Chega uma hora que olhar para perto faz tão bem quanto projetar com base em um universo gigante. Parece que esse é o fio condutor dos gestores da Kinea para este mês, talvez para 2024 todo. Isso está bem claro na última carta deles. “Sentimos que, por vezes, ao focarmos muito no macro, esquecemos vários heróis micro e temáticos do nosso portfólio que muito contribuem para formação de retornos no longo prazo”, afirmam.
Assim como muitos outros relatórios de gestores, o foco está sempre no ativo mais importante do mundo que são as taxas de juros nos Estados Unidos, sendo essas balizadoras para praticamente todos os demais ativos financeiros do planeta. “Mesmo no Brasil, nossas taxas de juros e mercado acionário vivem à mercê de decisões tomadas ao norte do equador”, comentam os gestores da Kinea.
Inflação nos EUA
Eles defendem que qualquer banco central sabe que “não é capaz de influenciar a inflação corrente, mas sim a inflação doze meses à frente, e a convergência deve ser vista em um horizonte mais longo”. Isso porque a inflação corrente segue seu curso de queda, os juros reais, na verdade, segundo eles, se elevam na economia dos EUA, intensificando o aperto monetário e trazendo maior risco de perda da atividade. Outro fato importante, é que os dados norte-americanos desse início de ano certamente aumentaram os riscos inflacionários, tanto em razão de dados fortes no mercado de trabalho quanto por uma inflação mais disseminada.
“Nossa visão é que a atual pujança do mercado de trabalho deve mostrar sinais de arrefecimento no decorrer dos próximos meses, com queda na contratação de setores que hoje impulsionam esses números, particularmente saúde e educação”, afirmam os gestores.
Moedas: Posições compradas em moedas de países emergentes contra o dólar, incluindo o real, e aplicados em juros em diversas geografias, principalmente no Reino Unido e Austrália.
Tecnologia no holofote
Na Kinea, a maioria do resultado da carteira temática e micro veio do setor de tecnologia por duas exposições principais: primeiramente, comprados no setor de semicondutores, principalmente via TSMC, e um posicionamento long-short em megacaps (Magnificent 7) onde conseguimos selecionar os vencedores Microsoft, Meta, Nvidia e Amazon contra empresas de pior performance como Apple, Google e Tesla.
“O setor de semicondutores foi destaque nesse início de ano, não somente pela performance da Nvidia, que enquanto escrevíamos esta carta subia mais que 64% no ano, mas também o SMH, ETF de semicondutores, se encontrava +24% no ano.”
A 7 Magníficas
Para os gestores da Kinea, elas não estão mais se comportando como um grupo uníssono, havendo clara diferenciação no momento entre dois subgrupos: “”as que parecem se beneficiar mais das tendências de AI e os possíveis perdedores. A preferência no momento continua sendo a Microsoft (MSFT34), pela possibilidade de desenvolvimentos em aplicações práticas de IA, como o Copilot do pacote Office, além de sua participação na Open AI.
Recomendações BDRs: Meta (M1TA34); Microsoft (MSFT34); Moderna (M1RN34); TermFisher (TMOS34); Novo Nordisk (N1VO34); Broadcom (AVGO34); TSMC (TSMC34); John Deere (DEEC34); P&G (PGCO34);
Saúde
O setor de Healthcare sofreu bastante no período pós-Covid. Após um forte período de crescimento de lucros associado com vacinas e equipamentos, o setor amargou um difícil período que começa a se reverter desde o fim de 2023.
Recomendação ETFs: S&P (IVVB11)
Utilities e Bancos para o Brasil
O setor bancário, que amargou um longo período de aperto de crédito promovido pelos principais bancos, traz a possibilidade de uma reversão desse ciclo após a recente queda na inadimplência, combinado com um ambiente de juros mais baixos, conforme Kinea.
As principais indicações dos gestores são Banco do Brasil (BBAS3) e Itaú (ITUB4). Muito previsível, já que são os gigantes do setor. A explicação deles:O BB pela sua valuation muito descontada em um período favorável para lucros de bancos por expansão de carteira e queda de inadimplência, e também pela distribuição de resultados. E o Itaú apresenta posição bastante confortável de capital, com possibilidade de retornos aos acionistas, além de elevada lucratividade e excelente posição estratégica para essa fase do ciclo.
Sobre utilities, as principais posições se concentram em Eletrobrás (ELET3), Sabesp (SBSP3), Copel (CPLE6) e Equatorial (EQUTL3). “No caso da Sabesp, ainda vemos amplo potencial para expansão de lucros, investimentos e prêmio para a base de ativos”, comentam.
Recomendações Ações: ITUB4, BBAS3, BPAC11, SBSP3, ELET6, CPLE6, EQTL3, PRIO3, RRRP3, PETR4, IGTI11, ALOS3.
Commodities
Bovinos
“Estoques de bovinos nos Estados Unidos estão no ponto mais baixo desde 1951. A indústria pecuarista americana está vivenciando o maior ciclo de abates da história. Alguns fatores externos, como secas e quebras de safra em 2021, encareceram muito o custo do milho e soja – que são usados como proteína para o bezerro”, justificam os gestores para a baixa lucratividade do produtor em criar bezerros e logo, incentivou ainda mais abates de fêmea.
“A perspectiva atual é que o ciclo de retenção deve começar no segundo semestre de 2024. Contudo, a partir do momento que o produtor começa a reter as fêmeas, há um hiato de 2 anos para o rebanho aumentar, dado o período de gestação, amamentação e confinamento dos animais novos.”
Urânio
O metal energético teve apreciação substancial, acumulando uma alta de cerca de 80% nos últimos 12 meses. O atual déficit do mercado hoje força as geradoras nucleares a fechar um volume recorde de compras no mercado a termo, o maior em 10 anos, buscando garantir o combustível demandado para o futuro.
Segundo os gestores, apesar da significativa alta, levando o metal a preços acima de $100/lb, acredita-se que esse mercado ainda ofereça potencial de apreciação nos próximos meses. “A Kazatomprom, principal mineradora do mundo de urânio, reportou recentemente uma revisão em sua produção que deve representar uma queda de 10% na oferta global da commodity em 2024, e já alertou para possíveis revisões negativas da oferta para 2025.”