Nos últimos dois anos, inúmeras fintechs surgiram no mercado brasileiro concentrando-se nas região sudeste do País. As empresas de finanças tecnológicas atendem tanto pessoas jurídicas como físicas e muitas se especializaram por nichos de público. A maioria oferece serviços de pagamento, contas digitais, empréstimos e gestão financeira.

Com a chegada da pandemia, rapidamente se tornaram atrativas por oferecerem baixas taxas, prêmios e novas funcionalidades, além de processos com pouca burocracia.

Por algum tempo, pareciam inofensivas aos grandes bancos, mas já percebemos uma corrida dos dinossauros das finanças para se tornarem empresas digitais. Observamos sucessivos cortes de agências físicas, redução de pessoal, cortes nos preços dos serviços, pacotes atrativos e um amplo movimento para a popularização do público atendido.

A ElasBank é uma das fintechs que surgiu com a cultura da Economia Digital. O diferencial da fintech dirigida ao público feminino é a sua proposta de atuação na inclusão e na capacitação financeira de mulheres para promover a equidade de gênero. Como empresa feita para elas e com o propósito de empoderar outras mulheres, ElasBank acredita que a oferta especializada ao público feminino, combinada a estratégias de inclusão de gênero, vai ter um impacto econômico representativo na economia brasileira.

Hoje 30% da população Brasileira é desbancarizada e as mulheres são o grupo mais afetado pela exclusão bancária. Acredita-se que, quando mais de 90% da população brasileira estiver inserida e utilizando de forma eficiente o sistema financeiro, atingiremos o mesmo patamar dos países desenvolvidos quanto a inclusão financeira digital.

Segundo dados do Banco Mundial, a inclusão das mulheres nas finanças, até 2030, representaria um crescimento de 400 bilhões de reais no PIB brasileiro. Atualmente, o Brasil tem 22 milhões de pessoas desbancarizadas e há uma enorme desigualdade social gerada pelos mecanismos sociais de exclusão do gênero feminino nas finanças. 

Soma-se a este fato, as diferenças regionais que geram dificuldades específicas por região, as quais aumentam ainda mais a exclusão financeira. Os municípios do Norte e do Nordeste brasileiro, por exemplo, apresentam maior número de mulheres sem conta, devido à dificuldade de acesso a agências bancárias e à baixa taxa de alfabetização financeira digital.

Nessas regiões, as mulheres são maioria das donas de domicílio vivendo em sistemas unifamiliares e têm dificuldades para deixar seus filhos sozinhos e se deslocarem por distâncias, muitas vezes superiores a 10 km, para sacar os recursos do auxílio emergencial – um fator importante para a inclusão financeira, em época de pandemia. Em muitos municípios brasileiros não há agências ou caixas bancários e a taxa de digitalização é baixa,  levando a um ciclo perverso de perpetuação da pobreza.

Com as longas distâncias entre os centros comerciais, as mulheres se deslocam para vender seus produtos do trabalho manual em regiões mais comercializadas provocando um deslocamento do capital para centros mais urbanizados e o esvaziamento dos recursos nas regiões onde ele é gerado.

Enquanto algumas localidades se empobrecem, as grandes cidades enriquecem. A última pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban, 2020) apontou um crescimento de investimentos dos bancos em tecnologia por 48% em 2019, chegando a um orçamento total de R$ 24,6 bilhões ao ano.

Enxergamos uma forte tendência no uso dos meios digitais em relação aos serviços bancários: em abril de 2020, 74% das transações bancárias foram realizadas por meio de canais digitais conforme o relatório Febraban sobre “Tecnologia Bancária, 2020”. Além do fato que as transações bancárias cresceram 11% em 2019, observamos que as operações realizadas pelo Mobile Banking (via celular) tiveram um aumento ainda maior: 19%.

Mas, existe também um outro lado dessa tendência: em regiões com maior inclusão digital, há cada vez mais participação da população nas atividades financeiras, em detrimento das regiões menos urbanizadas, com menor inclusão digital.

Considerando a diversidade do País, os bancos digitais nascem com a dura tarefa de evitar a intensificação das diferenças regionais na alfabetização financeira digital e o crítico acirramento no déficit de acesso ao sistema bancário pelos mais pobres da região Norte e Nordeste do Brasil.

Se por um lado, o domínio das tecnologias da informação e comunicação torna-se cada vez mais necessário à sobrevivência no mundo atual, por outro é o maior obstáculo que enfrentaremos nos próximos anos, para o combate da desigualdade e da pobreza. A digitalização das mulheres é, portanto, uma condição para igualdade de gênero.

Dra. Vanise Goulart Zimmer, Presidente ElasBank

É Psicóloga e Empresária Social. Mestre em Psicologia Social e Doutora em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da USP (2008). É Especialista em Estudos de Gênero e Tecnologia pela Universidade Leibniz de Hannover na Alemanha. Atuou por anos como pesquisadora tendo a oportunidade de desenvolver o tema Cognição e Tomada de Decisão, em Finanças, gestão de portfólio, risco financeiro, relações de gênero, trabalho e tecnologia, interface e usabilidade de sistemas.

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