proposta”.

Para a entidade, que representa mais de 80% do valor das companhias listadas em bolsa, a retomada deste voto “irá mais provavelmente ter um efeito de aumentar o contencioso, ao contrário do prometido pela medida”.

AMBIENTAL

O novo governo publicou, logo no primeiro dia de mandato, nove decretos que revogam medidas da antiga gestão e que iniciam ou retomam políticas ambientais, visando posicionar o Brasil como uma figura ativa nas discussões ambientais internacionais, especialmente quanto ao combate às mudanças climáticas e de proteção à biodiversidade. “Através dos novos atos, foram reativados os Fundos Ambientais, como o Fundo Amazônia e o Fundo Nacional do Meio Ambiente, além do reestabelecimento e da criação de órgãos que incentivam a efetiva aplicação de políticas públicas mais sustentáveis. Isso demonstra que a pauta ambiental estará entre as principais desse governo dentro dos próximos anos”, afirma Mauricio Pellegrino de Souza, sócio do Cescon Barrieu Advogados na área ambiental.

O escritório se debruçou sobre a questão ambiental e fez uma boa análise do quadro. Em razão do volume de notícias desta semana, deixaremos os destaques apontados pelo Cescon Barrieu para a próxima coluna.

COP30

Belém é a cidade brasileira escolhida como candidata oficial do país para sediar a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) em 2025. A informação foi transmitida por Helder Barbalho, governador do Pará e presidente do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal (CAL), colegiado formado por nove estados que reúne mais de 29 milhões de pessoas.

Logo após reunião com o presidente da República, no dia 11, Barbalho disse que o pleito seguiu para o Itamaraty, tornando-o oficial.

DIVERSIDADE

A pauta da diversidade e inclusão é cada vez mais presente no universo corporativo e isto pode ser atestado pela “2ª Edição da Pesquisa Benchmarking: Panorama das Estratégias de Diversidade no Brasil 2022 e tendências para 2023”, realizada pela Blend Edu, principal HRtech e ESGtech especializada em diversidade e inclusão do Brasil. 

Aplicada junto a 117 empresas brasileiras, que possuem programas de diversidade, de todos os portes e regiões do país, o levantamento constatou que 81% das corporações afirmam destinar recursos específicos para ações de D&I, contra os 67% relatados no ano de 2020. Outro dado importante é o aumento percentual de companhias que dizem possuir uma área específica e dedicada para a gestão da temática, avançando de 64% para 71% no mesmo período.

Para Thalita Gelenske, CEO da Blend Edu, o aumento no nível de estrutura interna, governança e recursos alocados para o fortalecimento dos programas de D&I é notícia animadora para o mercado corporativo. “A pesquisa mapeou corporações de 34 diferentes áreas, como tecnologia, indústrias, saúde, finanças, energia, entre outras. Ou seja, conseguimos uma amostra bem abrangente e significativa de organizações”, destaca.

RENT A CAR

Enquanto várias empresas se esforçam para incluir, tem locadora de automóvel – de grande porte – se esforçando para excluir. No ato do aluguel de um veículo, ao preencher uma ficha cadastral, a (o) interessada (o) precisa dizer se está dentro da faixa de 30 a 65 anos.

Se tiver menos de 30, ou mais de 65, o “sistema” cancela a reserva e não dá explicação.

ODS 3

O CEO da Farmax, Ronaldo Ribeiro, foi anunciado recentemente o mais novo porta-voz do programa Liderança com ImPacto, do Pacto Global da Organização das Nações Unidas no Brasil (ONU). A iniciativa tem o objetivo de atrair, engajar, sensibilizar e empoderar os líderes empresariais para acelerar a entrega dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), estabelecidos pela ONU, até 2030.

Ronaldo Ribeiro terá a missão de ser o porta-voz do ODS 3 – Saúde e Bem-Estar, que tem como meta assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades. 

ALIMENTOS

Existe um cálculo dando conta que o Brasil desperdiça 27 milhões de toneladas de alimentos por ano, sendo que 60% deles vêm do consumo no dia a dia das famílias. Isto coloca o país na 10º posição no ranking dos países que mais desperdiçam alimentos, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).

Com o objetivo de contribuir com a diminuição do desperdício, a foodtech brasileira, b4waste, conecta empresas com perdas de alimentos e outros produtos (por validade) a interessados em adquirir itens de supermercado por um preço mais acessível (acima de 50% de desconto). Em 16 meses de operação, a foodtech estima ter salvo 600 toneladas de alimentos de serem atiradas ao lixo.  

A empresa conquistou 35 mil clientes cadastrados e, até o momento, a plataforma já trouxe mais de R$2 milhões em economia para os consumidores. “Nossa ideia é transformar `lixo` em receita adicional, sem risco ou qualquer tipo de investimento para os varejistas”, explica Luciano Kleimam, CEO da b4waste, presente em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

ÃGUA

O CIESP Campinas (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) lembra que entre seus órgãos existe a Câmara Técnica de Uso e Conservação de Água na Indústria (CT-Indústria), cuja função é discutir boas práticas de uso da água, trocar ideias e buscar por auxílio na gestão de crises. O CIESP Campinas faz parte do Comitê das Bacias Piracicaba, Capivari e Jundiaí (CBH-PCJ) que cuida da gestão dos recursos hídricos dessas bacias, atua junto ao poder público e na tomada de decisões. 

Interessados devem preencher formulário, acessando o link  https://cutt.ly/ZcGJY6x.

CIMENTO

O setor de cimento apresentou retração de 2,8% nas vendas, no ano de 2022, em relação a 2021. Os cálculos são do Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC), mostrando que foram comercializadas 63,1 milhões de toneladas no período.

A taxa de juros, encarecendo o financiamento imobiliário, é a vilã apontada pelo desempenho negativo.

LA NIÑA

A Argentina, que não anda em uma fase econômica das melhores, sofre os efeitos do fenômeno climático La Niña. A seca impingida ao país vizinho levará ao prejuízo das safras de milho e soja, que encolherão em 25%. Como a Argentina é grande produtora de grãos, o mercado internacional de commodities será afetado.   

O Rio Grande do Sul, igualmente situado na região dos pampas, também refaz os cálculos da sua safra de grãos que, a priori, deveria apresentar alta.

SETORES

A Técnica – Assessoria de Mercado de Capitais destaca, em seu último boletim, que os setores com melhor perspectiva na Bolsa, no governo recém-empossado, são os de alimentos, construção civil, comércio, consumo, educação, turismo, siderurgia e exportador.

HOMENAGEM

Ao completar 25 anos, o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri) promoveu jantar no final do ano passado, no Rio. Na oportunidade, homenageou um dos mais antigos profissionais do mercado de capitais nacional, Luiz Roberto dos Reis Cardoso. Este é um reconhecimento pelos 23 anos de serviços prestados somente para o Ibri. Parabéns ao decano.

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