Enquanto o mundo tenta vencer a pandemia, empresas e o mercado avaliam como reativar a economia, abalada pelo coronavírus. Um dos debates que vinha crescendo antes da contaminação e passa a ganhar mais força é a formatação sustentável de modelos de negócios. Há, entre investidores, gestores de fundos e governantes de países desenvolvidos, a crença de que empresas que respeitem o meio ambiente, promovam ações sociais ou gerem energias sustentáveis deverão ser ainda mais reconhecidas. E, portanto, têm maior potencial de crescimento e geração de resultados aos investidores.
“Diversos países, com o apoio de suas autoridades e especialistas, avaliam, com razão, que a estratégia de recuperação pós-covid-19 deve incluir iniciativas sustentáveis”, avalia Davi Saadia, CEO da Go Solar, divisão fotovoltaica da Golden Distribuidora.
Este tipo de aplicação ganhou até uma sigla, ESG (que em inglês significa padrões ambientais, sociais e de governança). No mundo, o segmento já chega a US$ 31 trilhões, o que representa 36% dos ativos financeiros totais sob gestão, segundo o Global Sustainable Investment Alliance. Conforme a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), a categoria somou R$ 543,4 milhões no país, crescimento de 29% em relação ao mesmo mês de 2019.
No caso de países da Europa, por exemplo, o plano de recuperação econômica proposto pela Comissão Europeia inclui fontes renováveis como uma peça-chave no enfrentamento aos efeitos da pandemia da covid-19. Batizado de “Next Generation EU”, o programa tem como um dos pilares estratégicos a geração limpa de eletricidade, especialmente por meio das fontes solar e eólica. O plano viabilizaria 750 bilhões de euros para financiar investimentos em projetos de geração renovável, construções sustentáveis, redes 5G, requalificação de trabalhadores, entre outras iniciativas.
Este “Acordo Verde” busca impulsionar empregos e crescimento econômico, aliado à proteção ao meio ambiente, em vista de outro desafio que paira no horizonte: o aquecimento global.
“Diante deste cenário, o Brasil pode encontrar oportunidades preciosas em meio à crise, já que o país possui vastos recursos renováveis”, avalia Ronaldo Koloszuk é presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira da Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).
Para investidores que queiram participar desde mercado em expansão, uma das alternativas são os fundos que aplicam em empresas que comprovem sua responsabilidade social e ambiental – também conhecidos como fundos verdes ou fundos ambientais. Recentemente, a XP entrou no setor criando o Sustainable Wealth na XP Private. Também anunciou R$ 100 milhões para estimular novas gestoras independentes a desenvolverem estratégias ESG no Brasil. Sul América e JGP já disponibilizam cotas em fundos sustentáveis, e o BTG formata seus primeiros produtos. As taxas de administração variam de 0,4% a 2% ao ano.
Mesmo as fintechs, empresas financeiras digitais, passam a enxergar oportunidades neste segmento. É o caso da startup Warren, que lançou, no final do ano passado, o Warren Green. Além de observar o potencial e os fundamentos das companhias, o fundo filtra empresas que não tenham envolvimento em esquemas de corrupção e não estejam envolvidas em desastres ambientais. Fazem parte do portifólio companhias como Natura, Cielo, Lojas Renner, Tim e Americanas, além de BDRs como Tesla e Microsoft.
“As estratégias do investimento sustentável, no geral, não apenas se sustentam, mas superam o desempenho geral de seu universo”, avalia, em artigo, Jon Hale, diretor de sustentabilidade da Morningstart.
“Se você deseja adotar o investimento sustentável como sua filosofia de investimento, é provável que você encontre estratégias que atendam às suas expectativas de desempenho”, completa.