Esta semana, tal como faço há várias décadas, dei um giro pelos mercados mundiais. Desta vez, encontrei muitas novidades: highs e lows de longo prazo, reversão de tendências.

Comecemos pela libra esterlina, que fez uma máxima desde fevereiro de 2022. A razão dessa alta é a sequência de aumentos da taxa básica de juros praticada pelo BoE (Bank of England – Banco Central da Inglaterra) para combater a inflação de dois dígitos, atingida em consequência das medidas dovish (expansionistas) provocadas pelo surto de Covid-19 no Reino Unido, medidas essas que agora estão sendo revertidas.

Como os mercados antecipam quase tudo, sempre trabalhando com cenários futuros, diversos índices de ações estão subindo fortemente, já contando com, no máximo, mais um ou dois aumentos de taxas de juros antes do início de um novo ciclo.

Nos Estados Unidos, o S&P500 está sendo negociado a 4.450, o maior nível desde abril do ano passado. Espera-se que o Federal Reserve Bank, através do FOMC (Federal Open Market Committee) faça mais duas elevações de 0,25%, antes do encerramento do atual ciclo que elevou as taxas de 0,00/0,25 para os atuais 5,00/5,25%, evidentemente que não contando com as duas altas ainda previstas.

Tudo indica que ainda este ano o S&P500 faça novas máximas de todos os tempos.

O mesmo acontece com o Industrial Dow Jones, no momento a 34.313, e com o Nasdaq, ambos sendo transacionados nos níveis de abril de 2022.

Suponho que os mercados acionários norte-americanos deverão partir para um bull market prolongado, independentemente do resultado das eleições presidenciais do ano que vem.

Vale lembrar que a Bolsa de Valores de Nova York não foi afetada nem pela vitória de Donald Trump sobre Hillary Clinton nem pela de Joe Biden sobre Trump. Lá, o mercado de ações é extremamente monetarista e se importa muito mais com as decisões do FED do que com as reviravoltas na política partidária.

Do outro lado do mundo, mais especificamente no Japão, a situação da renda variável é a mesma, só que com maior empuxo. O índice Nikkei da bolsa de Tóquio já está fazendo uma máxima histórica, em função do retorno de taxas de juros negativas, o que está ocorrendo com os títulos de dois anos.

Pulando para as commodities, o cacau continua com seu bull market intocado, alcançando máximas desde 2011. Vale lembrar, e já escrevi isso em outras ocasiões, que os ciclos do cacau, tanto nas lavouras como nos preços, são sempre de longo prazo.

Um mercado que está oferecendo boa oportunidade de bottom picker (caçador de fundos) ou bargain hunters (caçador de barganhas) é o de café, no momento cotado a US$ 1,3870 a libra peso na ICE, em Nova York.

Estamos no início do mês de julho, justamente quando podem ocorrer geadas nas plantações do Sul de Minas. Se elas acontecerem, uma fortuna pode ser feita da noite para o dia. Caso não ocorram, a perda não será muito grande, tão baixos estão os preços.

Uma commodity que decepcionou os especuladores, que estavam esperando uma seca no Meio-Oeste americano, foi o milho, no momento cotado ligeiramente abaixo de cinco dólares o bushel (27,216 kg), uma mínima de dois anos e meio.

No auge das expectativas (dos especuladores, é claro) de uma seca na região do Corn Belt (Cinturão do Milho), as chuvas chegaram para acabar com a festa, que ficou para os fazendeiros da região.

O mesmo que ocorreu com o milho, aconteceu com o algodão, cujos preços estão fazendo a mínima do ano.

Com exceção do cacau, definitivamente 2023 não está sendo o ano das commodities agrícolas. Só que no Brasil, como a safra está batendo recordes de todos os tempos, a quantidade produzida compensa os preços deprimidos.

Outros dois mercados, estes tupiniquins, estão merecendo atenção.

Durante dezenas de semanas o boletim Focus (publicado pelo Banco Central todas as segundas-feiras) previu o fechamento da cotação do dólar este ano por volta de R$ 5,20.

As expectativas foram cedendo, e as cotações também.

Agora acredito que a moeda americana ficará sendo negociada abaixo dos cinco reais, podendo até mesmo se aproximar dos R$ 4,50. Isso é ruim para as empresas exportadoras, mas bom para as expectativas de inflação.

Por falar em inflação, acho quase impossível que, na reunião do mês que vem, o COPOM (Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil) não baixe a taxa básica em 25 ou 50 pontos.

Vale salientar que no colegiado estão entrando dois integrantes escolhidos por Lula e aprovados pelo Senado, reforçando a bancada dovish.

Esse início (para mim é apenas o início) de um ciclo de baixa de taxas de juros deverá dar gás ao Ibovespa, ainda inibido pelos altíssimos juros reais praticados no Brasil.

Não duvido que até o final do ano (afinal de contas, o segundo semestre está apenas começando) a B3 faça novas máximas históricas, acima de 130.000 pontos.

Os gringos se anteciparam aos nacionais e já estão comprando lotes, ainda tímidos, de ações brasileiras. Logo os tupiniquins se juntarão a eles.

Um ótimo fim de semana para todos.

Ivan Sant’Anna

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