“Se esta tese se confirmar, os investidores brasileiros têm até 60 dias para adquirir títulos da dívida norte-americana com as taxas de juros mais atrativas.”

Volney Eyng – CEO e Fundador da Multiplike. Foto. Claudio Gatti / Divulgação

      A renda fixa dos EUA ganhou uma sobrevida com a provável postergação do corte de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano), conforme projeção do mercado financeiro acerca dos próximos passos da autoridade monetária. “A previsão inicial dava conta de que o Fed iria começar os cortes em março, depois mudou para maio e agora a expectativa é para junho”, explica o economista Volnei Eyng, CEO da Multiplike.

      “Caso essa tese se confirme [de início do ciclo de corte apenas em junho], significa dizer que o investidor brasileiro tem até 60 dias pela frente para comprar títulos da dívida norte-americana. Recorre a esse tipo de investimento quem busca proteção, mas, ao mesmo tempo, esse viés prejudica a bolsa brasileira, pois o dinheiro que iria para o mercado de capitais daqui acaba sendo direcionado para os EUA”, diz.

      “Porém, quando o Fed iniciar, de fato, o ciclo de corte, a renda fixa americana perderá a atratividade, e isso pode ocorrer até um mês antes, com o investidor se reposicionando no mercado. Inclusive, já foi precificado [pelo mercado financeiro] que o banco dos EUA irá promover três diminuições em sua taxa de juros, de 0,25%, respectivamente”, destaca.

Mas, o que é a renda fixa americana?

      O executivo explica que nos EUA um título de renda fixa é um instrumento financeiro que representa uma dívida emitida por uma entidade, seja ela o governo federal, governos estaduais ou municipais, empresas ou instituições financeiras. “Esses títulos são chamados de ‘fixed-income securities’ em inglês”, ressalta.

      Segundo ele, esses títulos pagam aos investidores juros regulares ao longo do tempo, com base em uma taxa de juros fixa ou variável determinada no momento da emissão. “Além dos juros periódicos, os títulos de renda fixa nos EUA também têm um valor nominal que é devolvido ao investidor no vencimento do título, o que o diferencia de ações, por exemplo, que não têm essa garantia de retorno do valor investido”, frisa.

      Eyng classifica os principais tipos de títulos de renda fixa nos EUA:

  • Treasuries: Títulos do Tesouro dos Estados Unidos, emitidos pelo governo federal. “Eles são considerados os investimentos mais seguros, pois são garantidos pelo governo dos EUA”.
  • Municipal Bonds (Muni Bonds): Títulos emitidos por governos estaduais e municipais para financiar projetos públicos, como construção de escolas, estradas e infraestrutura. “Muitas vezes, esses títulos oferecem isenção de impostos sobre os juros para os investidores”.
  • Corporate Bonds: Títulos emitidos por empresas para levantar capital. “Eles geralmente oferecem retornos mais altos do que Treasuries, mas também carregam um maior risco de inadimplência, dependendo da solidez financeira da empresa emissora”.
  • Mortgage-backed Securities (MBS): Títulos lastreados em hipotecas residenciais. “Eles são emitidos por agências governamentais como a Fannie Mae e Freddie Mac, ou por instituições financeiras privadas”.

O que mais o mercado observa?

      Os analistas do mercado financeiro, bem como os investidores, também estão atentos ao “quantitative easing”, aponta o economista, acrescentando que se trata de uma política monetária adotada por bancos centrais para estimular a economia. “O quantitative easing (QE), envolve a compra de ativos financeiros de longo prazo pelo banco central, como títulos do governo e hipotecas, com o objetivo de aumentar a quantidade de dinheiro em circulação e reduzir as taxas de juros de longo prazo”, informa.

      “A ideia por trás do quantitative easing é impulsionar o investimento, o consumo e o empréstimo, estimulando assim o crescimento econômico e ajudando a combater a deflação ou a recessão. Esse tipo de política foi amplamente utilizado por bancos centrais em todo o mundo após a crise financeira global de 2008, quando as taxas de juros convencionais já estavam próximas de zero e medidas adicionais foram necessárias para impulsionar a economia”, pontua.

      E conclui: “é importante notar que o quantitative easing é uma política monetária não convencional e envolve riscos, como o aumento da inflação ou a criação de bolhas de ativos. No entanto, quando usado com cautela e na medida certa, pode ser uma ferramenta eficaz para ajudar a estabilizar e impulsionar a economia em tempos de crise.”

      A fala do executivo tem a ver com os movimentos recentes de bancos centrais pelo mundo ajustando suas taxas de juros, na esteira do Fed, ou em vias de fazê-lo. Por conta disso, o investidor brasileiro que diversifica seu patrimônio, alocando ativos em outros países, precisa acompanhar a política econômica dessas nações. 

E os juros e inflação nos EUA?

      O CEO lembra que em dezembro o Fed decidiu, de forma unânime, manter as taxas de juros inalteradas. Segundo o comunicado divulgado após o encontro do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês), o intervalo das taxas permanece entre 5,25% e 5,5%.

      Já a taxa de inflação por lá, em comparação anual, diminuiu para 3,1% em janeiro, em comparação com os 3,4% registrados em dezembro. No entanto, essa queda foi menos acentuada do que o esperado. Economistas consultados pela Bloomberg previam que a inflação teria recuado para 2,9% no primeiro mês de 2024.

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